Criado por Administrator em qui, 11/02/2010 - 01:00
A Universidade Federal de Ouro Preto, Instituição Federal de
Ensino Superior comprometida com a sociedade brasileira, em geral, e com as
cidades onde mantêm seus campi, em particular, vem a público apresentar
algumas considerações relativamente às suas moradias estudantis no estilo
“república”, que são bens imóveis de sua propriedade, bem como a respeito da
sua recente decisão de cumprimento da recomendação dos Ministérios Público
Estadual e Federal, de outubro de 2009.
Ouro Preto, a cidade Patrimônio Cultural da Humanidade, é também
uma cidade da educação, uma cidade universitária. E, como tal, recebe e acolhe
milhares de estudantes a cada ano. Esses estudantes que vêm residir nesta bela
cidade trazem, também, a alegria própria da idade, ao mesmo tempo em que
contribuem para a economia local, pois geram trabalho e renda para centenas de
pessoas.
Entretanto, como em qualquer cidade deste país que abriga uma
instituição universitária, nem sempre a relação dos estudantes com a sua
comunidade é perfeitamente harmoniosa. Conflitos são próprios das novas
gerações. Especialmente no presente caso, quando os estudantes são procedentes
de outras localidades e, mesmo, de outros estados da federação, e demoram um
pouco para compreender a magia e a importância sociocultural desta cidade
histórica.
A UFOP, além de ser uma das mais tradicionais instituições de
ensino superior do país, também está entre as mais modernas e bem conceituadas,
fato que, por si só, já serve para enaltecer inclusive as cidades onde ela está
inserida. Não obstante, cabe ainda lembrar e enfatizar que a Instituição vem
ampliando oportunidades para milhares de jovens e adultos de todas as classes
sociais, haja vista a adoção da política afirmativa social que dá acesso
àqueles que antes estavam excluídos da educação superior.
A UFOP desenvolve inúmeras ações e projetos em educação,
tecnologia e inovação, cultura e arte, trabalho e saúde que beneficia
diretamente as comunidades das cidades onde está inserida. Pela sua própria
natureza, socializa o saber e a aplicação dos conhecimentos gerados na academia
para a região, para Minas Gerais, para o Brasil e o mundo. E isto com muita
qualidade, pois a Instituição conta hoje com90% do seu corpo docente
constituído de mestres e doutores, o que é uma incrível marca, muito acima da
média nacional.
Bem diferente das outras Instituições do Sistema Federal de
Educação Superior é o seu sistema de moradia estudantil. A UFOP herdou, por
ocasião da sua criação em 1969, um sistema de casas conhecidas como repúblicas federais.
Grande parte destas casas foi doada, adquirida por ex-alunos ou ocupada a
partir da mudança da Capital do estado de Minas Gerais de Ouro Preto para Belo
Horizonte, no final do século XIX.
Ao herdar tal patrimônio, a UFOP recebeu também como legado a sua
tradição, caracterizada pela forma de convívio entre os moradores cujo traço
peculiar é singular, único no país. No mundo, apenas Coimbra, em Portugal,
ainda mantém um conjunto semelhante de casas com sistema de autogestão e
afinidade em suas escolhas. Na UFOP, essas repúblicas, há mais de um século,
passaram a desenvolver uma cultura própria que garante a manutenção de laços
estreitos dos moradores com os ex-alunos e ex-residentes.
Diferentemente de outras décadas, quando havia apenas as Escolas centenárias
de Minas e Farmácia e quase totalidade dos estudantes moravam nas repúblicas
federais, hoje o conjunto de casas tem capacidade para abrigar somente 10% da
comunidade estudantil. Portanto, a maior parcela dos nossos estudantes, dotados
do mesmo espírito de convivência harmônica e fraterna, utiliza com criatividade
outras formas de moradia, com destaque especial para aquelas ainda ao estilo república,
mas estruturadas em imóveis particulares.
Mesmo os mais descrentes, oposicionistas e estudiosos do modelo
híbrido de autogestão e escolha por afinidade reconhecem o quanto a UFOP
avançou no ajuste e controle de suas repúblicas. A partir de um diálogo
permanente, franco e leal com os estudantes, obteve-se a aprovação pelo
Conselho Universitário de um estatuto para as Repúblicas, que foi seguido da
construção dos regimentos internos das casas.Essas normas e regulamentos vieram
dar maior transparência à forma de escolha e aos critérios objetivos de
convivência, que resultaram ainda, na crescente ocupação das vagas ociosas.
Paralelamente, conseguiu-se produzir uma sensível melhoria no relacionamento
com a comunidade ouropretana.
