O evento teve início nesta terça (10) e encerrou ontem (12). Ao longo dos três dias, foram realizados debates e atividades práticas.
Durantes as manhãs, foram realizadas atividades para crianças de escolas públicas de Mariana na brinquedoteca do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS). Dentre as ações realizadas, houve contação de histórias, brincadeiras e uma oficina de turbante. Estiveram presentes alunos da Escola Estadual Professora Santa Godoy, do Centro de Educação Municipal Padre Avelar e da Escola Municipal Paracatu de Baixo. Para o estudante de Pedagogia Luiz Basílio, “é muito importante que as redes municipal e estadual da cidade usufruam também do espaço da universidade e que haja um constante diálogo entre a educação básica e superior”.
A oficina “Meu crespo, nossa história: Pedagogia do cabelo” contou com atividades relacionadas à cultura africana e foi oferecida às crianças na quarta-feira (11). Os participantes descreveram reis e rainhas africanos através de desenhos e confecção de turbantes. “Eles não imaginavam que o turbante também fosse uma coroa”, conta a estudante de jornalismo Thaís Domingos, que ministrou a oficina. “Pra mim foi uma experiência incrível falar sobre nossa cultura de uma maneira que as crianças aprendam, entendam e partilhem isso com a gente. Foi uma oportunidade muito enriquecedora pra mim, que não tive esse contato quando criança”, conclui.
No mesmo dia, foi realizada a mesa “Referenciais teóricos e metodológicos de pesquisas com professores”, com a participação dos professores Nilzilene Imaculada Lucindo, Andressa Maris Rezende Oliveri, Hudney Alves Faria de Carvalho e Maria Cecília Pereira Soares. Outro debate teve como tema “Diversidade e Educação: reflexões sobre práticas inovadoras”, e centrou sua discussão na educação básica. Os convidados foram o doutorando Cláudio Marques da Silva Neto, diretor de uma escola pública em São Paulo referência pela UNESCO; as professoras Analise de Jesus da Silva, com mais de 30 anos de experiência na educação básica; e Elodia Lebourg, que coordena uma rede de professoras com práticas pedagógicas diferenciadas.
ENCERRAMENTO - Na quinta-feira (12) foi realizada a mesa de encerramento da I Semana de Ensino "Políticas afirmativas de acesso e permanência da população negra, da graduação aos concursos públicos: reflexões sobre as cotas raciais", com a participação da mestranda em Educação Adelina Barbosa, do pró-reitor adjunto de Graduação, Adilson Pereira dos Santos, e dos professores do Departamento de Educação, Erisvaldo Pereira dos Santos e Marcelo Donizette da Silva.
Os convidados debateram sobre o que são ações afirmativas e a importância de elas existirem.
"O Estado abandonou por muito tempo a escola pública, e os negros de baixa renda não tinham condições de ingressar na Universidade, e os poucos que entravam iam para os chamados cursos de menor prestígio", aponta Adilson sobre a democracia racial no Brasil.
Marcelo diz que muitos insistem em dizer que o país está livre de racismo, o que é, segundo ele, equivocado, e a prova disso está na pequena quantidade de alunos negros no ensino básico e superior e no incômodo, de alguns, que surgiu depois da existência da lei de cotas. Adelina, inclusive, apontou que todos que estavam na mesa são intelectuais negros e eles, com a pouca evolução na luta, — que precisa ser contínua — contra o racismo, "abriram caminhos para os negros estarem na Universidade".
A mestranda comentou também sobre a branquitude além da cor da pele, a autonomia das instituições públicas para lutar, através das políticas afirmativas, contra a desigualdade racial, incentivando a comunidade ao debate, escancarando o racismo. Mas Adelina também diz que a questão não pode ficar só no debate: é preciso, segundo a mestranda, participar do máximo de espaços possíveis e espaços que não sejam precarizados.
Walkiria Gabriele Elias da Costa, estudante de Pedagogia e membro do coletivo "Negro Braima Mané", compartilha do mesmo pensamento de Adelina. Apesar de ver a importância da Semana de Educação na hora de pensar em novas epistemologias, Walkíria diz que a mudança "depende de os estudantes que estão participando da Semana colocarem em prática o que está sendo trazido como teoria. Algumas políticas ficam somente no papel e isso [a mudança] depende do esforço coletivo, o que ainda é muito difícil".
O professor Erisvaldo apresentou as mesmas preocupações da estudante. Ele comentou sobre o pequeno avanço com as políticas públicas, mas aponta que isso não é o suficiente, já que a universidade tem caráter elitista e os professores devem pensar na epistemologia que oferecem. "A Universidade não foi pensada para nós [negros], e ainda não é, e por isso devemos pegar os textos mais difíceis e transformá-los em uma linguagem mais simples para todos. Isso é uma forma de resistência", afirma. Segundo o professor, escolher a carreira docente foi um ato político.