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Visita ao Parque Arqueológico de Andrelândia gera pesquisas na UFOP sobre geoconservação

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Com: 
Júlia Militão - estagiária
A equipe da disciplina de Geoconservação do Programa de Pós-Graduação em Evolução Crustal e Recursos Naturais, coordenada pelo professor Paulo de Tarso Amorim Castro, do Departamento de Geologia da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), esteve no Parque Arqueológico da Serra de Santo Antônio, em Andrelândia (MG), no final de setembro, para visitar sítios geológicos de relevância cultural. A disciplina é ofertada anualmente e, dentro do processo de aprendizado, é realizada uma prática em campo, como a visita ao Parque. 
 
A visita foi o primeiro passo para que o grupo desenvolva trabalhos que contribuam para a difusão do conhecimento sobre a geologia e geomorfologia de Andrelândia, em conjunto com o Núcleo de Pesquisas Arqueológicas do Alto Rio Grande (NPA). Na oportunidade, foram elaboradas fichas de avaliação da relevância do Morro do Serrote (situado no início da Serra do Turvo), Gruta dos Novatos, Abrigo da Toca do Índio, Pedra dos Amores, Pedra do Gavião, Muros de Pedra, Toca da Onça e Pico da Serra de Santo Antônio (situados no Parque Arqueológico). 
 

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Placa da Pedra do Gavião localizada no Parque
 
Os estudos sobre geodiversidade e geoconservação são recentes no Brasil. De acordo com o professor Paulo de Tarso, "a geoconservação é a conservação de coisas da geologia e coisas da interação do homem com a geologia". Entretanto, a familiaridade é muito maior com o termo biodiversidade, que abrange elementos vivos da natureza — fauna e flora —, do que com os membros abióticos (não vivos). A geodiversidade, então, "diz respeito a todo e qualquer componente abiótico da Terra, as formações geológicas, geomorfológicas. É tudo o que dá sustentação à biodiversidade. E a geoconservação é, como o próprio nome diz, a ideia de conservar esses elementos", explica o docente. 
 
A doutoranda Carmélia Kerolly Ramos de Oliveira, pesquisadora da geoconservação e sua relevância nas quedas d’água, que também constituem os elementos abióticos da natureza, afirma que é importante classificar esses elementos a fim de entender a relevância de cada um. Por isso, para entendermos a importância dos estudos que começaram a ser realizados no Parque, é preciso conhecer, primeiro, as sete etapas que dizem respeito ao processo de geoconservação estudado na UFOP:
 
1) Inventariação - é necessário saber o que tem na natureza e de que se tratam esses elementos. Por isso, o primeiro passo para os estudos de geoconservação da natureza é levantar o que existe. Esse inventário pode ser genérico, abrangendo todos os assuntos "geo" (cachoeira, formas de relevo, rochas aflorantes, minerais etc.) ou pode ser direcionado a apenas um aspecto, como a inventariação de fósseis, por exemplo.
 
2) Avaliação Quantitativa - depois de levantar o que parece ser relevante do ponto de vista geológico, é necessário atribuir valores aos aspectos que cada um desses elementos possui. A soma desses valores será relacionada à relevância de cada um, que pode ser relacionada, por exemplo, à raridade, à acessibilidade, ao potencial de destruição etc.
 
3) Classificação - depois da quantificação, os diversos locais de importância existentes são comparados e classificados de acordo com os mais bem pontuados.
 
4) Conservação - a pretensão é que esses locais tenham um público. A conservação, nesse sentido, trata dos procedimentos realizados para permitir a visitação e evitar a degradação do local.
 

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Site do NPA
Uma das cerca de 500 pinturas rupestres nas rochas do Parque
 
5) Valorização - turismo de natureza é diferente de turismo de lazer. A praia, por exemplo, está lá e não precisa de explicação. Mas as pinturas rupestres presentes no Parque Arqueológico da Serra de Santo Antônio, por exemplo, precisam de uma explicação, de uma história, porque não são só um desenho. Essa etapa, então, diz respeito às informações que permitem que as pessoas cheguem ao local. Pode ser um folheto, uma seta, placas instrutivas e explicativas. Essa etapa é importante para aumentar o grau de importância do local ou objeto de visitação.
 
6) Divulgação - divulgar é diferente de valorizar. A divulgação é feita em sites, cartazes, na televisão. É falar da existência e da importância do local.
 
7) Monitoramento - por fim, é importante acompanhar o estado de conservação do local. As pessoas terão acesso adequado e com acompanhamento de um profissional? Qual é o número limite de pessoas que podem estar na região por dia? Alguns locais são monitorados por guias e câmeras de segurança para evitar a degradação do ambiente. 
 
Para Carmélia, a educação ambiental deve ser voltada também para os elementos da geodiversidade e da geoconservação: "A gente não pode entender a natureza só como a biodiversidade. Muitas vezes na escola se estuda fauna, flora, tudo o que é natural e a gente esquece o que sustenta tudo isso". A pesquisadora reforça que "o Parque é um exemplo claro de que esses estudos precisam ser desenvolvidos no Brasil. Ele tem um apelo geológico ímpar, uma beleza estética muito grande e, além disso, essa questão cultural é fantástica. As pinturas rupestres, rotas migratórias pré-históricas, registros de uma civilização antiga, tudo isso tem que ser preservado, entendido e estudado".
 
Por isso, os pesquisadores defendem que da mesma forma que existe a conservação da natureza biológica, da mesma forma que existe a conservação de obras de arte, de casarios e prédios históricos, a geoconservação é muito importante e deve ser explorada, pois trabalha na conservação de tudo aquilo que existe de "geo". As pedras são usadas para calçamento, revestimento, como joias. "Mas existe uma outra coisa que é importante e que não é muito bem entendida no geral, é que elas têm um valor só pelo fato de serem o que são", afirma Paulo, que reforça que "é preciso que a geoconservação atinja as pessoas. A Universidade e a ação da Universidade é muito importante, mas sozinha ela não faz nada… é preciso que a sociedade entenda e tenha acesso à ação". 

 

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