Reconhecidamente, as repúblicas federais desempenham um papel
importante na formação cidadã dos estudantes universitários. Na verdade, nas
repúblicas federais reinam regras de convívio que procuram resgatar os
princípios basilares de uma família, evidenciados pela solidariedade, amizade e
harmonia na convivência, que contribui sobremaneira para que os estudantes
possam vencer essa etapa de suas vidas longe de suas famílias, com uma adequada
formação acadêmica e cidadã. Mas,na UFOP existem outras formas de moradia e de
apoio à moradia, baseadas exclusivamente em critérios socioeconômicos, além de
um efetivo apoio à permanência estudantil por meio da concessão de centenas de
bolsas de estudos.
No que se refere a utilização dos imóveis federais, a
administração superior da UFOP reconhece que ainda há o que melhorar e entende
que o método adequado para produzir novos avanços deve se apoiar em um processo
de construção que passa, necessariamente,pela conscientização antes da
imposição de limites por meio de resoluções e normas acadêmicas e
administrativas. Uma mudança de rumo só é efetiva quando todos passam a remar
em uma mesma direção.
Feito este necessário e breve relato, gostaríamos de informar que
a UFOP oficializou as repúblicas federais da sua decisão favorável ao
cumprimento integral das recomendações dos Ministérios Públicos relativas à
utilização das casas no carnaval de 2010.Assim procedendo, a UFOP não se exime
de suas responsabilidades; ao contrário,amparada na autonomia universitária
prevista no art. 207 da Constituição Federal,e em consonância com as suas
normas estatutárias e regimentais, assume o compromisso de proceder, caso seja
necessário, à devida averiguação sobre o uso indevido das casas, conhecidas
como repúblicas federais. E, uma vez comprovada a infração, a UFOP não se
omitirá em aplicar as penalidades previstas em suas normas.
A decisão de cumprimento da recomendação de outubro de 2009 foi
tomada após uma tentativa de regulamentação do uso das casas e de um acordo com
o MP. Contudo, ficou-se apenas no ensaio, já que não foi possível avançar em
termos razoáveis na finalização do acordo. O documento apresentado ao MP pela
administração superior da UFOP foi aprovado
Em janeiro deste ano, o
Conselho Universitário recebeu uma correspondência do Exmo. Sr. Prefeito
Municipal de Ouro Preto, jornalista Ângelo Oswaldo, solicitando autorização
para que o estacionamento do Centro de Artes e Convenções fosse destinado a abrigar
o chamado “Espaço Folia” durante o carnaval de 2010. Após intenso debate e
questionamentos dos representantes da comunidade universitária, o Conselho da
Instituição aprovou por maioria simples o pedido do senhor Prefeito de Ouro
Preto e concedeu a autorização para que a praça da UFOP possa ser local de
concentração e abrigo de parte das festividades do carnaval. O insigne Conselho
condicionou a autorização, contudo, a que o gestor do espaço – CACOP/FEOP faça
constar do contrato a responsabilidade objetiva da PMOP pela utilização da
praça, além, naturalmente, dos compromissos em relação à
preservação/recuperação física da área após esse período.
Por fim,
contrariamente a decisão da Associação dos Moradores das Repúblicas Federais de
Ouro Preto (Refop) e da Reitoria da UFOP no tocante ao acatamento da
Recomendação dos MPs para o carnaval
Surpresos e ao mesmo
tempo preocupados com este novo cenário, considerando especialmente a
quantidade de turistas e foliões locais que costumam integrar estes blocos,
indagamos o Secretário de Turismo sobre o local em que estes foliões iriam se
abrigar. A resposta do senhor Secretário foi objetiva e tranquilizadora: todos
ficariam em repúblicas particulares e pousadas de Ouro Preto e região. Mesmo
entendendo que a grande maioria dos foliões não costuma se hospedar em
pousadas, ainda assim ficamos mais tranquilos. De tudo, considerando o caráter desta festa popular, que a cada ano sofre mutação e incorpora novas
e variadasformas de comemoração, ficamos com a certeza de que os órgãos da
prefeitura de Ouro Preto têm se desdobrado para realizar um carnaval cada vez
mais alegre e organizado, menos violento e voltado para o atendimento de todos
os gostos.
Finalmente, com esta
nota voltada para o esclarecimento de todos, gostaríamos de reafirmar nosso
compromisso com a manutenção de um diálogo franco e aberto com o Ministério
Público local, órgão de defesa do cidadão e da sociedade, que merece toda a
nossa consideração e respeito. E, acima de tudo, reafirmamos nosso maior
compromisso com a transparência e a lisura nos procedimentos e o uso dos recursos
públicos, que são por nós geridos.
Assim sendo, como o
carnaval é a evolução da liberdade, da igualdade e da alegria só nos resta
desejar uma boa folia a todos!
Universidade Federal de Ouro Preto