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Economia e ano novo: como lidar com a crise e planejar 2022

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Ano novo, vida nova! Esse é um lema comum às vésperas de um novo ano, que junto com a elaboração de planos, guia os objetivos e metas de cada pessoa.  Para conversar sobre situação financeira em tempos de crise, dívidas, alta de preços e também sobre o planejamento de gastos para um 2022 mais equilibrado financeiramente, o "Em Discussão" desta semana traz o professor do Departamento de Economia (Deeco) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Héder Oliveira. 
 
Na entrevista, ele explica a atual crise na economia brasileira, o aumento da inflação e o consequente aumento de preços dos produtos. O professor discute também a influência da exportação e importação no atual cenário e os passos para quem deseja quitar débitos, equilibrar as contas e investir valores que conseguem ser poupados, ainda que com dificuldades. 
 
Professor, com a chegada de um novo ano, muitas famílias estabelecem novas metas com relação aos gastos. Que diferença o planejamento financeiro pode fazer para o equilíbrio financeiro das pessoas em 2022?
 
O ano de 2021 foi um pouco complicado e muitas pessoas acabaram se endividando, tendo descontrole das suas contas pessoais, criando muitas dívidas e até mesmo inadimplência. Para administrar financeiramente 2022 e evitar esses problemas, podemos pensar um pouco no planejamento financeiro pessoal. O que seria isso? Nada mais do que definir uma estratégia para tomar as decisões corretas a partir de uma determinada renda que você tem. Então seria basicamente organizar todas as ações financeiras: o que gastar, o que não gastar, quando gastar, para alcançar algumas metas financeiras estabelecidas, por exemplo, não terminar o ano de 2022 com dívidas ou inadimplente. O planejamento financeiro é uma forma muito interessante de equilibrar os gastos em 2022. Pensar nas metas é pensar no planejamento financeiro. É muito importante ter a consciência do bom planejamento, saber que naquele momento não é possível gastar mais do que é recebido, isso é ter educação financeira.
 
Como organizar o orçamento para passar um 2022 equilibrado financeiramente, atingindo os objetivos pessoais?
 
Para se organizar o mais importante é registrar tudo o que entra e sai durante aquele determinado mês ou aquela semana. Uma forma muito legal de controlar os gastos é anotar em um caderninho, como a gente diz, colocar tudo na ponta do lápis. Tudo que for saída ou entrada de dinheiro deve ser registrado. Para equilibrar os gastos e passar um 2022 tranquilo financeiramente é necessário fazer um bom controle financeiro pessoal registrando tudo o que entra e sai daquele ciclo que a gente tem de renda. Para quem gosta de Excel, as planilhas também podem ajudar da mesma forma que o caderno. Sobrou R$100 no mês, é preciso se perguntar "o que é mais importante para gastar com esse dinheiro?" e entender que algumas coisas podem ter que ficar de lado. Os aplicativos de gestão financeira também são uma opção, já que eles costumam avisar quando você se excede nos gastos. O objetivo principal dentro desse contexto de controle financeiro pessoal é criar uma forma de equilibrar os gastos e os ganhos para pagar as dívidas já criadas e não gerar mais dívidas. Uma vida equilibrada sem a preocupação de não ter dinheiro para quitar os débitos é muito mais tranquila, é um estresse a menos.
 
Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 74,6% das famílias brasileiras estão endividadas. Para quem tem emprego e uma renda de um salário mínimo pelo menos, é possível definir estratégias para sair das dívidas, evitar inadimplências e administrar melhor o dinheiro no próximo ano?
 
Para começar, é preciso ter em mente que é necessário saber o que é e o que não é importante para a vida de cada um em relação às questões financeiras. Então, por exemplo, manter a compra de um determinado produto é importante para mim, para minha casa e para minha família? Se sim, eu tenho que manter. Se eu tiver que manter, é possível substituir por algo mais barato? Se sim, então vamos tentar substituir por um mais barato. Os serviços como TV cabo, por exemplo, ou alguma outra atividade, é possível viver sem? Se sim, uma opção é retirar do orçamento até equilibrar as finanças. É possível fazer essa estratégia com uma renda de um salário mínimo, mas precisamos readequar a renda com o padrão de vida. É muito importante ter consciência de adaptar a renda, os ganhos e gastos ao modo de viver.
 
Qual o papel dos programas de renda mínima, como o auxílio emergencial, para impulsionar a economia e promover o sustento mínimo dos mais vulneráveis frente a uma crise sanitária como a pandemia da Covid-19?
 
