Neste mês de janeiro, o Em Discussão trouxe representantes da gestão para apresentar as três principais vertentes de atuação da universidade pública brasileira: ensino, pesquisa e extensão. A série de entrevistas institucionais traz esta semana uma conversa com a pró-reitora de Graduação (Prograd) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Tânia Garbin.
A Prograd encontrou um grande desafio em 2020: trabalhar para que a UFOP fizesse a transição do ensino presencial para o remoto mantendo a qualidade das atividades de formação, pela qual a Universidade preza desde sua criação. O primeiro passo foi o Período Letivo Especial (PLE), que funcionou como um teste para a comunidade acadêmica. Para ser bem sucedida, a UFOP teve ainda que manter o treinamento constante do seu corpo docente, principalmente em relação às Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), que fazem parte do processo de ensino enquanto as atividades permanecem remotas.
A Universidade entra em 2022 com todos os estudantes em aula, enquanto gradualmente retoma as atividades presenciais. A previsão é de que, em março, 100% dos estudantes da graduação estejam de volta aos campi de Ouro Preto, Mariana e João Monlevade, o que traz novos desafios para garantir a segurança da comunidade acadêmica.
Professora Tânia, o que fica de aprendizado para docentes e estudantes em relação à experiência e às novas práticas de ensino depois de quase dois anos de aulas remotas?
A adoção do regime acadêmico remoto e, consequentemente, o desenvolvimento dos componentes curriculares dos cursos de graduação por meio remoto, não foi uma escolha institucional. Assim como o planeta não fez essa mesma escolha. De tal forma, os períodos letivos nos quais a UFOP esteve assim regida decorreram de uma necessidade alheia à nossa vontade. O principal aprendizado que pudemos tirar desta experiência está diretamente relacionado à necessidade de adaptação de algo que historicamente fizemos presencialmente por contatos e interações corpo a corpo, o que não é tarefa trivial. Trata-se de um desafio complexo, que exigiu muita preparação, por parte da gestão, dos docentes e dos discentes. Antes do início das atividades neste formato, foi necessário um diagnóstico preciso da situação em que se encontrava a comunidade acadêmica, especialmente os discentes, e o reconhecimento dos limites institucionais e pessoais de cada docente e técnico administrativo. Sendo assim, o principal aprendizado dessa experiência pode ter sido nutrido pelos atores diretamente envolvidos: a capacidade de adaptação ao novo cenário. Abrir mão de concepções e práticas incompatíveis com as exigências impostas de fora para dentro, que não foram por nós escolhidas.
Tanto estudantes quanto docentes precisaram rever as formas de interação e comunicação. Na Universidade, é possível avaliar se a tecnologia foi bem recebida entre eles, principalmente os mais velhos, já acostumados ao quadro e giz?
Ainda que seja surpreendente, a resposta de estudantes e professores quanto à interação com as TICs não se revelou problemática. O segmento estudantil, majoritariamente nativo digital, se adaptou com relativa facilidade, o que também foi observado em relação a boa parte dos docentes. Para este último segmento, fez-se necessária a realização de atividades de capacitação para o uso de algumas ferramentas e tecnologias e suas interfaces com os processos formativos. Sobre este aspecto, o Sala Aberta, programa da Prograd até então destinado a recém-admitidos, ganhou pujança e ampliou seu escopo de participantes. Voluntariamente, afluíram ao programa docentes novatos e experientes, todos ávidos por construir conhecimentos que pudessem ajudar no desenvolvimento dos seus componentes curriculares de forma remota. Por certo, algumas situações não foram unânimes, mas com diálogo e colaboração mútua algumas resistências pontuais foram superadas.
A Prograd realizou cursos de capacitação com professores para prepará-los para o ensino remoto. Quais diretrizes foram utilizadas e como foi organizado esse processo?
Conforme já mencionado, o ineditismo da conjuntura exigiu preparação. Neste sentido, a Prograd, por meio do Sala Aberta, articulou várias ações de capacitação destinadas aos docentes. Essas capacitações se orientaram numa perspectiva horizontalizada, por meio da qual muitos temas pautados vieram da base, assim como as próprias capacitações coordenadas por pares. Além disso, buscamos parcerias com setores, unidades acadêmicas, departamentos e servidores docentes e técnicos da UFOP, além de especialistas de outras instituições, o que contribuiu significativamente. Indiretamente, a experiência com o ensino remoto contribuiu para que o cumprimento de um objetivo estabelecido no Plano de Desenvolvimento Institucional pudesse ser cumprido. Objetivo este que previa a ampliação do uso das TICs nos cursos de graduação presenciais.
Mesmo que os estudantes voltem à Universidade em março, ainda haverá disciplinas remotas?
De acordo com decisão soberana do Conselho Universitário, por meio das Resoluções Cuni nº 2471 e 2472, o retorno das atividades acadêmicas, previsto para 15 de março de 2022, será 100% presencial. As únicas exceções serão para componentes curriculares cujos professores tenham algum tipo de comorbidade, que poderão ser desenvolvidos de forma remota.
Quais as perspectivas da migração do ensino remoto para o modo híbrido?
Não há previsão a este respeito, entretanto, face ao eventual recrudescimento da pandemia, o Conselho Universitário deverá avaliar o cenário e considerar a possibilidade de retornar ao regime remoto e/ou híbrido.
Depois de dois anos com os estudantes fora dos campi da UFOP, em março chegam alunos do 1º ao 4º período que ainda não conhecem a rotina presencial da Universidade. Como a Prograd está se preparando para recebê-los?
Este grupo mereceu atenção especial da Pró-Reitoria desde que as atividades acadêmicas presenciais tiveram que ser interrompidas por força da pandemia. Preocupou muito a Prograd o fato de que grande parte dos estudantes que ingressaram na UFOP no primeiro semestre letivo de 2020 sequer tiveram a oportunidade de entrar em uma sala de aula. A última convocação para confirmação de matrículas de parte destes estudantes se deu exatamente na semana em que as atividades foram abruptamente suspensas. Desde então, criamos o UFOP Acolhe, programa por meio do qual procuramos manter uma estreita articulação com esses estudantes. Tal iniciativa evoluiu para uma ação de integração, compartilhada com as unidades acadêmicas e cursos. Para a chegada destes estudantes em março de 2022, a Prograd buscará desenvolver ações de apresentação dos campi, em parceria com as unidades e cursos.
EM DISCUSSÃO - Esta seção é ocupada por uma entrevista, no formato pingue-pongue, realizada com um integrante da comunidade ufopiana. O espaço tem a função de divulgar as temáticas em pauta no universo acadêmico e trazer o ponto de vista de especialistas sobre assuntos relevantes para a sociedade.