Ouro Preto está sediando o encontro anual do United World Antiviral Research Network (UWARN), grupo de pesquisa internacional cujo foco consiste no estudo de descobertas virais, como a covid-19, e, principalmente, de arbovírus emergentes e reemergentes. Arbovírus são um tipo de vírus que pode ser transmitido ao ser humano por vetores artrópodes, como mosquitos, e causa algumas doenças bem conhecidas no Brasil, como a causada pelo Zika Vírus, a dengue e a febre chikungunya. O evento, que conta com apoio da UFOP e tem a presença de pesquisadores da Universidade, teve início nesta quarta (15) e vai até sexta (17).
Entre os organizadores está Luiz Alcântara, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), instituição parceira do UWARN. Graduado em Farmácia pela UFOP no início dos anos 1990, ele admitiu ser um prazer estar de volta a Ouro Preto e destacou que uma reunião científica internacional no município, com o auxílio de professores da Universidade, é uma forma de divulgar o trabalho que vem sendo feito pelo grupo e buscar colaborações. Luiz, inclusive, acredita que o evento pode impulsionar a criação de um curso na UFOP: "Que a gente possa, num futuro próximo, o mais próximo possível, fazer um curso para capacitação aqui, na área de análises de sequências de patógenos".
Antes da exposição dos trabalhos dos convidados, houve, na manhã desta quarta (15), uma curta cerimônia de abertura, em que, além de Luiz, estiveram presentes professores e pesquisadores, entre eles, Wesley Van Voorhis, da Universidade de Washington; Helena Franz, da Universidade Federal de Santa Catarina, integrante da Secretaria de Vigilância da Saúde; Ana Carla Pecego, do Controle e Prevenção de Doenças (CDC) do Brasil; Leandro Moreira, secretário de saúde de Ouro Preto; e Renata Guerra de Sá, pró-reitora de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação da UFOP.
Renata Guerra ressaltou a importância do trabalho coletivo e do encontro para a pesquisa desenvolvida na Universidade. "Colaborações globais são cruciais para o avanço das pesquisas e descoberta de soluções efetivas para prevenir futuros problemas. Que aprendamos uns com os outros, dividamos nossas experiências e trabalhemos em conjunto. Juntos, podemos fazer a diferença", pontuou.
Após a abertura do evento, houve apresentações dos pesquisadores parceiros, que debateram as pesquisas em andamento, os resultados obtidos nos estudos do grupo, as necessidades, desafios, além dos planos futuros para o projeto.
A pesquisa realizada pelo grupo busca desenvolver reagentes de diagnóstico inovadores, incluindo anticorpos neutralizantes humanos e proteínas projetadas que liberam luz quando anticorpos contra vírus estão presentes no sangue (tecnologia LOCKR da IPD). Também busca melhorar a compreensão de como os vírus manipulam o sistema imunológico humano, facilitando o desenvolvimento de melhores biomarcadores para prever doenças graves, além de terapias direcionadas ao hospedeiro, que poderiam melhorar os resultados de infecções virais.
Alexandre Reis, professor do Departamento de Ciências Biológicas, tem atuado como braço direito local para os organizadores do evento. O pesquisador, um dos mais influentes na área de imunologia no Brasil, vai expor ao grupo, nesta quinta-feira, algumas pesquisas desenvolvidas no Núcleo de Pesquisas em Ciências Biológicas (Nupeb). Junto dele, participam a pró-reitora Renata Guerra e Sérvio Ribeiro, também professor do Instituto de Ciências Exatas e Biológicas (Iceb).
Alexandre relatou a experiência com o treinamento a respeito do sequenciamento genômico de arbovírus que foi realizado no Nupeb. "Foi muito importante, porque esse treinamento foi dado para estudantes de diferentes partes do mundo. Nós estamos aqui com oito ou nove países, além de seis estudantes de pós-graduação do Nupeb. Foi utilizado um tipo de sequenciador chamado MinION e foi realizado sequenciamento com arbovírus de pacientes da região, em parceria com a Funed, através do Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen/MG)".
Além de estudantes da UFOP, também participaram do treinamento dois integrantes da Secretaria de Saúde de Ouro Preto que atuam na área de vigilância em doenças. Segundo Alexandre, eles puderam ter uma visão do valor do sequenciamento genômico de vírus que podem causar pandemias do tipo SARS-CoV ou mesmo vírus como chikungunya e dengue.
O pesquisador destacou a experiência dos laboratórios da UFOP no que diz respeito ao sequenciamento genômico. "Trata-se de uma área em que nós temos competência. Nós temos pesquisadores e cientistas dentro da Universidade que trabalham com sequenciamento genômico. Nós temos um laboratório de sequenciamento genômico dentro do Nupeb. Então, é de extremo interesse esse tipo de treinamento para estudantes, envolvendo, em conjunto, pessoas de outros países e pesquisadores, porque sempre há novidades nessa área. Por exemplo, são novas possibilidades de análise do genoma através de bioinformática, são avanços na própria tecnologia de sequenciamento", concluiu.
Quanto ao UWARN, Alexandre destacou a importância da rede para a capacitação de recursos humanos, tecnológicos e de infraestrutura. O grupo busca garantir que laboratórios e órgãos, como a Fiocruz ou o Ministério da Saúde, estejam aptos e atualizados para manter a vigilância genômica, evitar surtos de vírus e agir com rapidez.
A UWARN atua com doenças infecciosas virais emergentes realizando pesquisas por meio da parceria entre laboratórios no Brasil (Fiocruz), Paquistão (Aga Khan University), Senegal (IRESSEF), Taiwan (Chang Gung University), África do Sul (KRISP), Suíça (IRB) e Estados Unidos (University of Washington e Rockefeller University). Cada um desses países é representado no evento por pesquisadores dos respectivos laboratórios. Também estão presentes pesquisadores brasileiros de outras universidades do país.
O United World Antiviral Research Network será encerrado nesta sexta (17) com uma visita de todo o grupo às unidades e laboratórios do campus Morro do Cruzeiro.