Ana Elisa Siqueira
Pela primeira vez, a UFOP oferece o curso de Aperfeiçoamento sobre Histórias e Cultura Indígena na modalidade a distância, que vai atender, a princípio, aos polos de Ouro Preto, Araçuaí e Timóteo, em Minas Gerais, e Rio Branco, no Acre. As inscrições vão até terça (21/4).
"Estamos com muita expectativa que será uma experiência importante e terá vida longa nessa Instituição. Nós, aqui da UFOP, acabamos de acrescentar um 'I', de indígena, à sigla NEAB, e assim o Núcleo passa a se chamar Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas, o que significa que estamos mesmos dispostos a potencializar o trabalho com a temática em questão", ressalta a professora do Departamento de Educação da UFOP, Verônica Mendes Pereira.
De acordo com dados do Ministério da Educação (MEC), as universidades brasileiras possuem 6 mil estudantes indígenas. Verônica admite que desenvolver um trabalho que respeite as diferentes visões de mundo trazidas por esses povos às universidades é um desafio.
A pouca tolerância com relação à ideia de transformação ocorrida a esses povos ao longo desses séculos é outro obstáculo a ser superado. "Ainda é difícil para o senso comum admitir que os indígenas também se modificaram. Para avançar nessa concepção, é preciso partir do princípio de que os índios de hoje têm, sim, uma história contemporânea", argumenta Verônica.
A estudante de curso de Jornalismo da UFOP, Sarah Gonçalves Ferreira pesquisa a relação dos Maxakali com o território para seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). A estudante conta que seu estudo surgiu durante uma visita a tribo, "pude observar o território de desigualdade no qual os Maxakali estão inseridos. Uma fronteira geográfica com a cidade dos 'brancos' onde não existe lei, um povo de cultura nômade que hoje está em um espaço delimitado por 'brancos'".
O Censo Demográfico 2010 revelou que 896 mil pessoas se declaravam ou se consideravam indígenas, e dentre elas existem 305 etnias e 274 idiomas de povos originários. Sarah critica a visão dos brasileiros sobre a questão indígena, um exemplo é a existência de mais de dez etnias indígenas que falam o próprio idioma e buscam preservar a cultura do grupo no estado de Minas Gerais que passam despercebidos ao olhar dos demais brasileiros.
"Para maioria das pessoas, os índios, de cocar e pluma, só estão no norte do País. O ensino escolar precisa trabalhar a cultura indígena desde cedo para desmitificar as etnias e desconstruir o preconceito que sempre cercam a questão indígena."
Dia do Índio
Comemorado internacionalmente em 19 de abril, desde 1940, quando foi realizado o Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, na cidade de Patzcuaro no México, no Brasil, a data somente foi instituída em 1943, pelo Decreto-Lei nº 5.540, de 2 de junho daquele ano.
Atualmente existem diversas ações governamentais que visam preservar e difundir a história e a cultura dos povos indígenas, como as especificidades da Educação Escolar Indígena garantidas pela Constituição de 1988, que asseguram às comunidades indígenas o uso das línguas maternas e processos próprios de aprendizagem.
"Foi a partir dessa Constituição, que passamos a conviver com o reconhecimento e a manutenção da pluralidade étnica brasileira, superando o paradigma da assimilação/integração dos povos indígenas à sociedade nacional e a ideia de homogeneização presente, até então, no Brasil", assinala Verônica.
Além da educação básica, existem universidades brasileiras comprometidas com a causa indígena, como os Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros (Neab), espaço que traz para as universidades não só as temáticas afro-brasileiras, mas também as indígenas.