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Cuidar de si e cuidar do próximo no retorno presencial

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Pouco a pouco, graças ao avanço da ciência, refletido na vacinação mundial, as atividades presenciais estão retornando gradualmente ao nosso cotidiano. Neste cenário, as pessoas ficam divididas sobre a retomada, alguns apoiam e enxergam essas medidas como uma possível luz no fim do túnel, outros ficam receosos com o "novo normal". 
 
Na Universidade, o retorno trouxe consigo muitas novidades para alguns, como a oportunidade de iniciar, conhecer um ambiente diferente, os campi da UFOP e as cidades de Ouro Preto, Mariana e João Monlevade. Já para outros, a palavra correta seria continuar, seguir adiante e dar sequência aos projetos, que não pararam durante a pandemia. Por fim, recomeçar também é um caminho importante que compõe a jornada de todos aqueles que já se dedicavam para manter o ensino na Universidade e a preservação de todos os espaços.
 
Continuar, recomeçar e iniciar são passos necessários a se tomar, apesar de todos os desafios impostos pelo retorno. Diante de todos os acontecimentos, perdas e lutos dos últimos dois anos, a UFOP está ao lado de cada um dos alunos, técnicos e professores, para apoiá-los, indiferentemente do problema. 
 
A Universidade busca entregar um ambiente seguro e suporte a todo o corpo acadêmico durante as atividades presenciais, através de medidas preventivas, como a exigência do certificado de vacinação e a disponibilização de uma estrutura preparada com itens de higienização. O serviço de assistência psicológica também segue disponível para esse acolhimento. 
 
A saúde mental foi uma preocupação constante no período de isolamento e deve continuar sendo, devido aos novos desafios trazidos pelo retorno ao presencial. Para contribuir com a discussão e esclarecer algumas duvidas sobre o assunto, o convidado do "Em Discussão" desta semana é o psicólogo da Pró-Reitoria de Assistência Comunitária e Estudantil (Prace) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) Leandro Henriques. 
 
Após dois anos de pandemia e com o retomo às atividades presenciais, como restabelecer as relações sociais, cuidar da saúde mental e da prevenção contra a covid-19 e conciliar isso tudo com as responsabilidades acadêmicas?
 
Inicialmente, considero muito importante enfatizar o quanto devemos encarar esse retorno presencial de forma positiva, mas com bastante atenção. Atenção, no sentido de que as pessoas viveram experiências novas que podem impactar na sua relação com as questões acadêmicas. Em um primeiro momento, observa-se queixas frequentes em relação a atenção, disposição, concentração e memória. Tais apontamentos se relacionam diretamente com as questões acadêmicas, mas também com as relações sociais cotidianas. Lidarmos com as pessoas de forma atenta e cuidadosa nesse momento pós-pandemia considero ser a dica mais preciosa, isto é, acredito que seja a maior representação de cuidado com o outro. Assim, seja em relação aos estudantes, aos colegas de trabalho ou familiares, nos apresentarmos como pessoas dispostas a acolher, a entender como o outro retorna à Universidade e à rotina "quase normal” é um desafio positivo e necessário. Assim, especificamente aos estudantes, diria o quanto é necessário estabelecer relações saudáveis com pessoas dispostas a dialogar, a compreender e, principalmente, encarar as demandas acadêmicas considerando seu ritmo pós-pandemia. Nesse ponto, cabe destacar a área de Orientação Estudantil da Prace como espaço de referência para estudantes. Caso precisem de ajuda nessa articulação entre vida acadêmica e pessoal, podem solicitar atendimento individual ou em grupo pelo e-mail orientacaoestudantil.prace@ufop.edu.br.
 
Muitos podem não estar prontos para lidar com o recomeço neste momento, e podem desenvolver quadros de ansiedade, pânico e sofrimento psicológico. Como a Prace pode ajudar quem precisa de atendimento psicológico neste momento e ao longo do período letivo?
 
Podemos caracterizar o momento da pandemia como complexo e desafiador. Os meses iniciais foram marcados pela imprevisibilidade do que estaria por vir, gerando expectativas e dificuldades de saber, ao certo, quais comportamentos garantiriam, de fato, nossa segurança. Esse primeiro momento contribuiu muito para um mal-estar coletivo, permeado de inseguranças em relação às nossas rotinas. Atualmente constata-se, a partir das pesquisas, o quanto a pandemia influenciou na saúde mental das pessoas. A partir desse cenário e considerando as necessidades dos nossos discentes, estamos fortalecendo cada vez mais a divulgação dos nossos espaços de acolhimento, seja através do Portas Abertas (portasabertas.csaude@ufop.edu.br) ou da rede de saúde mental do município, para os casos graves ou crises (a referência é o Centro de Atenção Psicossocial - Caps).
 
