Ir para o conteúdo

Tecnologias que derrubam barreiras

Twitter icon
Facebook icon
Google icon
 
Nossas vidas vêm se tornando cada dia mais direcionadas ao meio digital e, atualmente, grande parte das atividades de nosso dia a dia envolvem de alguma forma a web. É exatamente essa maior dependência da internet que traz questionamentos sobre como ela ainda é inacessível para uma parcela considerável da população.
 
Para pessoas com deficiência e até para aquelas com dificuldades temporárias, o mundo digital ainda apresenta barreiras consideráveis no que diz respeito ao acesso. Por isso, para falar de acessibilidade na web, o "Em Discussão" desta semana conta com a professora do Departamento de Computação e Sistemas da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) Lucinéia Souza Maia. 
 
Lucinéia é doutora em Gestão e Organização do Conhecimento pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), além de possuir mestrado em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Atualmente, ocupa o cargo de vice-diretora do Instituto de Ciências Exatas e Aplicadas (Icea), no campus da UFOP em João Monlevade.
 
A professora conta que adquiriu interesse em estudar acessibilidade quando, ainda na graduação, lecionou informática para dois alunos do ensino fundamental que eram cegos. Na entrevista, ela aborda as novas tecnologias que estão surgindo para melhorar o cenário e o papel da UFOP e de instituições privadas na busca por uma rede mais inclusiva. 
 
Professora, a internet assumiu uma posição de maior destaque em nossas vidas como mediadora de interações, principalmente no cenário pandêmico. Essa demanda crescente de acesso ao mundo digital revela desnivelamentos no que se refere a alguns grupos específicos?
 
Sim. Além das pessoas com deficiência, também vimos a dificuldade de acesso de pessoas com baixa renda ou pessoas com hardwares e/ou softwares insuficientes ou inadequados. Isso foi um dos grandes obstáculos que presenciamos na pandemia, principalmente para alunos de escola pública, que por vezes não contavam com equipamentos suficientes para todos os membros da família. Quando tratamos de pessoas com deficiência, aumenta ainda mais esse desnivelamento, pois existem todas as necessidades específicas, adaptações e até a atenção especial que esses grupos demandam.
 
Além das legendas, descrições de áudio e o uso da hashtag "#PraTodoMundoVer", quais outras ferramentas de acessibilidade existem para tornar a rede mais inclusiva?
 
A #pratodomundover é usada somente nas redes sociais, onde há uma descrição dos elementos ou da mensagem que aquela imagem quer passar para o cego. Para as pessoas cegas, a maior dificuldade realmente são as imagens, pois os leitores de tela sintetizam o conteúdo da tela em uma voz audível.
 
Existem ferramentas que geram descrição de áudio e legendas automaticamente, mas elas devem ser usadas com bom senso, sabendo qual deve ser a mensagem principal transmitida por aquela imagem. Além disso, também há otimizações para tornar páginas — fora das redes sociais — mais acessíveis, como é o caso do texto alternativo (alt text), do contraste adequado entre a cor do conteúdo e a cor do fundo da página, além de tornar o conteúdo acessível para os diversos tamanhos de tela, possibilitando também que usuários de baixa visão deem zoom na página. 
 
Os softwares de comando de voz também devem ser pensados para funcionar com os mais diferentes tipos de dicção. Além disso, páginas que têm um tempo limite para serem preenchidas devem possuir um tempo que não exclua o acesso de pessoas com dificuldades motoras, por exemplo. Os captchas e mecanismos de autenticação, da mesma forma, devem ser pensados para que não atrapalhem pessoas cegas ou com baixa visão. Por fim, a linguagem também deve ser simples, dentre vários outros pontos, para facilitar o trabalho de tradutores automáticos, por exemplo.
 
Qual o panorama das leis para a acessibilidade digital no Brasil? Nos últimos anos houve algum avanço?
 
Houve avanços, sim. Em 2000, foi decretada a Lei nº 10.098, que trata dos critérios básicos de acessibilidade de forma geral, abrangendo a arquitetura, transporte e meios de comunicação, além de acessibilidade de sites. Entretanto, essa lei tornava obrigatório que apenas sites oficiais e governamentais fossem acessíveis.
 
