A 16ª edição do Encontro de Saberes, realizada no Centro de Artes e Convenções da UFOP, promoveu a mesa "Educação do Campo e Quilombola no Território dos Inconfidentes". O debate abordou os desafios e avanços na educação de populações tradicionais e comunidades rurais na região. A mesa reafirma o compromisso da Universidade com as comunidades locais e a importância de consolidar parcerias que promovam o fortalecimento da educação como ferramenta de justiça social e desenvolvimento sustentável.
Uma das participantes da mesa foi a professora Alexandra Campo, coordenadora do grupo Gira Campo, vinculado ao Departamento de Educação da UFOP. Ela enfatizou que a educação do campo enfrenta resistências desde a implementação das diretrizes estaduais, em 2015. "Iniciamos com formação para professores e conseguimos transformar práticas pedagógicas em diversas escolas", relatou. A professora também destacou a articulação com as comunidades atingidas da bacia do Rio Doce como um dos focos de atuação do grupo.
O mestrando da UFOP Jorge Lucas apresentou resultados preliminares de sua pesquisa sobre as dinâmicas populacionais e a oferta escolar em Mariana. Ele apontou uma redução de 18% nas matrículas em escolas do campo na última década, devido à migração provocada por desastres ambientais e pela falta de empregos no campo. "A oferta escolar vai além do número de matrículas; trata-se de garantir educação conectada à cultura e à realidade local", destacou.
José Maria Rosa, representante da Escola Família Agrícola (EFA) Paulo Freire, ressaltou os desafios enfrentados pelas EFAs, como o financiamento precário e a falta de reconhecimento. Ele também enfatizou a importância do modelo pedagógico dessas escolas, que alia teoria à pratica e prepara os jovens para uma vida sustentável no campo. "A educação do campo é para valorizar a família e defender o respeito ao outro", afirmou.
O Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi), representado pelo seu coordenador, o professor da UFOP Clézio Roberto Gonçalves, apresentou ações direcionadas à formação de professores e à promoção da igualdade racial. Entre as iniciativas destacadas estava o "Preparafro Abdias Nascimento", projeto que auxilia alunos negros e quilombolas na preparação para cursos de pós-graduação lato e stricto sensu sobre história e cultura afro-brasileira e indígena.
"Não basta que a população negra e quilombola entre na universidade, é preciso garantir sua permanência e criar condições para que avancem na carreira acadêmica", afirmou Clézio. Ele citou os eventos promovidos pelo Neabi, como o "Pensando Áfricas e suas Diásporas", que têm alcançado reconhecimento nacional e internacional por estimular o debate em torno da diversidade cultural e racial.
O representante da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão (Secadi) do Ministério da Educação (MEC), Evandro Medeiros, apresentou um histórico das políticas públicas direcionadas à educação do campo e destacou os retrocessos sofridos nos últimos anos. Segundo ele, é fundamental repensar conceitos como "urbano" e "rural" para garantir uma educação que respeite as singularidades culturais e econômicas dessas comunidades.
Evandro reforçou a importância de compreender a educação do campo como mais que um acesso formal: "É preciso que a educação reflita as existências, demandas e projetos dessas comunidades, valorizando os saberes, culturas e tecnologias".
A mesa também abordou questões estruturais, como a dificuldade de contratação de professores e o impacto das políticas públicas nos calendários e currículos das escolas do campo. A urgência de uma educação inclusiva e transformadora foi reforçada por todos os participantes, em alinhamento com os objetivos maiores do Encontro de Saberes.