Criado por Administrator em ter, 03/11/2015 - 16:19
Agliene Melquíades com Chico Daher
O evento foi encerrado no último sábado, 31, com um público que lotou o auditório do ICHS, em Mariana.
"A emergência de uma pedagogia antirracista no Brasil: limites, conquistas e desafios" e "Diversidade linguística no Brasil: a importância da descrição e preservação das línguas ameríndias" foram os temas das mesas que movimentaram o último dia do evento, provocando fortes debates entre os presentes.
DESAFIOS - A mesa "A emergência de uma pedagogia antirracista no Brasil: limites, conquistas e desafios"pautou temas como inclusão racial, a discriminação no ambiente escolar e a desvalorização do conhecimento afro (epistemicídio) nas práticas pedagógicas tradicionais.
Na oportunidade, a professora da UFRPE Denise Botelho, doutora em Educação e representante do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros daquela Instituição, destacou que as mudanças na educação brasileira, como a Lei Federal nº 10.639/03 que torna obrigatório o ensino de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira nas escolas de ensino fundamental e médio, e a criação de projetos e cursos que valorizam a diversidade racial e cultural vêm emergindo, mas ainda há muitos desafios a serem superados.
Segundo ela, "há de se olhar para essa diversidade étnico-racial de um outro lugar. Apenas cotas ou reserva de vagas não compõem as políticas de ações afirmativas, deve-se ir para além do ingresso de indígenas e negros nas universidades. É preciso mudar efetivamente o currículo, acrescentar os clássicos produzidos por essas identidades e, de fato, trabalhá-los em classe. A outra parte da lição que ainda não conseguimos é pensar a permanência. "
A segunda mesa de debates "Diversidade linguística no Brasil: a importância da descrição e preservação das línguas ameríndias" contou com a participação do professor Bonfim Duarte, doutor em estudos linguísticos pela UFMG.
Na oportunidade, ele chamou a atenção para a importância de se preservar a diversidade linguística do Brasil que, muitas vezes, é tido como um país monolíngue, o que acaba por deixar na invisibilidade as línguas indígenas.
Segundo Bonfim, diversos fatores cooperam para o fenômeno: a internet, a televisão e até mesmo o contato da escola formal. "O fato de esses povos estarem aprendendo português como segunda língua, e muitas crianças como a primeira, é uma forte influência centrífuga no sentido de fazer com que deixem de falar as línguas nativas", acrescenta.
Dentre os desafios apontados pelo professor para resgatar essa herança cultural e identitária, está a formação acadêmica de linguistas indígenas para documentar as línguas nativas, iniciativa ainda incipiente no país. "Há um problema das universidades no Brasil de priorizarem o estudo das línguas majoritárias. Qualquer tentativa de inserir uma linha ou grupo de pesquisa voltado para as línguas indígenas e africanas esbarra na questão das barreiras que não são difíceis de serem observadas", conclui.
Além de palestras, o "Pensando Áfricas" promoveu exposições, minicursos e lançamento direcionados à valorização e inclusão das culturas afro-diaspóricas e indígenas, e discussões sobre raça e gênero e militância em movimentos sociais.