Em 2015, foi instituída a Lei Brasileira para Inclusão de Pessoas com Deficiência, que ampliou a lei anterior em vários aspectos e incluiu a responsabilidade de prover acessibilidade nas páginas da web para empresas privadas e até pessoas físicas, já que qualquer um pode ter uma página ou blog. Esse foi um avanço considerável, e é perceptível que as pessoas com deficiência estão ganhando mais espaço no mundo digital e fora dele, mas tudo isso ainda é muito pouco comparado ao que ainda tem que ser feito.
 
As pessoas têm adaptado tarefas diárias, como estudar, trabalhar e até socializar por meio de dispositivos de acesso digital. Quais tecnologias você destaca para incluir pessoas com deficiência — ou pessoas com limitação temporária — no mundo digital?
 
Não existe uma tecnologia específica. São várias e cada uma atende a um público específico. Há casos também em que as pessoas, principalmente as mais velhas, possuem dificuldade para aprender a utilizar aquela tecnologia, possuem uma grande barreira de aprendizagem. Também existem pessoas que possuem deficiências severas ou múltiplas deficiências, que necessitam de equipamentos muito específicos para atender suas necessidades. Então, um equipamento pensado para o cego, por exemplo, não poderia atender alguém que além de cego possui dificuldades motoras.
 
Paralelamente, existem tecnologias que servem para inúmeros grupos, como é o caso das tecnologias de comando de voz. Além dos cegos, essas tecnologias servem para pessoas idosas com dificuldades de digitação, para pessoas com deficiências motoras ou até com limitações temporárias — braços fraturados, etc.
 
Como universidade pública que também é espaço de aprendizagem para tantos alunos com deficiência, qual o papel da UFOP nessa missão de transformar a web em um lugar mais acessível?
 
Em primeiro lugar, é papel da universidade fazer cumprir a lei. Além da questão da legalidade, é papel da universidade garantir que todos tenham acesso à web, que a cada dia ganha mais volume de conteúdo. É essencial também garantir que todos tenham autonomia para realizar suas atividades. 
 
Para pessoas com deficiência, uma das coisas mais importantes é a autonomia para realizar suas tarefas sem que haja dependência de terceiros. Por isso, é papel da universidade prover esses ambientes, seja no digital ou no mundo real.
 
Nós, como professores, também precisamos entender nosso papel de criar conteúdos acessíveis. Nesse âmbito, a UFOP poder contar com o Núcleo de Educação Inclusiva (NEI) para oferecer suporte para lidar com essas questões também é algo de grande valia.
 
Entretanto, ainda precisamos ter atenção às páginas internas dentro do domínio ufop.br, que nem sempre são otimizadas e acessíveis para todos.
 
Empresas como a Google e outros gigantes da tecnologia levam em consideração o grau de acessibilidade dos sites ao indexar uma página em seu mecanismo de busca. Qual a importância desse tipo de ação das empresas de tecnologia para tornar a internet mais acessível?
 
Quando uma grande empresa veste a camisa de alguma causa, essa causa ganha uma força que atinge esferas que, por vezes, um indivíduo comum talvez não conseguisse atingir. Também temos que pensar que toda ação que promova a acessibilidade faz a diferença na vida dessas pessoas.
 
É perceptível, quando se está envolvido em um projeto com pessoas com deficiência, a alegria delas e da família quando percebem que alguém direcionou o olhar para elas. Por isso, tornar a internet — que hoje concentra grande parte de nossas vidas — mais acessível, significa tornar a vida das pessoas com deficiência mais fácil.
 
EM DISCUSSÃO - Esta seção é ocupada por uma entrevista, no formato pingue-pongue, realizada com um integrante da comunidade ufopiana. O espaço tem a função de divulgar as temáticas em pauta no universo acadêmico e trazer o ponto de vista de especialistas sobre assuntos relevantes para a sociedade.
 

Veja também

14 Dezembro 2023

destaque_2.jpg Em 2015, entrou em vigor a Lei Brasileira de Inclusão (LBI), também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência,...

Leia mais

6 Dezembro 2023

destaque_.jpg A Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) é uma iniciativa nacional dirigida às escolas públicas e privadas...

Leia mais

22 Novembro 2023

destaque_1.jpg Toda universidade, seja ela pública ou privada, necessita de instituições parceiras e de apoio para fomentar a expansão da...

Leia mais

30 Outubro 2023

destaque_.jpg NPG A internet, os celulares e os computadores têm se tornado cada vez mais presentes nas interações sociais e,...

Leia mais