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Projeto acolhe testemunhos de violência de gênero sofridos no âmbito universitário

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Com: 
Letícia Lopes
"Na minha visão, o Brasil é fundado em uma série de negacionismos: negamos nossa história, nossa raça e nossas violências, que vão sendo mascaradas e enterradas. É por isso que não há qualquer incentivo para que a gente as enfrente, e é por isso precisamos de leis, políticas públicas e apoio institucional". A fala da professora do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) Karina Gomes Barbosa, uma das coordenadoras do Projeto Ariadnes, representa a importância e urgência da iniciativa.
 
Criado em abril de 2018, o projeto de extensão consiste na escuta empática e sensível de testemunhos de violência de gênero sofridos no ambiente universitário e na produção de relatos escritos e audiovisuais a partir dessas declarações. A ação é voltada para estudantes, servidores e servidoras, professores e professoras, e tem por objetivo promover espaços de escuta em que os sujeitos que tenham vivenciado essas violências possam expandir suas vozes de modo a serem auxiliados no processo de recuperação de seus traumas, além de conscientizar, dar visibilidade e combater as violências de gênero na Universidade. Tais violências englobam situações de machismo, homofobia, transfobia, assédio, estupro, entre outros tipos de agressões estruturais contra mulheres, comunidades LGBTQI+ e homens.
 
Karina explica que percebeu no projeto a oportunidade de aliar as questões da escuta, do testemunho e da reparação do trauma à problemática da violência de gênero. "A atuação do projeto direciona-se para a violência, tanto na questão do gênero quanto do trauma, já que o trauma é uma violência que advém de outra violência", declara.
 
Destaca, ainda, que muitas pessoas não têm ciência de que são violentadas, já que há uma visão muito primária da violência, associando-a com aquilo que deixa uma marca visível, que pode ser comprovada. "Nem toda violência deixa uma marca física. Algumas deixarão marca emocional, psicológica, enquanto outras vão ser cometidas de um jeito que não vão deixar marcas, e o testemunho das pessoas precisa ser encarado como uma prova, uma verdade possível".
 
A professora aponta que, quando essas violências ocorrem na Universidade, podem afetar a comunidade acadêmica de diversas formas, por exemplo, propiciando o desenvolvimento de crises de ansiedade e depressão, diminuindo a capacidade produtiva de técnicos e professores, e prejudicando o rendimento dos estudantes em disciplinas.
 
Vinculado à Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários e Estudantis (Prace) da UFOP, o Projeto Ariadnes está ligado ao grupo de pesquisa "Ponto" e ao programa de extensão do curso de Jornalismo "Sujeitos de suas Histórias". De acordo com o professor André Luís Carvalho, também coordenador do projeto, quando os relatos começam a ganhar visibilidade, muitas pessoas percebem que não estão sozinhas, sentindo-se mais estimuladas a verbalizar e a trabalhar esses traumas, cada uma no seu tempo. "Uma das possibilidades do enfrentamento do trauma é conseguir narrar de alguma forma a experiência pela qual passou. Dar visibilidade pode ser um caminho para que esse fenômeno aconteça, pra que saia de baixo do tapete", defende André.
 
Hannah Carvalho, estudante do curso de Jornalismo e integrante do projeto, fala sobre ter descoberto no Ariadnes uma nova perspectiva do Jornalismo, pois o conteúdo produzido por ela dentro do grupo se difere do que já foi produzido no curso e a ensina sobre respeitar o tempo e os limites do próximo. "É sensível, é empático, é doloroso de se ler e ouvir, mas é totalmente necessário", conta.
 
Qualquer pessoa pode relatar abusos e violências sofridas dentro ou fora da Universidade. Um formulário é disponibilizado nas páginas do projeto (Facebook e Tumblr) e em grupos da UFOP no Facebook. Nenhuma das perguntas são de resposta obrigatória e as pessoas podem optar pelo anonimato. Pessoas que têm conhecimento do projeto e querem dar depoimentos também podem procurar os integrantes ou os professores coordenadores do Ariadnes.
 
Os contatos podem ser feitos pelo Facebook, Tumblr ou pelo e-mail: ariadnes@ufop.edu.br.
 
 

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