Criado por Lillian Indrusiak em ter, 20/12/2016 - 10:30 | Editado por Lígia Souza há 7 anos.
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Charles Santos
Questionar o padrão cultural imposto ao comportamento feminino, esse é um dos principais objetivos das pesquisas artísticas e práticas desenvolvidas pela professora do Departamento de Artes Cênicas da UFOP, Nina Caetano. Os estudos também são realizados pelo Núcleo de Investigações Feministas, o Ninfeias.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil ocupa o quinto lugar na lista de países que mais registram casos de feminicídio no mundo. Em 2015, foi traçado um mapa que registrou os números de violência doméstica e familiar. Notou-se que a morte de mulheres negras aumentou cerca de 54% nesse período. De acordo com outra pesquisa desenvolvida pelo Instituto Datafolha, um em cada três homens acredita que, em casos de estupro, a culpa é da mulher.
Desde 2008, Nina Caetano, além de coordenar o Ninfeias, é ativista feminista e performer e desenvolve estudos junto ao Agrupamento de Pesquisa Cênica (Obscena). O agrupamento funciona em Belo Horizonte e é formado por vários artistas e pesquisadores. As investigações do Obscena sempre foram em torno do feminino.
A professora destaca que os estudos iniciais buscavam investigar a mulher marginalizada. "Em um primeiro momento, esse projeto era voltado para a investigação de mulheres prostituídas e criminosas. Então, existia uma relação ao se pensar a mulher por meio dessa dinâmica", relata Nina Caetano.
Ao mesmo tempo, o grupo teatral Cia Maldita começou a investigar determinadas questões também ligadas à margem da sociedade. O desenvolvimento da pesquisa chamou atenção para uma problemática ainda maior relacionada ao padrão feminino. "Quando pensamos os papéis de mulher e de homem, uma boa parte dos comportamentos atribuídos a eles é totalmente cultural. No entanto não encaramos como cultural, mas sim como natural", pontua Nina Caetano.
Toda essa discussão está ligada diretamente à formação da mulher e a que realmente isso significa. A essência do ser humano muitas vezes é construída culturalmente, e as pesquisas colocam essas construções à prova. Os estudos comprovam que determinados discursos e práticas reforçam alguns padrões moldados pela sociedade.
As pesquisas desenvolvidas na UFOP também se relacionam às questões de ordem feminista junto à performatividade. Dessa forma, os comportamentos também questionam as corporeidades capazes de produzir diversas performances. Para Nina Caetano assumir a natureza feminina implica uma subjetividade corporal e o modo como o corpo se coloca no mundo. Além disso, essas corporeidades colocadas em discussão podem desempenhar um importante papel político.