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Pesquisa desenvolvida na UFOP tenta controlar a leishmaniose visceral canina

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Júlia Mara Cunha

A leishmaniose é um problema de saúde pública que acomete os seres humanos e os animais. Com o aumento no número de casos de leishmaniose visceral em Minas Gerais e no Brasil, a Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio do Programa de Pesquisas para o Sistema Único de Saúde (PPSUS – Rede), financiam pesquisas focadas no desenvolvimento de estratégias para reduzir o número de contágios humanos. Com os estudos, é possível obter melhorias nas técnicas do diagnóstico, descoberta de estratégias inovadoras para o tratamento e desenvolvimento de novas vacinas como ferramentas profiláticas. 

Foi a partir dessa demanda que a Universidade Federal de Ouro Preto passoi a desenvolver a pesquisa "Soluções Inovadoras Aplicadas a Ensaios Vacinais, Tratamento e Diagnóstico em Leishmaniose Visceral Canina", coordenada pelo professor  do Laboratório de Imunopatologia em Ciências Biológicas (Nupeb/UFOP), Alexandre Barbosa Reis. O estudo é dividido em três subprojetos que pretendem desenvolver fármacos e terapias inovadoras contra a LV, avaliação da eficácia vacinal em campo aberto e o diagnóstico e infecção de vetores. 

A pesquisa vem sendo realizada desde 2010 e consiste em um ensaio pré-clínico em que o cão é usado como modelo experimental, no qual o animal não é o alvo, mas, sim, o ser humano. "A doença no cão se manifesta muito semelhantes à do humano". O pesquisador e doutorando Bruno Mendes Roatt explica, ainda, que outra razão para utilizar o cachorro é pelo fato de o programa de pesquisa para o SUS exigir que seja testado primeiro em animais para depois ser usado no homem. 

Um dos subprojetos, Desenvolvimento de Estratégias Terapêuticas Utilizando Imunofármacos Aplicadas a Ensaios Pré-Clínicos na Leishmaniose Visceral, que vem sendo realizado na UFOP pelo pesquisador e doutorando Bruno Mendes Roatt, utiliza a imunoterapia como tratamento. A proposta consiste no uso de substâncias que direcionam uma resposta imune favorável, ou seja, age no parasita ativando o sistema imune no combate à doença.  Roatt acrescenta que esse tipo de tratamento é usado contra herpes, hepatite C e câncer.

Com os testes feitos, a equipe produziu a vacina LBMPL que apresentou uma melhora clínica nos cães. Com os resultados favoráveis, a LBMPL foi patenteada pela UFOP para o tratamento da leishmaniose visceral canina e humana. "Para ser usado em seres humanos, será necessário realizar testes para descobrir se a metodologia usada durante o estudo é adequada ou se teremos que adaptá-la", afirma Roatt.


LEISHMANIOSE - A doença tem duas formas principais de se manifestar: a tegumentar - que se divide em cutânea, cutâneo-mucosa e difusora, caracterizada por feridas na pele que não cicatrizam - e a visceral - que é a mais grave e atinge órgãos internos (baço, fígado e medula óssea). A tegumentar é conhecida como úlcera de bauru, nariz de tapir, ferida brava e é causada pelos protozoários Leishmania braziliensis, Leishmania guyanensis e Leishmania amazonensis. Já a leishmaniose visceral (LV), chamada também de calazar, é transmitida pelo protozoário leishmania spp. Esses dois tipos têm como transmissor da doença o flebótomo, conhecido como mosquito palha ou birigui. 

Na América Latina, a zoonose já foi encontrada em pelo menos 12 países, sendo que 90% dos casos ocorrem no Brasil, especialmente nas regiões Nordeste e Sudeste, cujo clima é propício para o surgimento do transmissor.