Criado por Administrator em qua, 20/11/2013 - 17:50
Aldo Damasceno
Para a surpresa dos amigos, a marcha fúnebre foi o tema de tese, até então não explorado no País, escolhido pelo maestro e professor do Departamento de Música da Universidade Federal de Ouro Preto, Edésio de Lara Melo, defendido em julho na Universidade Federal de Minas Gerais. O pesquisador teve contato com o assunto na adolescência quando era músico de banda e apresentava-se na Semana Santa. No mestrado, o músico abordou o tema, mas foi no doutorado que se aprofundou na pesquisa.
"As pessoas não gostam muito de falar sobre a morte. No início da pesquisa, muita gente olhava para mim com certa estranheza. Poucos sabem que a música foi composta com o intuito de prestar uma homenagem", comentou o professor Edésio. O trabalho, dividido em duas partes, abordou a origem do gênero musical, tratando das primeiras manifestações fúnebres. O professor explicou que os primeiros registros foram feitos na Europa, durante o período Barroco, quando músicos dedicavam aos seus mestres uma canção lamentosa, depois, no período da Revolução Francesa, a música passou a ser tocada no acompanhamento de enterros.
"Recebiam a homenagem pessoas importantes, celebridades, lideranças políticas ou um integrante da banda", destacou. Na segunda parte da pesquisa, o professor concentrou o tema na microrregião de São João del-Rei, cidade em que morou e atuou como músico. Em seu levantamento, foram contabilizadas 196 músicas, a maioria composta por músicos locais. "Cada uma das cidades teve um compositor de expressão dedicado ao gênero, alguns compuseram apenas uma música, e, curiosamente, foi uma marcha fúnebre", apontou Edésio.
O professor tem o objetivo de expandir a pesquisa, estudando a marcha fúnebre em outras cidades da região dos Inconfidentes, passando por Mariana e Ouro Preto, primeiras capitais do Estado. Ele apontou que sua tese tem potencial de contribuição para outras áreas de pesquisa, dentre elas estão as técnicas de composição e a inserção do gênero musical no Brasil.
TRADIÇÃO - Dentre as composições, a mais conhecida é o terceiro movimento da sonata nº 2 em Si bemol menor para piano, de Frédéric Chopin. No Brasil, algumas regiões ainda mantêm essa tradição musical, como nas cidades mineiras de São João del-Rei, Ouro Preto e Mariana, nas quais as canções são criadas ou adaptadas para serem tocadas por bandas. As apresentações são realizadas em acompanhamento de cortejos fúnebres, enterros e na Semana Santa.
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