O que significa de(s)colonizar nossos conhecimentos, nossa ciência, e o que fazemos com isso? Essa é a pergunta que permeia a VII Calourada Preta - Práticas e Epistemologias De(s)coloniais. Nesta edição, o evento que é organizado pelo Coletivo Negro Braima Mané traz como eixo central o racismo epistêmico presente dentro das universidades, o resgate de saberes e práticas e a resistência do povo preto nos espaços acadêmicos.
Com o tema "A presença de corpos negros na universidade: possibilidades de novas epistemologias", a mesa de abertura que aconteceu na noite desta segunda-feira (11), no Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS), contou com a participação da professora do ensino básico da rede pública e mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da UFOP, Luana Tolentino, e da poetisa, educadora e doutoranda em filosofia africana pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Katiúscia Ribeiro.
Ao fazerem críticas sobre a falta de representatividade negra nos espaços acadêmicos, as pesquisadoras citaram autoras como Sueli Carneiro, Bell Hooks, Marimba Ani e Frances Welsing. Ambas abordaram o conceito de epistemicídio, que é a aniquilação da cultura e do pensamento negro em nossa sociedade, e criticaram o modelo americano e eurocentrista enraizado na educação brasileira. "Nós temos que nos sentir encorajados a buscar uma nova forma de saber o conhecimento. Não podemos continuar nesse processo de silenciamento sobre tudo aquilo que não foi produzido pela Europa e pelos Estados Unidos. Devemos repensar esse lugar hegemônico e de privilégios que os brancos ocidentais ocupam dentro da universidade", alega Luana.
No decorrer da conversa, Katiúscia falou que o processo de construção da universidade deve ser pensado com base na pluriversalidade dos sujeitos e que, dessa forma, podemos resgatar saberes e práticas de povos silenciados, sobretudo o africano. Afirma, ainda, sua posição como pesquisadora negra dizendo que a universidade deve ser pensada como sendo um lugar de integração e fora dos eixos ocidentais vigentes. "É muito importante para nós, mulheres pretas, nos percebermos como intelectuais e sabermos que esse lugar também é nosso; um lugar de empoderamento e de construção da subjetividade do povo africano", afirma.
COLETIVO - O evento, que acontece até sexta (15), marca a volta do Coletivo Negro Braima Mané que estava com as atividades paradas há quase um ano. Para o estudante de História e membro do grupo, Thiago Borges, as atividades exercidas são uma forma de respiro dentro de um espaço que ainda não compreende a diversidade racial em nosso país. "Quando adentramos nesse ambiente universitário, que advém das cotas e das ações afirmativas, nós pluralizamos as perspectivas. Só que isso não acontece de forma fluida, há pessoas que ainda tentam conservar uma certa tradição intelectual, e uma das estratégias que o Coletivo entende como necessária é fazer com que elas tenham o mínimo de empatia para compreender outras perspectivas que precisam ganhar espaço aqui na universidade", ressalta.
Confira
aqui a programação completa.