Criado por Administrator em qui, 17/07/2008 - 11:45
No início da noite de ontem, 16 de julho, dando seguimento à programação em homenagem ao escultor Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, ocorreu no Bar do Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana um bate-papo com especialistas em Arte Barroca e, mais especificamente, em Aleijadinho. Os convidados eram: a professora da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Guiomar de Grammont, o escritor e professor da Universidade de São Paulo (USP), João Adolfo Hansen e o doutor em Musicologia e Conselheiro da Fundação Padre Anchieta de São Paulo, Maurício Monteiro.
O professor João Adolfo Hansen iniciou o bate-papo discorrendo sobre a questão do valor estético e artístico na época de Aleijadinho, século XVIII, e no século XX, com os modernistas de São Paulo, como Tarsila do Amaral e Mário de Andrade. Hansen diz que durante o século XVIII, os visitantes europeus não consideravam as obras de Aleijadinho arte, para eles não havia valor estético nelas. E foi com os modernistas de São Paulo, com o conhecimento do expressionismo alemão e do cubismo de Pablo Picasso, que as obras do escultor começam a ter valor estético, sendo elas a expressão do sofrimento do artista.
Hansen conta que as esculturas do século XVIII não são uma inovação nas artes, que não há intenção original, mas são criações baseadas nas narrativas religiosas e em gravuras trazidas pelos colonizadores. O mesmo ocorre com a música, afirma o Doutor em Musicologia, Maurício Monteiro. Ele diz que os “artesãos do som” da sociedade mineira imitavam as partituras trazidas da Europa.
O professor Hansen conceitua o artista Aleijadinho em duas vertentes, a do autor-homem e a do autor-estilo, esta última engloba as características do trabalho, como a leveza do traço, a alegria das esculturas, resumindo, a “engenhosidade” do artista durante o processo de criação. Nas suas palavras, o conjunto artístico de Aleijadinho se consagra por resistir ao tempo e às diversas interpretações.
Maurício Monteiro foi o responsável por definir a música barroca da época de Aleijadinho, com um porém, para Monteiro não existe música barroca em Minas Gerais no século XVIII, mas sim, pré-clássica. A característica mais importante da música desta época, segundo Monteiro, é a funcionalidade. Ou seja, a música era composta para os cultos religiosos. Mesmo com o intuito de se aproximar ao máximo da música clássica européia, a música sacra brasileira, devido às adaptações instrumentais e culturais, tinha uma sonoridade tupiniquim, afirma o especialista. Porém, era funcional para a época, e atendia as demandas de uma sociedade carola.
Após as falas do professor Hansen e de Monteiro, Guiomar de Grammont abriu para perguntas. O público pôde tirar suas dúvidas, além de esclarecer os mitos que rondam a figura do Aleijadinho.
Foto: Naty Tôrres
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