Criado por Administrator em qua, 11/06/2014 - 12:51
Em 2014, celebramos - no sentido de recordar juntos - o aniversário do Golpe Civil Militar. Relembrar datas como esta é uma importante manifestação social, que provoca reflexão sobre o assunto e recordar a memória dos que morreram ou desapareceram nesse período. Este é o tema do UFOP Conhecimento, que contou com a participação do professor do Departamento de História da Universidade Federal de Ouro Preto, Marcelo Abreu.
Confira o depoimento: http://youtu.be/NGWLFI9A2xI.
Abreu faz provocações acerca das celebrações e das representações históricas do Golpe de 1964, e questiona: para além da história, como a literatura, cinema e as novas mídias também dão conta da complexidade do acontecimento? Versões históricas consolidadas sobre o Golpe se contrapõem no espaço público e esse processo é chamado de “Guerra de memória”. Na rede, o professor identifica esses confrontos em espaços como as linhas do tempo no Facebook e em verbetes na Wikipedia, por exemplo. “As novas mídias fragmentam a possibilidade de lembrar. No Facebook, você recorda com o seu grupo, com a sua rede e cada linha do tempo conta uma história”. O risco é que esse discurso seja constantemente reproduzido, sem a possibilidade de quebra, já que, geralmente, nos relacionamos com um mesmo grupo de pessoas, que pensam de maneira semelhante.
Para entendermos como a web pode reunir e pluralizar os discursos em torno de um mesmo assunto, o professor cria uma situação hipotética: Suponhamos que para discutir o tema do Golpe de 64, fosse criado um chat com os seguintes personagens: um garoto de 15 anos, interessado em história; um professor de história; pessoas de 80 anos de orientação política de esquerda e de direita; um general ou um coronel. “A internet permite que essas vozes estejam congregadas em um mesmo espaço de forma simultânea. Ao mesmo tempo que amplia uma comunidade de conhecimento em torno de um determinado assunto”, explica Marcelo.
Além da internet, o Golpe Militar de 64 é narrado em filmes, documentários, livros, romances e até novelas, como também acontece com outros eventos, sobretudo acontecimentos traumáticos. Nesses casos, a realidade serve como cenário para a narrativas ficcionais e esse processo de memória é importante na reelaboração dos episódios históricos. Porém, alerta Marcelo, “Recordar insistentemente a violência da ditadura não garante que os problemas que repercutem até hoje vão se resolver, e pode ser que a gente não perceba que temos resquícios dela até os dias atuais”, finaliza.