Toda universidade, seja ela pública ou privada, necessita de instituições parceiras e de apoio para fomentar a expansão da ciência e do conhecimento. No segmento das universidades federais, essas instituições têm a necessidade de ampliar ainda mais suas redes de parceria, a exemplo das relações internacionais com instituições estrangeiras.
Na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), essas relações são geridas desde 2009 pela Diretoria de Relações Internacionais (DRI) — inicialmente, Coordenadoria de Assuntos Internacionais (Caint). O setor atua na elaboração e divulgação de editais para capacitação dos estudantes em línguas estrangeiras e na promoção da mobilidade acadêmica internacional, além de fomentar relações internacionais e nacionais.
Para conversar sobre o cenário das relações internacionais na UFOP, o "Em Discussão" desta semana traz o diretor da DRI, o servidor técnico-administrativo Anderson Gamarano, graduado em Direito pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
Anderson, quais são as principais linhas de atuação da Diretoria de Relações Internacionais na Universidade?
A Diretoria de Relações Internacionais (DRI) da UFOP atua em diferentes linhas. Uma delas é o estabelecimento de contato formal e institucional com universidades, faculdades ou redes de cooperação internacionais. Muitos desses contatos geram convênios, que permitem ações de mobilidade, visitas, organização de eventos e uma série de outras atividades que envolvem toda a comunidade acadêmica. Trabalhamos também com a seleção e orientação de candidatos da comunidade acadêmica para ações de mobilidade ou visitas no exterior. Além disso, atuamos na seleção e orientação do público estrangeiro que a UFOP recebe — em geral, estudantes de graduação e pós-graduação que vêm aqui para realizar um período de estudos ou estágio durante algumas semanas ou professores, que normalmente passam um dia ou algumas horas realizando palestras e outras atividades. Hoje, também apoiamos o programa "Idioma Sem Fronteiras", um resquício do antigo programa "Ciências sem Fronteiras", que atua principalmente na oferta de cursos de idiomas estrangeiros. Ao longo do ano letivo, realizamos uma série de eventos ligados à internacionalização, sempre buscando promover e fortalecer nossas parcerias, e atuamos na divulgação de cursos, eventos, bolsas e outras oportunidades externas por meio das nossas redes sociais.
Quais são os principais projetos ou iniciativas em que a DRI está atualmente envolvida?
Atualmente, por meio de parcerias realizadas diretamente pela DRI, conseguimos promover cursos de língua e cultura espanhola em colaboração com três universidades da América do Sul: duas da Colômbia e uma do Chile. Assim, conseguimos oferecer cursos de espanhol para membros da nossa comunidade acadêmica e, ao mesmo tempo, disponibilizar cursos de português como língua estrangeira para estudantes dessas instituições. Também oferecemos o curso de língua e cultura chinesa para os nossos alunos e, da mesma forma, ofertamos o curso de língua portuguesa e cultura brasileira para os estudantes chineses. Um dos nossos focos principais está nas ações de idiomas, as quais estamos sempre buscando ampliar, também em parceria com o Departamento de Letras da UFOP.
Em relação aos cursos de língua estrangeira, quais os principais desafios na efetivação dessa política? Qual a importância da continuidade e ampliação desse recurso complementar de formação no cenário acadêmico?
O principal desafio são os recursos, financeiros, materiais e humanos. A DRI trabalha em parceria com docentes do Departamento de Letras (Delet/UFOP) especialistas no ensino e aprendizagem de língua estrangeira, buscando, juntos, novas parcerias e formas de expandir essas possibilidades de cooperação, considerando os convênios que nós possuímos. Não temos uma quantidade maior de cursos devido à falta de um programa nacional que envolva o ensino de idiomas estrangeiros. Uma orientação nacional faria bastante diferença, somada aos recursos e pessoas para poder levar à frente esses projetos. Apesar de a UFOP possuir o Delet, que pode ofertar o ensino das línguas portuguesa e inglesa, não temos professores de língua espanhola, alemã ou chinesa, por exemplo. Então, se tivéssemos departamentos que oferecessem esses cursos aqui na Universidade, com outras licenciaturas, certamente teríamos estudantes se especializando e, consequentemente, eles poderiam participar de projetos que atuassem na oferta desses cursos.
Aprender um idioma estrangeiro abre muitas portas, do ponto de vista pessoal, acadêmico e profissional, por isso é extremamente importante que cada vez mais a nossa comunidade acadêmica tenha acesso à oportunidade de fazer cursos de outros idiomas. Além de favorecer e possibilitar a mobilidade estudantil, que é uma das principais ações realizadas pela DRI, isso também abre uma série de outras oportunidades, por exemplo, as oportunidades externas que a gente divulga, que exigem algum grau de proficiência em língua estrangeira. Então, a partir do momento que a nossa comunidade esteja capacitada linguisticamente, outras portas vão se abrir.
O que ganha a sociedade, a médio e longo prazo, ao disponibilizar mobilidade internacional para os estudantes que estão em formação? A vivência internacional melhora a formação profissional?
Conforme comentamos nas reuniões de orientação que fazemos com os alunos aprovados no programa de mobilidade, é uma oportunidade muito mais do que acadêmica. Não se trata simplesmente de cursar disciplinas intercalando entre o idioma estrangeiro e o português e depois retornar para o UFOP. A longo prazo, esse aluno vai ter um grande ganho, primeiro, do ponto de vista pessoal — a partir do momento que você conhece outro país e outra cultura, você se torna um cidadão mais atento e aberto às diferenças. Tem também o ponto de vista profissional: você pode citar em seu currículo ou em uma entrevista que possui experiência internacional por meio de um acordo de cooperação. Mais do que uma viagem turística, trata-se de representar sua instituição e seu país — e isso tem um impacto muito grande.
