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Projeto investiga práticas nos Estudos em Minas Gerais nos séculos XVIII e XIX

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Carol Antunes

A partir de uma busca extensa por arquivos para identificar um grupo significativo de professores atuando na região de Mariana entre os anos de 1750 e 1834, o professor do Departamento de História da UFOP Álvaro de Araújo Antunes desenvolveu o projeto "O Saber das Letras: Condições, Agentes e Práticas nos Estudos Menores em Minas Gerais (1750-1834)", que foi contemplado pelo Programa Pesquisador Mineiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). 

O professor explica que é comum a historiografia sobre Minas Gerais assinalar como marco da imposição da ordem a constituição de instrumentos fiscais, administrativos, jurídicos, religiosos, sociais, sem abordar ou, ao menos, considerar o aspecto educacional. Uma das razões desse silêncio advém de uma crença na quase ausência de instituições de ensino e de professores na Capitania de Minas Gerais. Segundo ele, existem trabalhos importantes sobre o Seminário da Boa Morte, sobre o Colégio dos Irmãos Osório e o Colégio do Caraça, mas, em geral, a impressão é de que foram poucos os professores e grande o número de analfabetos em Minas Gerais e, de maneira mais extensa, na América portuguesa. 

"Ocorre, contudo, que a cultura escrita era fundamental para a estrutura administrativa, jurídica, religiosa, bem como uma série de ações cotidianas da sociedade, como os registros de compra e venda. Sendo assim tão necessária, seria de se supor que existissem formas alternativas, para além das institucionais, de educação. Pensando nisso, iniciamos uma busca extensa pelos arquivos que permitiu identificar um grupo significativo de professores atuando na região de Mariana entre os anos de 1750 e 1834", explica o pesquisador. Em um primeiro momento, Álvaro fez uma varredura minuciosa em diversos documentos, como inventários post mortem, processos judiciais, cartas encaminhadas para a Câmara, processos de genere et moribus, e identificou cerca de duas centenas de professores e uma centena e meia de alunos. A grande maioria desses educadores era formado por professores particulares que atuavam fora dos colégios e que não contavam com as mesmas condições dos professores régios, que recebiam (nem sempre com regularidade) salários da Fazenda Real.

O perfil dos professores era diferente também em sua composição social e racial: "Eram membros do clero, homens casados, alguns pardos, uma série de personagens praticamente desconhecidos, até o momento, pela historiografia. Começamos a conhecer esses personagens, mas ainda sabemos pouco sobre o que esses indivíduos ensinavam. Que livros, métodos, cartilhas possuíam e utilizavam? Como lidavam com a política educacional e com as normas estabelecidas pela Coroa portuguesa? A que segmentos sociais ensinavam? Como a cultura escrita fomentada nessas pequenas escolas contribuía para a administração e ordenamento da sociedade mineira? São essas algumas questões para as quais se buscam respostas com a pesquisa que vem se desenvolvendo", comenta Álvaro.

Para o desenvolvimento dessa pesquisa, o professor conta que foi fundamental o apoio das agências de fomento, como o CNPq, FAPEMIG e da própria UFOP. Por meio de editais, foi possível adquirir o material necessário para a pesquisa e também duas bolsas para alunos de graduação e uma bolsa de auxílio técnico. "A bolsa do Programa Pesquisador Mineiro auxiliará, certamente, para ampliar o raio das investigações, à medida que permitirá a pesquisa em arquivos no exterior, bem como a divulgação e o debate dos resultados alcançados", finaliza.