Criado por Patrícia Pereira em qui, 02/05/2019 - 17:27 | Editado por Patrícia Pereira há 5 anos.
Energético, refrescante e saboroso, o açaí se tornou objeto de estudos científicos na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Uma das pesquisas sobre o fruto da Amazônia compõe a tese de doutorado defendida por Carla Teixeira Silva, junto ao Programa de Pós – Graduação em Ciências Biologicas (CBIOL/NUPEB), que aborda os efeitos do consumo de açaí na prevenção e evolução da artrite reumatoide, doença autoimune que afeta as membranas sinoviais (fina camada de tecido conjuntivo) de múltiplas articulações, como mãos, punhos e cotovelos.
Na pesquisa, a doutoranda analisou por meio de marcadores (parâmetros que indicam alterações) se o consumo de açaí apresentava algum reflexo na inflamação e no estresse oxidativo, condição biológica em que há um excesso de radicais livres.
Conforme a orientadora e diretora da Escola de Nutrição (ENUT) da UFOP, Renata Freitas, as condições são comuns em diversas patologias humanas, como diabetes, arterosclerose e síndrome metabólica.
A pesquisa foi realizada em camundongos, de acordo a professora da Enut e coorientadora do projeto, Joana Amaral. Segundo ela, a opção por trabalhar com roedores se deu pelo fato de a inflamação desenvolvida nas articulações do animal ocorrer de forma similar à dos seres humanos que possuem a doença. Outro fator importante é que não havia evidências de que o uso do açaí teria efeito para essa doença especificamente.
Joana conta que, nesse caso, a artrite foi provocada nos camundongos por meio da imunização, utilizando-se a proteína metilada mBSA (Albumina Bovina) associada ao adjuvante de FREUND - CFA (composto que ajuda a estimular o sistema imune). Os antígenos foram injetados subcutaneamente, a fim de desencadear o processo inflamatório nas articulações dos roedores. Esse método, segundo as professoras da ENUT é amplamente usado na literatura científica.
A PESQUISA – Os camundongos (C57Bl/6) fêmeas-adultos foram tratados com protocolos diferentes e divididos em quatro grupos específicos:
1º Grupo Controle (sem a doença): recebeu a dieta padrão durante todo o experimento e uma injeção de solução salina (inócua) na cauda no 14º dia.
2º Grupo Açaí (sem a doença): recebeu a dieta padrão mais 2% de polpa de açaí durante todo o experimento, além da aplicação da solução de salina no 14º dia.
3º Grupo Açaí - Artrite Prevenção: recebeu desde o primeiro dia até o final do experimento a dieta padrão mais 2% de açaí. No 14º dia, a artrite reumatoide foi induzida.
4º Grupo Açaí - Artrite Tratamento: recebeu a dieta padrão até o 14º dia, ocasião em que ocorreu a indução da artrite. Depois, passou a receber a dieta padrão com açaí até o final do experimento.
No 30º dia, os camundongos foram eutanasiados e as amostras biológicas foram coletadas para as análises. As polpas utilizadas no projeto, segundo Renata Freitas, são de fonte comercial e estão disponíveis em supermercados. "A ideia é simular o que as pessoas utilizam no dia a dia", declarou.
RESULTADO – Após as avaliações, Carla constatou a capacidade do açaí de promover um aumento na quantidade de células que possuem características de combate à inflamação, as chamadas células reguladoras (linfócitos Treg). A pesquisadora constatou ainda que, ao consumir o fruto, o animal portador da artrite obteve uma redução da atividade oxidativa, ou seja, houve a minimização da produção de radicais livres provenientes da doença. Além disso, houve alterações nas características sintomáticas da doença, fazendo com que o roedor inflamasse menos e possivelmente tivesse menos dores.
Portanto, a pesquisa mostrou que, com o consumo diário da polpa do açaí, os animais tiveram uma redução das lesões características da artrite reumatoide e um aumento das células reguladoras do sistema imune.
3.jpg
PERSPECTIVAS - Dando continuidade ao projeto, como trabalho de iniciação científica e de conclusão de curso, a graduanda de Nutrição Míriam Silva, sob orientação da professora Joana Amaral, investigará os mecanismos imunológicos pelos quais o açaí exerce a atividade antioxidante e anti-inflamatória. Em outra linha de investigação, conduzida por uma estudante de mestrado do CBIOL/NUPEB orientada pela professora Renata Freitas e coorientada pela professora Melina Oliveira de Souza, serão avaliados os efeitos do açaí sobre alterações da microbiota intestinal em animais com artrite reumatóide.
A tese foi defendida em 2018 e teve o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e da UFOP. Todos os animais utilizados foram cedidos pelo Centro de Ciência animal (CCA) da UFOP.