Comemorando dez anos de existência, o Grupo de Pesquisa em História, Ética e Política (GHEP), do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS), realizou na última semana, entre quarta (26) e sexta-feira (28), seu primeiro encontro. Nele, os participantes acompanharam lançamentos de livros, sarau, mesas de debate, palestras e minicursos, em uma programação extensa, que ocorreu de forma presencial e remota.
Com o tema "Universidade(s) Porvir", a abertura do evento aconteceu no antigo auditório do ICHS (sala G20), com a presença do professor coordenador do grupo, Marcelo de Mello Rangel, da doutoranda da UFOP Letícia Aparecida Maciel Vieira e da professora Helena Azevedo Paulo de Almeida, da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG). O Encontro foi organizado por alunos da pós-graduação em História da UFOP.
Matheus Silva Marciano, um dos organizadores, afirmou que a ideia do evento partiu da organização do primeiro livro do grupo, em 2022, pois os membros não se encontravam desde a pandemia. "É um compromisso acadêmico, com a disciplina, com as nossas ideias e, principalmente, com a educação pública de qualidade e com nossa comunidade", completou. Para a professora Helena "o evento vem com essa ideia de pensar essa universidade do nosso presente e a que queremos projetar para o futuro, tanto para nossos estudantes quanto para a comunidade".
Na quinta-feira (27), o Encontro seguiu com uma programação repleta de minicursos. Iury Belchior, doutorando em História, professor e pesquisador em Literatura, ofereceu, em conjunto com a professora Ana Paula Silva Santana, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), um minicurso sobre Machado de Assis. "A literatura dá forma às diversas temporalidades, ela nos ensina muito sobre nossa relação com o passado e também com o presente", afirmou Iury. À noite, os membros do grupo se reuniram para um Sarau marcado por afetos, poesia e poéticas sonoras. O evento proporcionou um espaço de expressão artística, onde estudantes e servidores puderam apresentar músicas, poemas e outras manifestações culturais, fortalecendo o vínculo entre os participantes e celebrando outras formas de pensar a história e os sujeitos.
Egresso da UFOP, Clayton José Ferreira, hoje professor da UEMG, foi um dos conferencistas que encerraram o evento na noite de sexta (28). O pesquisador reconhece que o grupo de pesquisa é um espaço formador que se estrutura a partir de pesquisas teóricas e historiográficas, mas também a partir dos afetos que se formam entre os participantes, importante para repensar as práticas docentes. Para ele, repensar essas práticas é uma maneira de sair do academicismo, tornando o trabalho mais delicado e empático diante do cânone eurocentrado ensinado em sala de aula. "Onde eu trabalho há um perfil de estudantes que trabalham o dia todo e só têm a noite para estudar. Por que não ser mais aberto a essas dificuldades e interesses e às pautas que dialogam com o mundo que eles vivenciam? O intuito é fazer uma teoria da história que tenha significado para eles", comentou Clayton.
Além de Clayton, outros convidados encerraram o encontro em uma conferência marcada por falas que convergiram na ideia das escritas de si, destacando como esse gesto permite que os sujeitos se reconheçam como agentes da sua própria história e pertencentes ao seu tempo. Thamara de Oliveira Rodrigues, professora da UEMG, afirmou que foi um encontro para celebrar. Ela, que estava presente na primeira reunião do grupo, avaliou o evento como positivo: "em tempo em que acadêmicos não leem seus próprios colegas, parar para celebrar e refletir sobre as próprias produções é muito rico e potente".
A mesa de encerramento terminou com a professora Ana Paula Silva Santana lendo um texto publicado em comemoração aos 45 anos do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) da Ufal. Ela relatou episódios de racismo vivenciados dentro do ambiente acadêmico e, ao final, reafirmou que é o senso de comunidade e os afetos compartilhados que tornam mais leve a experiência de habitar o tempo e os espaços universitários. Sua fala emocionou muitas pessoas presentes, encerrando o encontro em um clima de reflexão e acolhimento.
NOVAS PUBLICAÇÕES - Durante o Encontro, também houve o lançamento de diversos livros, ampliando o acesso à produção intelectual. Algumas das obras estão disponíveis gratuitamente, fortalecendo a difusão do conhecimento e estimulando novas leituras. Entre elas, destacam-se "
Tecer o tempo: história, justiça e melancolia", livro que comemora os dez anos do GHEP, "
Melancolia & Felicidade: a estrutura temporal dos afetos", do professor Marcelo Rangel, e "
O que muda a terra: Brasil é terra indígena", da professora Helena Azevedo.
EDUCAÇÃO DEMOCRÁTICA - O GHEP se dedica a debater temáticas no campo da história sob a perspectiva do chamado giro ético-político, ou seja, com novas formas de pensar e agir sobre o conhecimento. A área de atuação do grupo compreende a historiografia, ensino de história, teoria da história, filosofia e ciências sociais. O GHEP é coordenado pelos professores Marcelo Rangel, André de Lemos Freixo e Luciano Magela Roza.
O grupo iniciou suas atividades em 2015, fortalecendo-se com o objetivo de estreitar os laços entre os pesquisadores por meio de uma escrita e pesquisa afetiva, humanizada e em favor de uma educação democrática no ensino superior e na pós-graduação. Seu compromisso tem sido promover a pesquisa científica dentro das ciências humanas, comprometida com a justiça social e histórica, em prol de uma sociedade mais afetuosa, acolhedora e democrática.
O professor Marcelo avalia a atuação do grupo como um espaço de transformação social. "Que a história possa ser ao mesmo tempo um espaço no qual possamos construir conhecimento sobre o passado, mas também que sejamos capazes de intervir mesmo no nosso ambiente mais próximo. O GHEP pretende, além de fazer história, ter uma função social e existencial", afirmou.
Apesar de situado na UFOP, o GHEP tem se tornado cada vez mais interinstitucional, uma vez que seus integrantes defenderam suas teses de doutorado e atualmente são pesquisadores e docentes em outras instituições. Ao longo dos dez anos do grupo, importantes parcerias foram firmadas entre pesquisadores da área e também com outros cursos.