O impacto é percebido na vida dos estudantes, dos docentes e dos técnicos administrativos, que também possuem oportunidades abertas para esse tipo de vivência internacional. Então o ganho não é só do ponto de vista acadêmico, mas também pessoal e profissional. Se todo membro da comunidade acadêmica tivesse acesso a um período no exterior, mesmo que curto, isso certamente iria contribuir muito para a formação dessa pessoa. Quando a gente passa por esse tipo de experiência, conseguimos nos colocar no lugar do outro e também procuramos apoiar o estrangeiro que está aqui. Muitas vezes nós somente notamos o quão difícil pode ser uma experiência para um estrangeiro quando passamos pelo mesmo tipo de experiência no exterior.
A UFOP também desenvolve programas de recepção de estudantes estrangeiros. Como você avalia os impactos de abrir oportunidades para estudantes da América Latina e da África (PEC-G), por exemplo?
Todos os semestres a UFOP recebe diversos estudantes estrangeiros. Durante a pandemia, essa ação foi interrompida quase totalmente, mas já voltamos a receber estudantes semestralmente. A maior parte desses estudantes vêm da América Latina e da África, em função do idioma, ou seja, são alunos que têm o português ou o espanhol como primeira língua. Assim, devido à proximidade desses idiomas, o estudante acaba conseguindo acompanhar as aulas e atividades acadêmicas oferecidas pela Universidade. Hoje, a nossa oferta de disciplinas em idioma estrangeiro é muito reduzida, o que limita a vinda de estudantes de outros países e regiões.
Por isso, nosso público principal são os falantes de português e espanhol, mas não exclusivamente. Outra estratégia que temos utilizado para atrair mais estrangeiros que não podem cursar disciplinas durante um semestre é a possibilidade de realização de estágios ou participação em projetos de pesquisa. Em relação ao público africano e latino-americano, grande parte dos que vêm para o Brasil, além do idioma, o fazem também pelos programas que participamos, como o Programa Estudante Convênio de Graduação (PEC-G). A UFOP participa há muito tempo do PEC-G e, por meio dele, recebe diversos estrangeiros da África e do restante da América Latina para realização de curso de graduação pleno na UFOP.
Também participamos de outros programas, promovidos por associações das quais fazemos parte, que trazem estudantes para fazer o curso de mestrado pleno ou de doutorado pleno, como por exemplo o Programa de Alianças para Educação e Capacitação (Paec), o Programa de Formação de Professores de Educação Superior de Países Africanos (Proafri) e o Programa GCUB de Mobilidade Internacional (GCUB-Mob). Todos esses programas são oferecidos por uma associação da qual a UFOP faz parte e, por meio dela, nós recebemos professores universitários que vêm buscar uma formação acadêmica. No próximo ano, vamos receber 31 candidatos para realização de mestrado ou doutorado. A participação nesses programas que buscam estabelecer e incentivar uma relação Sul-Sul é extremamente importante para abrir a nossa Instituição.
Além dos estudantes, quais as políticas implantadas e ainda demandadas para que os docentes e os técnicos administrativos da UFOP possam ter experiências internacionais? Como você avalia que essa atuação pode beneficiar a UFOP como um todo?
Em relação aos técnicos administrativos, nós estamos em contato com a Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (Progep) para que façamos um levantamento dos custos envolvidos para que eles tenham uma experiência de mobilidade profissional no exterior. Também estamos em contato com nossos parceiros estrangeiros para saber quais deles estão disponíveis para receber nossos técnicos, bem como para estimar o custo dessa ação. Nossa ideia é, após esse levantamento, discutir junto à Progep o retorno da mobilidade dos técnicos administrativos. Desse modo, poderemos criar um edital e realizar uma convocatória assim que tivermos certeza do orçamento que estará disponível para o próximo ano. Esperamos que no próximo ano tenhamos novidades sobre oportunidades para esse público extremamente importante para a Universidade.
Agora, em relação aos docentes, trabalhamos no apoio direto e indireto a esse público. Grande parte da mobilidade dos professores é feita por meio de convocatórias externas, ou seja, dos órgãos de fomento, ou por meio dos contatos que eles possuem com outros profissionais de universidades estrangeiras. Normalmente, uma parte dos professores que sai do Brasil vai para eventos, sem envolvimento direto com a DRI, ou para fazer pós-doutorado no exterior, com regulamentação prevista pela Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação (Proppi). Apesar de a maior parte do trabalho da DRI envolver os discentes, também estamos disponíveis para apoiar ações dos servidores técnico-administrativos e professores. Fazemos isso principalmente por meio da orientação e divulgação de oportunidades externas.
Da mesma forma que uma experiência no exterior tem muito a contribuir para a formação do estudante, pode enriquecer também a formação do servidor. Com a experiência no exterior, vem a oportunidade de abrir os olhos para uma nova cultura e de mudar a visão em relação ao mundo. Nos tornamos pessoas mais abertas. Ao receber um estrangeiro em uma disciplina que está ministrando ou no setor administrativo no qual trabalha, o servidor se lembra de tudo aquilo que passou quando estava no exterior. Há um ganho de maturidade para poder lidar com esse público diverso.
EM DISCUSSÃO - Esta seção é ocupada por uma entrevista, no formato pingue-pongue, realizada com um integrante da comunidade ufopiana. O espaço tem a função de divulgar as temáticas em pauta no universo acadêmico e trazer o ponto de vista de especialistas sobre assuntos relevantes para a sociedade.
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