Vanessa Oliveira
Criado por Kaio Veloso em ter, 17/05/2022 - 13:52 | Editado por Elis Cristina há 1 ano.
A Mostra de Cinema Irlandês, que teve início na última sexta (13), faz parte das atividades em comemoração ao centenário do livro "Ulysses", de James Joyce, e busca aproximar o público do universo do escritor. O evento é organizado pela professora do Departamento de Letras da UFOP Maria Rita Drumond Viana, com apoio do Cine Vila Rica.
Na primeira noite, foi exibido o filme "The Dead" (1987), traduzido como "Os vivos e os mortos". Com direção de John Huston, o longa é uma adaptação cinematográfica do conto "Os Mortos", publicado por James Joyce em 1914, na coletânea "Dublinenses". O filme narra uma reunião familiar durante o natal e, ao longo da história, situações aparentemente corriqueiras ganham novas camadas de sentido, por exemplo as discussões sobre a Irlanda da época — explicou a professora Larissa Lagos, convidada do Departamento de Letras para comentar a obra.
Larissa conta que seu contato com a cultura irlandesa começou quando fazia o doutorado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde conheceu a professora Maria Rita, na época coordenadora do Núcleo de Estudos Irlandeses na instituição. Por sua vez, Rita teve contato com a área de estudos após sentir-se desafiada a mergulhar na obra do poeta irlandês William Butler Yeats em uma disciplina na época da graduação. Hoje, ambas são professoras do curso de Letras na UFOP, onde ministram aulas de literatura em língua inglesa.
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Vanessa Oliveira
As professoras Maria Rita e Larissa Lagos durante a estreia da Mostra
Além disso, a UFOP foi uma das universidades selecionadas pelo concurso cultural promovido pela Embaixada da Irlanda no Brasil, que visa a construção de um mural ilustrativo de um capítulo do livro centenário. Também está prevista uma visita do cônsul-geral da embaixada para o concurso, e a realização do Simpósio de Estudos Latino-Americanos de Estudos Irlandeses, que acontece durante o 2º semestre deste ano.
Na Universidade há duas disciplinas sendo ministradas, uma na graduação, focada em autores e obras do modernismo em língua inglesa, e uma na pós-graduação. Esta última é uma colaboração entre UFOP e UFSC, e conta com a participação de diferentes convidados, que a cada aula comentam um dos capítulos de "Ulysses".
Ambas as professoras comentam sobre a relevância de se estudar e celebrar a obra de Joyce e a produção cultural de língua inglesa fora do eixo Estados Unidos–Inglaterra. Larissa atribui à tradução um papel importante para a recepção dessas obras no Brasil. "O fato de eles serem irlandeses não faz com que sejam menos entendidos aqui", defende, antes de explicar como leituras que levam em conta questões sociais e históricas, além de estéticas, são importantes para localizar a obra e aproximá-la de outros países, culturas e contextos. Maria Rita complementa que "esses autores irlandeses encontraram muitos leitores aqui no Brasil. O português é a língua que mais tem traduções do Joyce, e eu acho que a gente vê isso como resultado desse processo. O Joyce é tão traduzido, ele é tão estudado por tanta gente, porque ele está falando alguma coisa pela qual as pessoas estão se interessando".
OS FILMES - Sobre a escolha dos filmes para a comemoração, Maria Rita explica haver uma lógica pensada a partir de gêneros: o primeiro é a adaptação de um conto; o segundo, a adaptação mais recente de "Ulysses"; enquanto o terceiro, que encerra a mostra, possui cunho biográfico. A escolha por realizar uma mostra de filmes ocorreu
devido a experiências anteriores da professora com eventos similares na UFSC e na USP, e ao seu contato prévio com o Cine Vila Rica.
Na mostra de sexta-feira, alunos de Letras e demais interessados se uniram para debater a obra. Larissa brincou sobre a existência do "multiverso" de Joyce, ao se referir à presença de certos personagens em diferentes livros do autor, e comentou escolhas da adaptação, processo que classifica como dotado de "perdas e ganhos", dada ainda a dificuldade de levar a obra do irlandês para o cinema. Um ponto levantado no debate foi o modo como os pensamentos do personagem foram adaptados — a solução encontrada foi recorrer à técnica de voice over. Ao questionar sobre outras maneiras de adaptar a obra de Joyce, uma participante foi gentilmente provocada por Maria Rita a retornar para a próxima exibição: "Porque nós vamos ver exatamente como o Sean [Walsh] faz isso no filme "Bloom". Como ele traduz os pulos do pensamento do personagem principal com outras técnicas que não sejam o voice over".
A Mostra de Cinema Irlandês continua em 20 e 27 de maio, com exibições dos filmes Bloom (2004) e Nora (2000), respectivamente, às 18h, no anexo do Museu da Inconfidência.
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