Nanette Blitz Konig, autora do livro "Eu sobrevivi ao Holocausto", lançado em 2015, ministrou a aula inaugural do segundo semestre de 2019 da Liga Acadêmica de Geriatria e Gerontologia (LIGG) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Nanette Konig tem 90 anos, reside em São Paulo desde 1950 e costuma dar palestras pelo Brasil, porém, por conta da idade avançada, participou do evento por meio de videoconferência.
Em 1944, a autora de "Eu sobrevivi ao Holocausto" foi prisioneira em Bergen-Belsen, campo de concentração conhecido como "campo de estrela", localizado na Holanda, e que não era necessariamente de extermínio, mas, segundo ela, era igualmente insuportável.
Renata Durães Vaz de Melo Barreto, aluna de Medicina e responsável pela organização do evento, entende que poder falar com ela é diferente de ver seus vídeos no youtube e, emocionada, diz que a aula foi uma oportunidade única. "Contar para a gente uma experiência que ela viveu contribui muito para a liga, nós temos muito o que aprender com os idosos, saber como eram as coisas no passado e como foi sua história de vida", analisa.
Nanette Konig demorou a se recuperar do trauma de ter sido vítima do Holocausto e, mais ainda, de ter sido a única da família a sobreviver, mas entende a importância de falar sobre sua experiência. Com um auditório lotado, Nanette lembrou a todos que em breve não haverá sobreviventes vivos e que os jovens precisam saber sobre tudo o que aconteceu para que não aconteça novamente e, caso aconteça, para que possam lutar contra.
"Ao chegar em Bergen-Belsen tivemos que andar para chegar ao ponto, o trajeto era acompanhado de cães treinados para atacar e matar (...) As condições eram tão deploráveis que os prisioneiros morriam de fome, doenças e maus tratos, o dia a dia era uma constante luta para sobreviver e as condições das famílias eram imundas e desconfortantes", enfatizou Nanette, mostrando-se ainda ressentida com tudo por que passou.
A palestrante falou sobre o contexto histórico da guerra, como era o cotidiano dos judeus e outros perseguidos, como ela e sua família foram capturadas, sobre o medo dos prisioneiros de morrerem a qualquer momento e a indignação pela forma como eram tratados, sobre cada dia que ela perdia mais um membro da família, sobre Anne Frank e, por fim, sobre o que aconteceu depois que a guerra acabou.
LIGA ACADÊMICA DE GERIATRIA E GERONTOLOGIA (LIGG) - Com reuniões quinzenais, o grupo de estudos tem membros de todos os cursos da área da saúde e do curso de Direito. A liga possibilita projetos de extensão e de pesquisa, idas a asilos e todo começo de período o grupo organiza aulas inaugurais com temas relacionados à geriatria e à gerontologia. Foi inicialmente organizada pelo professor Fausto Aloísio Pedrosa Pimenta, do Departamento de Medicina.
ANNE FRANK - Quando a Alemanha ocupou a Holanda os judeus passaram a ter uma rotina diferente. Alguns conseguiram sair do país, mas a maioria precisou se esconder, obedecer ao toque de recolher e os alunos judeus tinham de frequentar escolas separadas. Apesar de não demorarem a se separar por conta da perseguição judia, foi nessa ocasião, em outubro de 1941, que Nanette e Anne se tornaram amigas. Nanette conseguiu se aproximar no Campo de Concentração de Anne e sua irmã Margot, em janeiro de 1945, meses depois que as irmãs Frank foram capturadas, quando removeram os arames que as separavam. Nanette descreveu quão debilitada Anne estava e tudo o que a garota contou a ela, como sobre o esconderijo onde viveram e seu diário. "Jamais esquecerei do nosso emocionante encontro".