A missão de cuidar, renovar e inovar a rotina pública

 

Esse trecho da tese apresentada por Alberto Guerreiro Ramos no processo de seleção para o Quadro Permanente do Departamento Administrativo do Serviço Público, em 1949, resume sua percepção a respeito do trabalho desenvolvido pelos profissionais alocados nas instituições públicas. Mais de setenta anos depois, a afirmação se mostra atual e nos permite fazer uma reflexão a respeito do momento contemporâneo e dos desafios que os servidores enfrentam sob diversas perspectivas, em especial no campo da educação superior.

 

O conhecimento e a capacidade de exercer a função são elementos verificados no ato de seleção dessas pessoas, que passam por crivos gerais e específicos, sejam elas docentes ou técnicos administrativos em educação. Os concursos públicos contam com provas, apresentações e testes que buscam selecionar pessoas que possam contribuir da melhor forma para a prestação dos serviços inerentes à Instituição. 

 

Mas não é só isso! Como ressaltado por Guerreiro Ramos, o servidor público precisa superar tradições nas formas de fazer e encontrar novas práticas mais alinhadas com o momento em que vivem. Esse processo contínuo é demandado pelas mudanças frequentes da sociedade, pelas novas perspectivas do conhecimento induzidas pela própria academia, pelos movimentos políticos e a consequente alteração dos fluxos de investimento, pelos impactos ao ambiente e à saúde etc.

 

Dentre esses desafios, podemos ressaltar a quebra da rotina causada pela pandemia da Covid-19, que alterou a lógica do ensino e de outras esferas do trabalho na Universidade. As relações humanas e o apoio recebido nos contatos pessoais ou até mesmo no olhar carinhoso passaram a ser mediados pela tecnologia. A frieza dos equipamentos guardou as angústias, as dúvidas, a ansiedade e o desejo de buscar soluções de forma articulada. Um tempo ainda nos separa do pleno retorno, mas temos que acreditar que encontraremos o caminho mais seguro para nos reencontrarmos.

 

Outro contratempo inesperado é causado pelas visões equivocadas sobre a ciência, nossa essência, e sobre a produção do conhecimento acadêmico. A produção científica, nos diversos campos do conhecimento, possui processos consolidados historicamente, que passam por constante revisão, dentro de parâmetros específicos. Essa manutenção e revisão não é automática e mecânica! Ela demanda o olhar atento de docentes e técnicos que, em seu dia a dia, transcendem o automatismo e encontram novas perspectivas.

 

Para além do texto, Alberto Guerreiro Ramos traz ainda outra questão a ser observada que demanda atenção especial no serviço público: era um homem negro que buscava a colocação profissional em um ambiente predominantemente ocupado por pessoas brancas. Naquele momento, completava apenas 60 anos da abolição da escravatura e as questões raciais se mantinham como determinantes na indicação dos lugares de acesso. Por seu conceito existencial, a Universidade precisa ser mantida, a cada dia, por e para toda a diversidade dos perfis que possuem conhecimentos técnicos e culturais, dos que desejam dar mais um passo na sua formação e dos que querem contribuir com a proposição de novas perspectivas. Por isso, as questões de racismo, misoginia, LGBTQfobia e outros preconceitos não são condizentes com esse ambiente múltiplo de produção e convivência.

 

Neste Dia do Servidor Público, desejamos que os afetos e a vontade de apoio estejam fortalecidos para os momentos conturbados que ainda vivemos. O cuidado do próximo será ainda mais necessário para a criação de novas rotinas e a preservação das condições de funcionamento presencial, com a devida segurança. Que a tradição nos acompanhe, sempre! Que a renovação nos mova, sempre! Que nosso convívio seja produtivo e diverso, sempre!

 

Parabéns pelo Dia do Servidor Público!

 

Cláudia Marliére – Reitora

Hermínio Nalini Junior – Vice-reitor