O parque siderúrgico do país é composto por 29 usinas produtoras de aço. Segundo dados do Instituto Aço Brasil (IABR), juntas essas usinas foram as responsáveis pelo equivalente a 46,3% do aço consumido em todo o mundo na primeira metade da última década. No entanto, a cada tonelada de aço produzida por aqui são gerados cerca de 600 quilos de resíduos que, destinados a aterros industriais, configuram um grave problema ambiental.
Partindo deste cenário, a doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Laís Cristina Costa, trabalha no projeto "Durabilidade em concretos de escória de aciaria". Vinculada ao Grupo Reciclos-CNPq, a pesquisa tem como principal objetivo promover uma destinação técnica e ambientalmente adequada aos resíduos gerados pela siderurgia.
Como resultado, foram desenvolvidos blocos de concreto armado produzidos exclusivamente da escória de aciaria — principal derivada do processo de refino do aço — como agregados (miúdo e graúdo) e adição mineral (uma fração fina, similar ao cimento).
O novo produto é mais escuro e menos poroso que o concreto tradicional e garante, de acordo com a pesquisadora, a redução do consumo de recursos naturais não renováveis (como o minério de ferro e a areia), além de maior lucratividade às indústrias produtoras. Agora, porém, resta descobrir se o novo concreto é, também, mais resistente. Para isso, os pesquisadores estão avaliando a influência do meio ambiente na durabilidade do concreto da escória de aciaria nas praias de Guarapari, no litoral do Espírito Santo.
Para o "teste", foram distribuídos blocos em três zonas distintas de agressividade do mar: maré, respingo e spray. Na primeira, os blocos são parcialmente submersos, intensificando a degradação do concreto. Na segunda, os blocos são alocados à beira-mar, mas nunca submersos. Finalmente, na zona de spray (conhecida genericamente por maresia), os blocos são afetados apenas pelo cloro presente na atmosfera.
Para estabelecer um padrão comparativo que pudesse descrever a qualidade dos blocos produzidos com rejeitos do setor siderúrgico, os pesquisadores do Reciclos produziram também blocos de concretos convencionais, com areia de rio e brita de gnaisse.
A cada três meses, serão coletados dados de ambos os grupos de blocos durante o intervalo de três anos. As amostras serão submetidas posteriormente a ensaios acelerados para que se possa verificar a correlação entre a situação controlada em laboratório e as situações de exposição real.
A equipe é composta pelos pesquisadores Humberto Andrade, Juliana Fadini e Tainá Varela. Os resultados finais serão publicados em periódicos científicos internacionais e imediatamente compartilhados com a Secretaria de Meio Ambiente e Agricultura (Semag) para divulgação junto ao setor da construção civil de Guarapari.