Criado por Administrator em qui, 29/04/2010 - 11:12
A Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) lamenta informar o falecimento da professora do Departamento de Letras (Delet) do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS), Irene Ruth Hirsch, ocorrido ontem, 28 de abril, em São Paulo, em decorrência de um câncer contra o qual vinha lutando há quase dois anos. O sepultamento acontece hoje, no Cemitério Israelita do Butantã, na capital paulista.
Renomada tradutora e pesquisadora na área dos Estudos da Tradução no Brasil, Irene atingiu o ápice de seu ofício ao traduzir, em 2008, “Moby-Dick”, obra indicada para o Prêmio Jabuti de 2010.
Segundo declarou a professora à colegas do Delet, seu interesse pelas complexas relações entre o homem e seu meio, as ciências sociais e a linguagem, a conduziram, inicialmente, à graduação em Ciências Sociais, na Universidade de São Paulo (USP), em 1973: “Meu aprendizado iniciou-se por meio de aulas teóricas e práticas de Ciência Política, Antropologia, Sociologia, Estatística, entre outras, a partir delas me interessei pelos estudos da sociedade, da cultura e do conhecimento”.
Ainda nos anos 1970, como muitos de sua geração desgostosos com as dificuldades impostas pelo regime militar ao desenvolvimento dos debates acadêmicos, Irene saiu do Brasil, fixando-se em Londres, onde aperfeiçoou o conhecimento do idioma e se envolveu com os temas relativos à cultura de outros países. De volta ao Brasil, cursou Bacharelado e Licenciatura em Língua e Literatura Inglesa, na PUC-SP e nos anos 1980 ministrou aulas de Língua Inglesa e Literaturas Inglesa e Norte-americana em São Paulo.
Seu trabalho como tradutora teve início em 1993, na Fundação Padre Anchieta. Segundo depoimento de Irene, “a tradução de filmes e de programas educativos foi uma experiência muito positiva que deixou marcas no meu trajeto profissional subsequente”. Suas primeiras traduções para editoras foram publicadas entre 1997 e 1999: Pessoas extraordinárias: resistência, rebelião e jazz, de Eric Hobsbawm, e Chocolate, piratas e outros malandros: ensaios tropicais, de Kenneth Maxwell, ambos pela editora Paz e Terra, e A primeira crise da dívida latino-americana, de Frank Dawson, pela editora 34.
Em 2003, Irene iniciou as traduções de uma coletânea de contos inéditos de Herman Melville para a editora Cosac&Naify. Segundo ela, uma nova tradução de Moby-Dick, do mesmo autor, foi aceito como um desafio, pois “tratava-se de uma somatória de meus estudos sobre a tradução e sobre literatura traduzida”. Irene traduziu, ainda, vários romances para a editora LPM, dentre eles O vale do medo, de Conan Doyle, publicado em 2006, A piscina dos afogados, de Ross MacDonald, Julgamento das pedras, de Ruth Rendell, e A noite dos desesperados, de Horace McCoy.
A combinação das atividades de professora e tradutora levou Irene ao Mestrado e ao Doutorado: “A tradução como uma interseção entre língua e literatura, era um meio de trabalhar conceitos culturais. Em outras palavras, a tradução aproximava os estudos de linguagem dos estudos de cultura”. Sob orientação do professor John Milton, seu Mestrado na USP foi concluído, com distinção e louvor, em 1998, com a dissertação “A baleia multiplicada: traduções, adaptações e ilustrações de Moby-Dick”.
Para o Doutorado, também realizado na USP sob a mesma orientação, ampliou o corpus de sua pesquisa para as traduções brasileiras dos escritores norte-americanos do século XIX e organizou um banco de dados de cerca de trezentos e sessenta livros de ficção de obras traduzidas no Brasil. Sua tese de doutorado resultou na publicação do livro Versão Brasileira: traduções de autores de ficção em prosa norte-americanos do século XIX, publicado pela editora Alameda em conjunto com a Fapesp, em 2006.
No Brasil, Irene participou de inúmeros eventos ligados à tradução, em seus aspectos culturais e linguísticos, com vários artigos publicados. No exterior, destaca-se sua participação no “Moby-Dick 2001 – an interdisciplinary celebration”, encontro realizado em outubro de 2001 na Hofstra University em Hempstead, nos Estados Unidos, no qual proferiu a palestra “The Brazilian Whale”. A palestra resultou num capítulo de livro com o mesmo nome publicado no livro The Ungraspable Phantom pela Kent University Press, em 2006, e a participação no encontro internacional “Transitions and Transgressions in an Age of Multiculturalism”, realizado na University of South Africa, em Pretoria.
Renomada tradutora e pesquisadora na área dos Estudos da Tradução no Brasil, Irene atingiu o ápice de seu ofício ao traduzir, em 2008, “Moby-Dick”, obra indicada para o Prêmio Jabuti de 2010.
Segundo declarou a professora à colegas do Delet, seu interesse pelas complexas relações entre o homem e seu meio, as ciências sociais e a linguagem, a conduziram, inicialmente, à graduação em Ciências Sociais, na Universidade de São Paulo (USP), em 1973: “Meu aprendizado iniciou-se por meio de aulas teóricas e práticas de Ciência Política, Antropologia, Sociologia, Estatística, entre outras, a partir delas me interessei pelos estudos da sociedade, da cultura e do conhecimento”.
Ainda nos anos 1970, como muitos de sua geração desgostosos com as dificuldades impostas pelo regime militar ao desenvolvimento dos debates acadêmicos, Irene saiu do Brasil, fixando-se em Londres, onde aperfeiçoou o conhecimento do idioma e se envolveu com os temas relativos à cultura de outros países. De volta ao Brasil, cursou Bacharelado e Licenciatura em Língua e Literatura Inglesa, na PUC-SP e nos anos 1980 ministrou aulas de Língua Inglesa e Literaturas Inglesa e Norte-americana em São Paulo.
