Criado por Priscilla Santos em qua, 08/03/2017 - 11:36 | Editado por Lígia Souza há 7 anos.
Na última terça (7), foi exibido no Cine Vila Rica o documentário "Precisamos falar do assédio", que foi seguido por um bate-papo sobre cultura do estupro, mediado por Nina Caetano, professora de Artes Cênicas e coordenadora do Núcleo de Investigações Feministas (Ninfeias).
O documentário, dirigido por Paula Sacchetta, conta as histórias de dezenas de mulheres que sofreram os mais diferentes tipos de abuso ao longo da vida. Para isso, uma van-estúdio foi colocada em diferentes locais de São Paulo e Rio de Janeiro. Enquanto davam seus relatos, elas ficavam sozinhas, sem qualquer contato com o entrevistador, e podiam ou não utilizar máscaras para preservar a identidade.
O longa traz relatos de ameaças de morte, estupros cometidos por irmãos, pais, primos e melhores amigos. Em uma das histórias, uma mulher é agredida pelo namorado, tem o nariz e três costelas quebradas e ouve que "lugar de mulher é sempre no chão. Nunca olhando de frente pra um homem, sempre olhando de baixo". As agressões, no entanto, não se restringem ao físico. O sentimento de culpa e impotência permeia as vidas das vítimas, gerando traumas que, por vezes, nunca se curam.
De acordo com Nina Caetano, "a cultura do estupro foi alicerçada na crença do homem de que somos suas propriedades". O bate-papo ocorreu a partir das histórias contadas no documentário e as opiniões de quem esteve no Cine Vila Rica. A hiperssexualização do corpo feminino também foi pauta, passando pelas diversas vezes em que a publicidade se apoiou nisso para vender um conceito de marca, até o desconforto das mulheres em usar determinada roupa por medo da reação do homem.
Todos os depoimentos coletados na van-estúdio do "Precisamos falar do assédio" estão na página oficial do documentário. Lá, qualquer mulher também pode gravar seu relato e fazer parte do projeto.
NÚMEROS - As estatísticas assustam. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 500 mil pessoas são estupradas anualmente no Brasil, sendo 89% do sexo feminino, e apenas 10% chegam ao conhecimento da polícia. De uma forma geral, em 70% dos casos os estupradores são parentes, amigos ou namorados das vítimas.
SEMANA - A exibição do documentário faz parte da programação da Semana de Arte, Luta e Resistência, que vai até o próximo sábado (11). O evento é idealizado pelo Ninfeias e aborda a temática "Mulheres em Re-Construção". Dentro da semana, há também oficinas, exposições, performances e rodas de conversa. Confira a programação completa.