Estudantes, professores e técnicos também enfrentam o "novo normal" imposto pela pandemia. Como lidar com as pressões do trabalho e do ensino presenciais, principalmente porque muitos ainda estão remotamente?
 
De fato, podemos entender esse momento como "novo normal", isto é, jamais acreditarmos que tudo será como antes. Falo isso tanto no sentido positivo, como negativo. Se em termos negativos podemos citar as mortes (principalmente no momento anterior à vacinação), o adoecimento mental das pessoas e os desafios iniciais do teletrabalho, temos que destacar também as questões positivas. Positivamente, com o tempo, o teletrabalho garantiu maior aprendizado em relação às novas tecnologias que, hoje, garantem enorme otimização do trabalho e possibilidades de articularmos com uma rotina pessoal mais saudável, alinhada à melhor qualidade de vida. Lembrando que nunca, no campo da saúde mental, podemos generalizar. E é justamente essa percepção do indivíduo (do caso a caso) que deve permear as novas relações no trabalho e as cobranças a serem feitas. Para isso, sugiro que sejam criados espaços de diálogo nos setores, tanto para nos atentarmos às emoções do outro, mas também e, principalmente, para considerarmos quais serão os aprendizados e desafios deste momento de retorno presencial. Aparentemente, tudo pode parecer como antes, mas não é. E dialogar sobre o que mudou garantirá menos sofrimento, tanto aos que voltaram presencialmente como para as pessoas que continuam trabalhando de forma remota.
 
A segurança é um desafio para todos neste momento. Como manter a calma e sentir-se seguro nessa situação?
 
Não inventaram uma pílula capaz de acabar de vez com a ansiedade ou o sentimento de mal-estar. Isso nos leva a ter que lidar (sozinhos ou com ajuda profissional) com sentimentos ruins e pensarmos em estratégias para lidar com esses pensamentos. Nesse ponto, cabe percebermos as influências que colaboram para o sentimento de mal-estar. Assim, em termos de recomendação: acompanhe canais de referência científica (lembrando que a UFOP possui um Comitê de Enfrentamento à Covid alinhado à perspectiva científica) e procure criar uma rotina semanal. Essa rotina deve estabelecer os compromissos profissionais, acadêmicos e pessoais, considerando suas necessidades e o cenário específico que estamos vivendo. Uma nova rotina, considerando nossas necessidades e possibilidades, influenciará na sensação de controle e bem-estar, principalmente num momento marcado pela imprevisibilidade.
 
O que ganhamos com os desafios enfrentados nestes dois anos? Estamos mais preparados para situações similares?
 
A pandemia, de forma geral, serviu para impactar a nossa rotina. Dificilmente alguém viveu esses dois anos sem precisar fazer algum tipo de mudança em suas vidas, ou adotar um novo hábito ou comportamento. Considerando essa necessidade de mudança, poderíamos entendê-la como positiva. Porém, foi um momento de grandes perdas: milhares de pessoas morreram, pessoas foram contaminadas e hoje vivem com sequelas. Assim, não há motivos para comemorar. Ganhamos com a pandemia a chance de redobrarmos nossa atenção para as escolhas que garantiram vida e aprendizado. Ganhamos a chance de entendermos como as nossas escolhas políticas podem evitar mortes. Ganhamos uma nova chance e cabe a cada um de nós refletir quais foram os ganhos e propósitos de continuarmos vivendo. Considerando que estar preparado para viver uma pandemia não é algo meramente individual, mas que depende de políticas públicas eficientes, tendo a acreditar que as pessoas estarão mais atentas nas escolhas políticas que farão. Estar mais preparado para a pandemia implica escolher quais pessoas, de fato, possuem um olhar humano para os outros.

EM DISCUSSÃO - Esta seção é ocupada por uma entrevista, no formato pingue-pongue, realizada com um integrante da comunidade ufopiana. O espaço tem a função de divulgar as temáticas em pauta no universo acadêmico e trazer o ponto de vista de especialistas sobre assuntos relevantes para a sociedade. Confira todas as entrevistas publicadas.

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