O aluno do doutorado em Filosofia da Universidade Federal de Ouro Preto, Antônio Ismael da Silva Lima, coordena o Programa de Apoio à Pesquisa e Publicação Qualificada sobre Patrimônio e Memória dos Campos de Concentração Cearenses, ao lado de Mayk Lenno, doutorando em Memória Social e Patrimônio Cultural pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). A iniciativa busca discutir e valorizar a memória coletiva em torno dos campos de concentração construídos durante as grandes secas do início do século XX.
O projeto foi aprovado no 4º Edital Patrimônio Vivo, com apoio do Ministério da Cultura e da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, e é financiado pela Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB). A proposta, que tem curadoria do produtor cultural e professor do Instituto Federal do Ceará (IFCE) Aterlane Martins, reúne quinze pesquisadores de diferentes áreas e tem como base o estudo desenvolvido por Ismael em sua pesquisa de doutorado na Universidade, que investiga as relações entre memória, patrimônio e processos de esquecimento histórico.
Entre setembro e novembro, a iniciativa promoveu uma série de colóquios temáticos e, neste sábado (8), realiza o Seminário Memórias das Secas, no Centro Pastoral de Senador Pompeu (CE). Com o objetivo de revisitar criticamente as experiências vividas nos campos de concentração e compreender sua importância como lugares de memória, o seminário propõe um espaço de diálogo interdisciplinar entre academia e comunidade, fortalecendo a dimensão social da pesquisa e da preservação do patrimônio histórico. Além das mesas temáticas, o seminário conta com o lançamento do livro que reúne os textos produzidos pelos pesquisadores nesses últimos meses.
Segundo Ismael, o projeto surgiu diretamente de sua pesquisa de doutorado na UFOP. “Meu interesse pelos campos de concentração das secas vem sendo desenvolvido academicamente desde o mestrado. A partir dessa trajetória, percebi a necessidade de criar um espaço que estimulasse a produção científica e interdisciplinar sobre o tema”, explica.
MEMÓRIA E PATRIMÔNIO NORDESTINO - O pesquisador destaca ainda que o programa busca fortalecer a memória social e patrimonial do Nordeste, estimulando novas abordagens sobre um capítulo pouco discutido da história brasileira. “A ideia é não só revisitar o passado, mas entender como ele continua a ecoar nas comunidades e nas políticas públicas atuais”, comenta.
Ao abordar os campos de concentração como símbolos de resistência e dor coletiva, o projeto Memórias das Secas reafirma o papel da memória como instrumento de reconhecimento e transformação social, contribuindo para a reconstrução das narrativas sobre o povo nordestino e para a valorização de seu patrimônio cultural.
Com o seminário e a publicação do livro, o grupo espera ampliar o debate sobre os impactos das políticas de combate à seca e a preservação das memórias das populações atingidas. Para Ismael, “a pesquisa e o diálogo entre áreas são fundamentais para que a história desses campos não seja esquecida, mas reconhecida como parte da nossa formação cultural e social”, finaliza.