Neste momento o programa de renda mínima tem um papel primordial. Com a pandemia houve uma redução da atividade econômica, até porque demoramos muito a ter o processo de vacinação — fica aqui um "vacine já!" —, e com a vacinação podemos perceber que houve uma redução muito grande da contaminação, casos e internações reduziram, ou seja, se tivéssemos o processo de vacinação bem antes, teríamos saído do lockdown muito mais rápido. Como demoramos, mais pessoas perderam emprego, o nível de pessoas que perderam a renda do trabalho aumentou muito, e com isso a pobreza, a inadimplência e muitas outras questões negativas relacionadas ao indivíduo e ao processo econômico.
 
Os programas de renda têm um fator muito importante que é dar um subsídio naquele momento de crise para aquele indivíduo. Lembrando que o programa de renda mínima não está sendo criado neste governo, já tinha sido criado antes por governos anteriores, como, por exemplo, o Bolsa Família. Se não capacitamos a população, essas pessoas sempre serão dependentes do governo para dar a renda mínima. Neste momento, os programas são importantes para que essas famílias que perderam os trabalhos e não encontram novos empregos pela grande problemática da crise econômica possam ter um alívio, mas obrigatoriamente deve haver uma política de capacitação e educação em conjunto. A população brasileira tem que entender que se qualificar é muito importante, é saber ser crítico, cobrar de quem está no governo. No geral, durante a crise, essa renda é importante para dar condições de sobrevivência, principalmente para os que foram mais afetados pela pandemia.
 
Como a desvalorização do real e o crescimento da inflação afetam a vida da população brasileira? Como as pessoas devem se comportar nesta situação?
 
Essas duas variáveis são chamadas, na Economia, de macroeconômicas. Primeiro, a desvalorização cambial é quando a nossa moeda vale menos que a moeda em outros países, então a gente compara nossa moeda real a duas moedas muito fortes no mundo: uma é o dólar, dos Estados Unidos, e a outra é o euro, da União Europeia. Quando a nossa moeda perde valor em relação a essas duas, nossa moeda está desvalorizada. A consequência principal é que nós perdemos poder de compra. Se minha moeda vale menos que a moeda estrangeira e quero comprar algo importado, vou precisar gastar mais reais para adquirir o produto ou serviço, então quando a nossa moeda está desvalorizada há um aumento do custo da importação. Em contrapartida, existe o aumento na exportação dos produtos brasileiros, porque compensa mais para os outros países.
 
A grande questão é quando a economia, como é o caso atualmente da economia brasileira, que está em crise, começa a exportar os produtos que tem, não tem como abastecer a própria economia e faltam produtos no país, aumentando o preço dos itens. Poderíamos comprar os produtos importados, mas, com a desvalorização do câmbio, quando compramos produtos estrangeiros estamos dando valor à economia de fora, dando apoio ao emprego dos outros países e desfavorecendo a criação de empregos aqui. Com relação à inflação, temos toda a problemática das crises energética e hídrica, da demora na resposta contra a Covid, gerando perda de emprego, perda de produção, influenciando a crise econômica. Isso é muito problemático principalmente para famílias mais carentes.
 
Para quem tem possibilidade de poupar dinheiro, quais as melhores opções de investimento atualmente?
 
Para aqueles que têm a chance de poupar e obter uma renda a partir do dinheiro guardado, existem algumas opções. A taxa Selic, que é a taxa básica de juros no Brasil, foi para o patamar de 9,25% e isso indica que provavelmente o rendimento da poupança vai aumentar, mesmo que não aumente muito, mas pelo menos é possível tentar repor as perdas da inflação. Se você conseguiu poupar, conseguiu fazer essa estratégia de controle financeiro, sobrou um dinheiro no final do mês, uma opção é manter esse dinheiro na própria poupança, porque vai render, ainda que pouco, um valor que vai corresponder a um ganho naquele período. 
 
Existem outras opções a curto prazo, como as Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e os Certificados de Depósitos Bancários (CDB), que têm um rendimento um pouco maior que as poupanças, e os Títulos de Tesouro Nacional, que podem render a curto e a longo prazo. O importante é que se você tem dinheiro guardado converse com o gerente do seu banco, da conta, pois de acordo com a especificidade de compra e do valor, ele pode dar dicas de qual a melhor opção para investir. 
 
EM DISCUSSÃO - Esta seção é ocupada por uma entrevista, no formato pingue-pongue, realizada com um integrante da comunidade ufopiana. O espaço tem a função de divulgar as temáticas em pauta no universo acadêmico e trazer o ponto de vista de especialistas sobre assuntos relevantes para a sociedade. 
 
Confira todas as entrevistas publicadas. 

 

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