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"O Homem da Cabeça de Papelão" é achado em 2008

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Há exatamente dez anos, o Grupo Trama de Teatro, que se apresentou ontem, 24 de julho, no Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana, começou a construir a sua história, e os três fundadores, Carlos Henrique, Epaminondas Reis e Glisério Rosário já tinham em mente dois objetivos: apresentar ao público uma diversão crítica e reflexiva e fazer do ator o cerne do evento teatral.

Carlos Henrique diz que essa proposta de fazer um trabalho crítico e reflexivo se inicia na hora em que o texto é escolhido. O interesse é que o público vá ao teatro e não apenas se divirta, mas leve algo a mais para casa, não necessariamente uma coisa boa, mas, por exemplo, um “puxão de orelhas”, ou mesmo uma “pisada no calo”, algo que faça a pessoa pensar e refletir sobre o que ela está vendo. Epaminondas Reis diz que nos dias de hoje são muitos os artistas que não fazem um trabalho crítico e consistente, e que contribuem para a superficialidade e mediocridade dos trabalhos artísticos, valores tão difusos na contemporaneidade.

Com relação ao ator ser o cerne do evento teatral, “muitos espetáculos priorizam a luz, o figurino, o cenário, e o ator acaba sendo complemento. Nós queremos justamente o contrário, se acaso não tivermos luz, figurino e cenário, o ator tem que segurar a proposta. O ator não deve ser apenas mais um instrumento, ele tem que ser o instrumento. Trabalhamos a idéia de que tudo passa pelo ator, o resto é complemento” afirma Carlos Henrique. “Um espetáculo pode ter uma luz maravilhosa e múltiplos efeitos, mas o ator não pode sumir dentro deste cenário. Mesmo com o surgimento de técnicas modernas, o ator sempre vai ter o seu lugar, ele é insubstituível, é o teatro vivo, ali e agora” complementa o ator.

O Grupo Trama acredita que o teatro deve ter função social. Epaminondas Reis diz que as questões atuais das sociedades brasileira e mineira, principalmente os problemas sociais, são levadas em consideração na hora de se pensar em um novo trabalho.  Em destaque, a cultura mineira. Não querendo ser bairrista, ele diz que é conhecendo o que está ao redor, o que está mais próximo, e conseguindo entender e expressar estas questões, é que o grupo vai conseguir realizar um trabalho universal. “Quanto mais formos nós mesmos, mais universais seremos”, conclui Reis.

A busca por uma linguagem própria, ou, beber da fonte de várias linguagens e tirar o melhor de cada uma delas, por enquanto, é a idéia que norteia o Grupo Trama. Eles ainda estão se conhecendo e muitas questões não foram definidas. “Muitas coisas nos interessam, mas muitas também não. É um mosaico. Estamos peneirando o que queremos”, explica Henrique. É um processo que, aos olhos do público pode parecer complicado, mas Epaminondas Reis esclarece que a falta de uma linguagem definida não é um problema, “talvez a gente não queira ter uma linguagem, mas sim um lugar de fazer teatro, ter o que falar e ter para quem falar. Podemos usar qualquer linguagem para isso, desde que saibamos o que queremos falar”, resume Reis.

Tudo isso o público do Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana conferiu no “O Homem da Cabeça de Papelão” que mostrou toda a proposta do Grupo, além de surpreender o público com um cenário ousado, apesar de utilizar elementos simples. É notório que o ator é o elemento principal no palco. Sendo a atuação e a composição dos personagens os elementos que fazem o diferencial. “O Homem da Cabeça de Papelão” é uma adaptação do conto homônimo do escritor carioca João do Rio, realizada pelo dramaturgo e diretor João das Neves.

Depois de sete anos do seu lançamento, “O Homem da Cabeça de Papelão” continua a ser a atração principal do Grupo. Carlos Henrique diz que o Trama é um grupo de repertório, e que todos eles acreditam na importância de uma política de continuidade. “Este espetáculo sempre vai ser atual, nós achamos que ainda é necessário apresentá-lo para o público, porque a discussão dele é muito boa, muito pertinente com o que estamos vivendo. João do Rio escreveu esse conto em 1920, e ele continua sendo muito atual. Além de ser uma discussão que a gente acredita, é muito prazeroso encenar o espetáculo”, acrescenta Epaminondas Reis.