O projeto é desenvolvido na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e na PUC-Rio. A ideia é que a nova tecnologia funcione como um oxímetro convencional, com a diferença de que, neste sistema, os resultados são compartilhados com um servidor central e analisados por entidades de saúde competentes. Atualmente, o dispositivo passa por avaliações, principalmente para validação dos sensores responsáveis pela leitura dos dados coletados.
O oxímetro é um pequeno aparelho que possibilita a oximetria, um exame não invasivo que aponta a taxa de oxigenação do sangue. O primeiro país a identificar a redução na oxigenação sanguínea em pacientes infectados com o Sars-Cov-2, o vírus responsável pela Covid-19, foi a Itália. Desde então, o teste tem sido uma das formas mais eficazes para se identificar as pessoas possivelmente acometidas pela doença, já que muitas vezes os sintomas mais comuns, como febre, tosse seca e cansaço, não são indicativos explícitos da Covid-19.
Segundo o professor do Departamento de Computação e Sistemas (Decsi) e um dos coordenadores do Laboratório iMobilis, em João Monlevade, Vicente José Peixoto de Amorim, as ações que convergiram para a criação do sistema acontecem em duas frentes. "Na UFOP, desenvolvemos o hardware (a parte mecânica do aparelho, por assim dizer), que conta com um rádio transmissor interno com bateria e antenas instaladas que suportam a tecnologia LoRa, necessária para a coleta e transmissão dos dados dos pacientes. Em linguagem simplificada, poderíamos comparar a uma rede de celular dedicada". LoRa, ele explica, é um acrônimo em inglês para long range, que em tradução literal significa "longo alcance", uma nova especificação de redes interconectadas sem fio, semelhante aos já popularmente conhecidos bluetooth e Wi-Fi, que permite comunicações em longas distâncias. Em áreas urbanas, o alcance da tecnologia pode chegar a até 5km.
Assim como o equipamento convencional, o novo sensor oxímetro mede os diferentes comprimentos de onda da luz ao passar pela ponta do dedo, já que as hemoglobinas oxigenadas apresentam maior absorção da luz, em comparação com as deficitárias, fornecendo o diagnóstico da pressão parcial de oxigênio no sangue. Se o número registrado for inferior a 90%, o paciente deve procurar um hospital. Além disso, o aparelho não exige infraestrutura preexistente, como conexão à internet, por exemplo. Na avaliação do professor e pesquisador da UFOP, isso universaliza o uso do aparelho.
TRABALHO CONJUNTO - O modelo criado para coleta e transmissão de dados pode ser identificado com o conceito de internet das coisas (IoT, do inglês Internet of Things), que se refere à interconexão digital entre diferentes objetos, e não de pessoas. É nesta frente que trabalham os pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), que desenvolvem o sistema de sensoriamento e análise dos dados. Em matéria publicada no site institucional da PUC-Rio, o supervisor de redes do Centro de Estudos em Telecomunicações (Cetuc), Marcelo Balisteri, ressaltou a funcionalidade da rede LoRa, que tem baixo consumo de energia, e afirmou que "os dados podem ser tratados com algoritmos de inteligência artificial para dar previsibilidade da necessidade de atendimento de uma pessoa infectada por Covid-19", o que poderia resultar na redução do fluxo de pacientes atendidos em hospitais públicos e privados.
Vicente ressalta que existe ainda um esforço de desenvolvimento necessário para tornar o aparelho um produto final e acessível ao mercado.