Criado por Administrator em ter, 14/04/2015 - 15:04
Agliene Melquíades
O ICHS e o ICSA transformaram-se em espaços de representação democrática, em que as palavras universidade e coletividade foram ressignificadas. Com o tema "O corpo negro que incomoda", a II Calourada Preta foi realizada de terça a sexta da semana passada e ocupou as dependências dos institutos, as ruas do centro da cidade, e a Associação de Moradores do Bairro Cabanas. O evento foi um espaço para vivências, troca de experiências, discussões, rodas de conversa, oficinas, filmes e músicas da cultura afro. A ação foi organizada por moradores das repúblicas federais de Mariana e estudantes negros de diversos cursos da UFOP, com a colaboração do Neab e do Pibid/Afro.
Com uma vasta programação, a calourada não se limitou a um evento temporal. As atividades que ocorreram na última semana são os reflexos e o próprio impulso para o fortalecimento do Movimento Negro dentro da Universidade. Segundo organizadores, o tema "O corpo negro que incomoda" remete não só ao corpo físico, à musica e à dança afro, mas também ao incômodo que a posição do negro como protagonista, agente histórico e produtor de conhecimento pode gerar.
Mesmo com a inserção de cotistas por autoafirmação (racial) e social, e mais da metade da população brasileira já se declarar negra desde 2007, a Lei 10.639/2003, por exemplo, que torna obrigatório o ensino da cultura africana no Brasil, não é cumprida em muitas delas. Segundo estudantes que organizaram o evento, um dos pontos que mais incomodam é ir para a sala de aula e não se reconhecer no conteúdo apresentado e estar em contato com exemplos totalmente distintos à realidade. Eles também alegam que a maioria das vezes que são representados nos textos acadêmicos é sem a resistência e a produção de conhecimento e cultura que permeiam sua vida e luta, e atuam na formação da identidade.
Todas as atividades da calourada foram abertas e, além de convidados da região Sudeste e Nordeste do País, contaram com a participação de artistas regionais e do povo marianense. O evento proporcionou o fortalecimento de elos entre a Universidade e a comunidade com a qual ela divide espaço. "O fato de termos organizado a II Calourada Preta e trazer pessoas para discutir, por mais que elas não estejam envolvidas com o debate acadêmico, é justamente para mostrar que isso também é produzir conhecimento. O conhecimento desses indivíduos é importante para a Universidade se democratizar e ser aberta", assinala um dos organizadores.
O caráter emancipatório da Calourada Preta é fruto do Movimento Negro. Uma das próximas ações para o fortalecimento do movimento dentro do ambiente estudantil e junto à comunidade é a criação de um coletivo negro. Segundo a organização do movimento, o coletivo é um modo de prolongar as ações desenvolvidas e acolher tanto os estudantes da Universidade quanto a comunidade, de modo a unir os indivíduos em prol de uma luta comum. Os organizadores do evento reforçam também o engajamento e protagonização das mulheres negras na organização e no movimento.