Criado por Agliene Melquíades em qua, 27/04/2016 - 11:45 | Editado por Patrícia Pereira há 8 anos.
Participaram do debate o militante do movimento negro, filósofo e professor, Marcos Cardoso, o pró-reitor de Assuntos Comunitários e Estudantis (Prace), Rafael Magdalena, alunos da UFOP e de outras universidades. O debate ocorreu no primeiro dia do evento, no Icsa.
A necessidade de medidas institucionais, que, além do ingresso pelo sistema de cotas, criem também condições de assistência que possibilitem a permanência dentro no espaço, foi ressaltada pelos estudantes. O amplo diálogo para a tomada de decisões, principalmente de ordem econômica, que impactam a vida do aluno, também foi debatido.
Os discentes relataram o cotidiano dos cotistas, com enfoque para as cotas raciais, dentro da UFOP. As questões pautadas passaram pelo corte e burocracia enfrentada para ter acesso às bolsas de assistência estudantil, reformas nas repúblicas federias de Mariana, a urgência em se combater preconceitos, a dificuldade de atendimento psicológico e a participação em questões orçamentárias da Universidade.
O pró-reitor de Assistência Comunitária e Estudantil, Rafael Magdalena, informou que a alocação de recursos oriundos do Plano Nacional de Assistência Estudantil, Pnaes, para uso exclusivo do eixo de assistência prioritária (moradia, transporte, saúde), está em discussão no Plano de Desenvolvimento Institucional da UFOP (PDI).
O pró-reitor colocou as dificuldades enfrentadas com os cortes do governo no orçamento da Universidade em 2015, e frisou a importância de mecanismos de avaliação da assistência estudantil que identifiquem os motivos e diminuam o índice de evasão. “São muitos os desafios que queremos discutir e construir no PDI. Os coletivos (movimentos de alunos da Universidade) trarão as demandas dessa nova comunidade. O Plano precisa da participação de todos os estudantes, para elaborar a politica de educação estudantil que discute a atual política, e pensar o que a Instituição deseja”, assinalou.
Para o estudante de Serviço Social da UFOP, Filipe Souza Coelho, “precisamos nos posicionar enquanto universidade. Quando a população negra não está nas estatísticas, está fugindo dela. Aquela que consegue entrar, não permanece dentro da universidade. Necessitamos de um projeto de universidade em que a voz das negras e dos negros que construíram este pais sejam ouvidas”, defendeu.
As cotas e o epistemicídio
O militante do movimento negro, Marcos Cardoso, apontou para o olhar eurocêntrico ainda presente nas instituições de ensino superior, de maneira a inviabilizar o conhecimento de outros povos, causando o epistemicídio ou exclusão de formas de conhecimentos distintas da estabelecida. “O eurocentrismo joga à margem da história todas as outras contribuições civilizatórias que outros povos legaram à humanidade, e esse eurocentrismo está na base da ciência produzida no Brasil”, comentou.
Marcos afirmou que um conhecimento que dialogue o saber dos povos é importante para compreender o papel das cotas dentro da universidade, como mecanismo para levar à instituição a representação multicultural e a diversidade étnico racial que constituem a identidade nacional. “Por que esse sujeito negro que entra na universidade pública é considerado um estranho? É também um pouco da visão que a sociedade tem em relação à população negra no Brasil, uma população transplantada na condição de escravos para a produção da economia brasileira. A política de cotas acaba se configurando como uma descriminação positiva, ou seja, é uma forma de erradicar ou minimizar os efeitos perversos do racismo na sociedade brasileira a partir de uma política que discrimine positivamente”, completou.