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Alimentação como elemento essencial para uma saúde mental em dia

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Desde o início de 2020, quando a humanidade começou a enfrentar a pandemia causada pelo novo coronavírus, pessoas de várias partes do mundo tiveram que se isolar em suas casas em uma tentativa de conter o avanço e o contágio da doença. Assim, para nossa própria segurança, tivemos que nos adaptar a novas maneiras de estudar, trabalhar e, sobretudo, nos relacionar com outras pessoas e com o mundo. 
 
Essa mudança brusca em nossa forma de viver, que causou sequelas em todas as instâncias da sociedade humana, também impactou e continua interferindo na saúde mental das pessoas. E neste cenário — no qual a maioria da população está fragilizada emocionalmente pelos mais de 18 meses de isolamento — transtornos mentais como ansiedade e depressão se tornaram mais frequentes.
 
No Em Discussão desta semana, participa a pesquisadora Adriana Lúcia Meireles, professora adjunta de Epidemiologia e integrante permanente do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Nutrição (PPSN) da Escola de Nutrição (Enut) da UFOP. Na pós-graduação, ela orienta pesquisas ligadas à epidemiologia das doenças crônicas não transmissíveis e, mais recentemente, à epidemiologia da Covid-19. A professora também é coordenadora do Projeto Ansiedade e Depressão em Universitários (PADu).
 
Na entrevista, Adriana apresentou dados coletados na pesquisa sobre a saúde emocional de estudantes e servidores da Universidade na pandemia, além de indicar como a alimentação e a prática de exercícios físicos estão relacionadas ao bem-estar emocional. Ela explica que saúde mental e alimentação saudável andam juntas: "estudos científicos têm apontado uma associação entre dieta e saúde mental, mostrando que dietas mais saudáveis estão associadas ao menor risco de sintomas depressivos".
 
Professora, você coordena o Projeto Ansiedade e Depressão entre universitários (PADu) e a pesquisa que tem sido feita desde o início da pandemia. Por favor, comece nos explicando o que é o PADu.
 
O PADu tem diversos subprojetos de pesquisa que estão sendo conduzidos concomitantemente. Destaco aqui o PADu-COVID e o PADu-Federais. O Padu-COVID é um estudo longitudinal que coletou dados de toda a comunidade acadêmica da UFOP, por meio de um questionário on-line enviado para os servidores e estudantes de graduação em quatro momentos da pandemia, sendo a primeira coleta realizada em julho/agosto de 2020 e a última em julho/agosto de 2021. Responderam aos questionários 372 servidores e 1353 estudantes de graduação. O PADu-Federais é outro importante braço do PADu que iniciará a coleta de dados em setembro de 2021 e irá avaliar a saúde mental e outros comportamentos de saúde de estudantes de graduação de dez universidades federais de Minas Gerais.
 
De uma forma geral, podemos associar os hábitos alimentares e a condição de saúde mental das pessoas? Quais são os principais erros que você apontaria?
 
Alguns estudos científicos têm apontado uma associação entre dieta e saúde mental, mostrando que dietas mais saudáveis estão associadas ao menor risco de sintomas depressivos. E nestes casos as dietas mais saudáveis têm baixo consumo de ultraprocessados. Os ultraprocessados são produtos alimentícios altamente industrializados, que geralmente estão prontos para consumo ou rapidamente preparados, com alta palatabilidade, porém alto teor de gordura e sódio ou açúcar e baixo teor de fibras.
 
A partir da pesquisa, quais impactos são possíveis apontar, especificamente neste período de pandemia, sobre a alimentação e a saúde mental dos estudantes e servidores da UFOP?
 
Nós ainda estamos investigando os resultados de forma longitudinal e ainda não conseguimos trazer resultados sobre a melhora ou piora dos hábitos alimentares. Porém, o que observamos na primeira coleta de dados, em julho de 2020, bem no início da pandemia, foi: 46,05% dos estudantes e 14,47% dos servidores tinham sintomas moderados ou graves de ansiedade; 54,62% dos estudantes e 22,85% dos servidores tinham sintomas moderados ou graves de depressão.
 
Em relação a alguns comportamentos de saúde, observamos que: entre os 1353 estudantes universitários, 39,4% apresentaram consumo regular de frutas (cinco ou mais dias da semana) e 59,5% de hortaliças (cinco ou mais dias da semana), 12,3% consumiram refrigerantes e 13,8% guloseimas/doces regularmente (cinco ou mais dias da semana). Em relação aos servidores, 60,8% apresentaram consumo regular de frutas, 72,9% consumo regular de hortaliças, 5,4% consumo de refrigerante e 10,5% consumo de guloseimas e doces regularmente; 46,1% dos servidores apresentavam excesso de peso e 32,8% dos universitários estavam com excesso de peso. 64,6% dos estudantes praticavam exercício físico; 72,3% dos servidores praticavam exercício físico.
 

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Divulgação
 
A pesquisa trouxe dados em relação a outras questões pertinentes neste período, como o comportamento para evitar a transmissão do coronavírus ou como a renda familiar foi afetada?
 
Alguns achados interessantes referentes ao período de julho/agosto de 2020: 88,7% dos estudantes e 94,1% dos servidores afirmavam estar em distanciamento social; 54,3% dos estudantes tinham renda familiar igual ou menor que três salários-mínimos; 49,45% dos estudantes afirmaram que a renda familiar diminuiu em até 50% após o início da pandemia; e 7,02% dos estudantes disseram que a renda familiar diminuiu mais de 50% após o início da pandemia.
 
Quais hábitos você aponta como essenciais para que servidores e estudantes possam manter a saúde mental bem durante a pandemia?
 
Manter ou iniciar a prática de atividade física no lazer, organizar e gerenciar o tempo, também colocando na agenda momentos de descanso e lazer, e, sempre que possível, fazer escolhas alimentares mais saudáveis, priorizando alimentos mais naturais e pouco processados. 
 
SETEMBRO AMARELO - Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), organiza nacionalmente o Setembro Amarelo, que se tornou o mês de prevenção ao suicídio. Desde então, a campanha cresceu e, neste período, a saúde mental passou a ser tema constante na imprensa. 
 
A UFOP busca manter projetos relacionadas ao tema durante todo o ano, como o Abrace, grupo terapêutico aberto à comunidade da Universidade criado em 2019 e que, desde a suspensão das atividades presenciais, passou a atender remotamente. 
 
Outras ações desenvolvidas pela comunidade são viabilizadas pelo Programa de Incentivo à Diversidade e Convivência (Pidic), iniciativa vinculada à Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários e Estudantis (Prace) da UFOP que tem como objetivo implementar atividades de ações afirmativas na Universidade de forma articulada ao ensino, à pesquisa e à extensão, a fim de ampliar as condições de permanência de estudantes da graduação. A Prace também oferece apoio psicológico aos membros da comunidade acadêmica.
 
EM DISCUSSÃO - Esta seção é ocupada por uma entrevista, no formato pingue-pongue, realizada com um integrante da comunidade ufopiana. O espaço tem a função de divulgar as temáticas em pauta no universo acadêmico e trazer o ponto de vista de especialistas sobre assuntos relevantes para a sociedade.
 
Confira todas as entrevistas publicadas.

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