A exposição Movimento, localizada logo na entrada do Centro de Convenções da UFOP, nos transporta para dentro da vida de cada um dos indivíduos expostos ali através da arte da fotografia.
São negros, gordos, deficientes, gays, lésbicas, idosos, transexual posando em nu artístico segurando uma tarja com dizeres como forma de protesto, além de dizeres contra o preconceito sofrido por cada personagem. “Diga não ao preconceito”; “Gentileza”; “Cansei”; “Livre”; “Milite”; “Manifeste”, são exemplos do que estão nas fotos.
O artista plástico e idealizador da exposição João Pedro Zuccolotto, formou-se em publicidade em São Paulo no ano de 2013, onde aprendeu e se apaixonou pela fotografia. Retornando para Ribeirão Preto, começaram as manifestações contra o aumento da passagem do transporte público na capital. João não queria mais ficar assistindo as coisas pela mídia. Queria estar lá. Foi ai que começou a ideia da exposição. Ele percorreu as manifestações com um gravador entrevistando as pessoas ali presentes. “Eu queria ver de perto. Ficava naquela fissura de fotografar algo, de ajudar. Eu queria uma coisa mais visceral de cada um que estava ali, porque cada um tinha uma luta diferente. Tinha a marcha da vadia, da maconha”, revela.
“Qual é o motivo de você está aqui?”, “Qual é a sensação de você estar aqui?” e “Você já sofreu algum tipo de abuso?” eram as perguntas feitas por ele aos entrevistados. E assim, João foi angariando personagens com história para serem fotografados e estarem na exposição.
Além das fotos, o artista filmou as entrevistas que são passadas ao mesmo tempo que as fotos estão ali paradas. Além desse vídeo, têm outros de performances realizadas por ele como uma em Recife, na qual ele estava semi nu com um megafone e um estandarte:" Troça Cala Boca Quem Morreu", com as fotos montando o mapa da Brasil. “No recife bloco de carnaval não chama bloco, chama troça. Daí o nome”, conta Zuccolotto.
A exposição é interativa, tinteiro e carimbos estão pendurados no biombo, além de folhas em branco e canetas para que as pessoas possam se expressar. “A ideia é que as pessoas vejam esses instrumentos e entendam que possam carimbar e escrever; manifestar-se”, revela.
O projeto “Movimento” está em simbiose com o público. Transporta as pessoas para dentro das imagens, pois recria o mesmo ambiente no espaço expositivo. Incita as desmistificações de tabus e deixa no ar diversas reflexões.
Enquanto eu entrevistava João, um senhor passou e falava em voz alta “Tem que matar, castrar os estupradores. Nossa lei é arcaica, não resolve nada. É revoltante”. Essa foi a primeira reação desde que a exposição foi montada, levando em consideração que uma das fotos era uma mulher segurando a tarja escrita “estupro”.
Para João, a palavra resistência muito forte. “Minha exposição tem muito disso. É difícil ficar levando essa exposição pra cima e pra baixo, montando e desmontando desde 2013. Eu sempre me renovo. É toda uma questão de resistência minha de continuar levando tudo o que eu penso e o que está acontecendo para todos os lugares para onde vou”, desabafa.
De que lado você está? Movimente-se.
A exposição continua até o dia 21 desse mês. Confira!