Criado por Patrícia Pereira em qua, 04/12/2019 - 11:08 | Editado por Patrícia Pereira há 4 anos.
O vírus Mayaro é pouco conhecido no Brasil, apesar de há muito tempo estar circulando no país, principalmente na região Norte. Seu vetor principal é o mosquito Haemagogus, que vive em áreas silvestres, como florestas e matas fechadas e transmite também a febre amarela silvestre. Por isso, uma das pesquisas mais promissoras do Laboratório de Biologia e Tecnologia de Micro-organismos (LBTM), do Departamento de Ciências Exatas e Biológicas (ICEB) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), é a análise da biologia do vírus Mayaro.
O Laboratório de Biologia e Tecnologia de Microrganismos (LBTM) é um laboratório de pesquisas básica e aplicada. A linha de pesquisa em vírus, os chamados arbovírus, transmitidos por vetores artrópodes, inclui doenças como Febre Amarela, Dengue, Chikungunya, Zika e Oropouche.
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A professora Cintia Lopes de Brito Magalhães coordenadora da pesquisa explica que o Mayaro é um vírus negligenciado, apesar de sua potência em emergir. "Pouco se sabe sobre o Mayaro. Temos poucos estudos a respeito, mas temos que tomar cuidado, pois o Brasil é um santuário para o vírus, principalmente para arbovírus, pois temos todas as condições ideais para a propagação deles, assim como acontece com Dengue, Zika e Chikungunya".
Para se ter uma ideia, a Febre de Mayaro teve seu primeiro caso registrado em 1954 na cidade de Mayaro, em Trinidad e Tobago. No Brasil, a doença foi detectada um ano depois, em 1955, na região Norte. Desde então tem sido registrada em vários países como Peru, Suriname, Guiana Francesa, Venezuela, Colômbia, Equador, Bolívia, Costa Rica, Guatemala e México.
"Esses estudos são muito importantes, pois com o auxílio de tecnologias desenvolvidas no laboratório, conseguimos entender como os vírus e os mosquitos circulam no país. Além disso, poderemos futuramente assessorar o corpo clínico de médicos", afirma Breno de Mello Silva, professor que também desenvolve pesquisas no LBTM.
A PESQUISA - A pesquisa sobre o Mayaro busca compreender a patogênese desse vírus, isto é, entender por que causam enfermidades e como agridem o organismo do hospedeiro.
No homem, a doença é muito parecida com a dengue, causando febre e indisposição. É classificado como "prima" do Chikungunya, pois causa reações parecidas, como dores nas articulações – mãos, cotovelos, pés, etc. Essas dores podem se estender por anos.
Inicialmente, os experimentos foram feitos em células. Agora, estão sendo avaliados em camundongos. A partir do estudo em animais descobriu-se uma reação importante da biologia dos vírus, o processo de estresse oxidativo.
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Segundo a professora Cíntia, esse processo é uma defesa do organismo, uma condição que o vírus manipula. "É uma produção de espécies nativas para combater esse agente, porém, com o efeito de resposta tão exacerbada da oxidação, o impacto que teria apenas no vírus acaba tendo no próprio hospedeiro", afirma. O objetivo é combater a doença através da oxidação do patógeno, ou seja, o agente infeccioso.
Além da análise sobre a importância do estresse oxidativo, os pesquisadores do laboratório estudam substâncias que possuem atividades antivirais e antioxidantes para ajudar a melhorar os sintomas da doença. "Podemos encontrar algo que module esse estresse impedindo dano ao hospedeiro e ajudando no combate ao vírus com substâncias antioxidantes, que podem ser ministrados pela pessoa, revertendo o dano que o vírus causa", complementa a pesquisadora.
VÍRUS EM ÁREAS URBANAS - Na região Amazônica, o vírus Mayaro é considerado endêmico. Porém, estudos recentes feitos pela UFRJ e USP detectaram o vírus nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, indicando o potencial de urbanização da febre de Mayaro no Brasil.
A preocupação maior dos especialistas da área é com relação a esta época do ano, quando os mosquitos tendem a se proliferar. O clima quente e úmido do verão aumenta a incidência de surtos de doenças transmitidas pelos mosquitos. No caso do Mayaro, após a picada do mosquito infectado, os sintomas se iniciam geralmente de um a três dias após a infecção, podendo variar de pessoa para pessoa. Os sintomas são: febre, calafrios, náuseas e dores nas articulações.