Seu trabalho como tradutora teve início em 1993, na Fundação Padre Anchieta. Segundo depoimento de Irene, “a tradução de filmes e de programas educativos foi uma experiência muito positiva que deixou marcas no meu trajeto profissional subsequente”. Suas primeiras traduções para editoras foram publicadas entre 1997 e 1999: Pessoas extraordinárias: resistência, rebelião e jazz, de Eric Hobsbawm, e Chocolate, piratas e outros malandros: ensaios tropicais, de Kenneth Maxwell, ambos pela editora Paz e Terra, e A primeira crise da dívida latino-americana, de Frank Dawson, pela editora 34.
Em 2003, Irene iniciou as traduções de uma coletânea de contos inéditos de Herman Melville para a editora Cosac&Naify. Segundo ela, uma nova tradução de Moby-Dick, do mesmo autor, foi aceito como um desafio, pois “tratava-se de uma somatória de meus estudos sobre a tradução e sobre literatura traduzida”. Irene traduziu, ainda, vários romances para a editora LPM, dentre eles O vale do medo, de Conan Doyle, publicado em 2006, A piscina dos afogados, de Ross MacDonald, Julgamento das pedras, de Ruth Rendell, e A noite dos desesperados, de Horace McCoy.
A combinação das atividades de professora e tradutora levou Irene ao Mestrado e ao Doutorado: “A tradução como uma interseção entre língua e literatura, era um meio de trabalhar conceitos culturais. Em outras palavras, a tradução aproximava os estudos de linguagem dos estudos de cultura”. Sob orientação do professor John Milton, seu Mestrado na USP foi concluído, com distinção e louvor, em 1998, com a dissertação “A baleia multiplicada: traduções, adaptações e ilustrações de Moby-Dick”.
Para o Doutorado, também realizado na USP sob a mesma orientação, ampliou o corpus de sua pesquisa para as traduções brasileiras dos escritores norte-americanos do século XIX e organizou um banco de dados de cerca de trezentos e sessenta livros de ficção de obras traduzidas no Brasil. Sua tese de doutorado resultou na publicação do livro Versão Brasileira: traduções de autores de ficção em prosa norte-americanos do século XIX, publicado pela editora Alameda em conjunto com a Fapesp, em 2006.
No Brasil, Irene participou de inúmeros eventos ligados à tradução, em seus aspectos culturais e linguísticos, com vários artigos publicados. No exterior, destaca-se sua participação no “Moby-Dick 2001 – an interdisciplinary celebration”, encontro realizado em outubro de 2001 na Hofstra University em Hempstead, nos Estados Unidos, no qual proferiu a palestra “The Brazilian Whale”. A palestra resultou num capítulo de livro com o mesmo nome publicado no livro The Ungraspable Phantom pela Kent University Press, em 2006, e a participação no encontro internacional “Transitions and Transgressions in an Age of Multiculturalism”, realizado na University of South Africa, em Pretoria.
Destaca-se, ainda, sua atuação como membro da diretoria da ABRAPT (Associação Brasileira de Pesquisadores em Tradução) na organização do Encontro de Tradutores, em 1996 e em 1998. No ano passado, mesmo afastada para tratamento, seu trabalho na organização da X edição do evento, realizado em Ouro Preto, foi decisivo para a revitalização da Associação.
Irene Hirsch era funcionária da UFOP desde 2005, aprovada como docente na área de Tradução, no Departamento de Letras do Instituto de Ciências Humanas e Sociais. Segundo afirmou, sua vinda para a UFOP significou a oportunidade de desenvolver trabalho que representava uma feliz combinação: “Como professora, tradutora e pesquisadora foi nessa instituição que encontrei os meios para dar continuidade à minha trajetória profissional.”
Com alunos e colegas do Departamento de Letras, Irene sempre esteve à frente de pesquisas e eventos científicos e culturais. Integrante da linha de pesquisa “Tradução e Estudos Interculturais”, do DELET, desenvolveu o projeto “A tradução de livros norte-americanos no Brasil nos anos 1960-1990”, com vários alunos de graduação. Ainda em trabalho conjunto com alunos, criou um blog chamado Tradufop, um espaço virtual para a publicação de trabalhos de tradução, em especial, de literatura traduzida.
Nos encargos administrativos assumidos por Irene na UFOP, aponta-se sua seriedade e competência como membro da Comissão de Proficiência, Comissão de Capacitação de Docentes; a Chefia do Departamento, em caráter temporário, durante o período de férias da titular, a coordenação do Centro de Estudos da Tradução, a coordenação do Setor de Línguas Estrangeiras Modernas e Tradução, e a coordenação do Comitê de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas da PROPP.
Sempre à frente dos eventos culturais da Universidade, Irene participou ativamente da organização da X Semana de Letras da UFOP, realizada em 2008. Em julho desse mesmo ano, participou com as professoras Maria Clara V. Galery e Elzira Divina Perpétua da realização do Seminário “Tradução, Vanguarda e Modernismos”, do qual resultou o livro homônimo, em co-autoria com as colegas, publicado em 2009 pela editora Paz e Terra.
Irene Hirsch teve ainda papel fundamental na elaboração do projeto de Pós-graduação em Letras: Estudos da Linguagem, que se iniciou este ano.
Como grande amiga e colega da Universidade Federal de Ouro Preto, Irene será sempre lembrada por seu otimismo, competência, generosidade e companheirismo. A lembrança querida, dos amigos que fez em Mariana e Ouro Preto e dos alunos, colegas e funcionários do ICHS que tiveram o privilégio de conviver com ela, perdurará para sempre.