Com grande participação do corpo acadêmico da UFOP, o evento "A Noite das Ideias" foi marcado pelo debate em torno do tema "Futuro Ancestral" e pela celebração de uma ideia de futuro fundamentada em preceitos da ancestralidade, com inspiração na obra de mesmo nome do escritor, líder e filósofo indígena Ailton Krenak.
Mediada pelo professor do Departamento de Letras Clézio Gonçalves, a mesa-redonda foi composta também pelo professor de História Contemporânea da Universidade de La Rochelle (França) e líder de pesquisa em História do Brasil, Laurent Vidal, e pela bioquímica, administradora acadêmica e ex-ministra de Educação Superior, Pesquisa e Inovação da França, Frédérique Vidal. O encontro foi viabilizado pela união de forças da Embaixada da França no Brasil, da Aliança Francesa de Ouro Preto e da Universidade Federal de Ouro Preto.
O encontro aconteceu no Auditório G-20 do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS), que já havia recebido no início do período letivo uma palestra da deputada federal Duda Salabert, primeira mulher transgênero a ocupar esse cargo em Minas Gerais e candidata mais votada da história do Estado, e marcou o encerramento do semestre com mais uma ação de grande relevância para o desenvolvimento dos docentes.
O ambiente pulsante e os discursos vibrantes evidenciaram o anseio do corpo acadêmico por discussões relevantes. As falas do líder indígena abordaram questões latentes na história recente de Minas e Mariana. Com discurso de filósofo, mas também de morador e cidadão que sentiu os impactos das tragédias recentes, Krenak propôs reflexões sobre a maneira como o ser humano trata o corpo de seu membro familiar mais presente, a "mãe-Terra".
Para Krenak, somos ensinados a ver o planeta de uma maneira, e, mesmo na fase adulta, não há incentivos para recalibrarmos a forma como lidamos com a terra, as águas e a natureza como um todo. A matemática e as ciências exatas veem o planeta como um espaço a ser preenchido, usado e usurpado, sem preocupação e sem a compreensão de que se trata de um ser vivo.
O mediador, professor Clézio Gonçalves, ressaltou a importância do momento e a potência representativa das discussões ali propostas. Destacou a presença de representantes dos povos originários no corpo acadêmico da UFOP, e aproveitou para relembrar e celebrar o impacto de ações que, além de discutir, têm demarcado a relevância das minorias na construção e preenchimento de espaços, em especial daqueles que antes não eram seus por direito.
Para o professor, "o evento proporcionou a todos uma noite memorável, não só pelos encontros, mas também por possibilitar que todos saíssem dali modificados de alguma forma pelas discussões apresentadas pela mesa. O momento ressaltou a importância de temáticas como ancestralidade, estudos culturais, meio ambiente e outros".
Frédérique Vidal falou, em francês, sobre a importância de repensar e discutir novas formas de compreender a educação superior. Ressaltou que as ansiedades e preocupações sobre o futuro do planeta e da educação são inquietações normais no atual cenário do mundo, e que, com espaços e discussões como os propostos ali, é possível repensar novas formas de se fazer educação. A tradução simultânea foi feita pela professora Raissa Palma, da Alliança Francesa.
Apesar de acontecer no fim do período letivo, o evento contou com presença expressiva de alunos dos mais variados cursos da UFOP e até mesmo de outras instituições, que também participaram da discussão sobre realidades e futuros alternativos aos atualmente apresentados.
O professor Clézio, que integra o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi), ressalta que a presença dos estudantes comprova o interesse pela temática debatida no evento. "Estamos impactados com a presença de um público tão grande e plural, mas nós do Neabi sempre pudemos contar com a presença e o apoio de nossos alunos, eles nunca nos decepcionam, o que é um orgulho", afirma.