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Criado por Marcelo Afonso em seg, 19/11/2018 - 12:06 | Editado por Patrícia Pereira há 6 anos.
O nome escolhido para a exposição é rico em significados. Agô é uma árvore cultuada como divindade. Seus adoradores a consideram um elo entre o centro da Terra e todo o alto do céu. O dentro e o fora, o fechado e o aberto. De alguma forma, representa a dualidade entre vida e morte. Além de árvore, Agô é parte do vocabulário yorubá e significa algo entre "licença" e "bênção". Uma forma simbólica de remeter à constante necessidade a que os falantes da língua ou seus herdeiros se veem submetidos ao pedir permissão para manifestar sua tradição pelo mundo.
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Os povos negros da região de Mina Jeje foram violentamente trasladados para as Américas, com destino ao trabalho compulsório. Em terras brasileiras, a adaptabilidade ao território e ao meio social foi necessária e a criatividade foi instrumento de sobrevivência. Agô, então, contempla a dinâmica das manifestações e conhecimentos pulsantes do povo que ajudou a movimentar os motores da antiga Vila Rica.
Jackson dos Santos, estudante do sétimo período do curso de Museologia e membro da equipe de pesquisa que deu vida à exposição, afirma que "o negro é sempre representado no contexto de tortura e escravidão, nunca mencionado como pensante e produtor cultural, sempre como objeto do olhar subjugador do branco".
A partir dessa premissa, a turma procurou movimentos negros de Ouro Preto, como o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (NEAB), assim como pesquisadores e colecionadores que pudessem oferecer elementos para compor o corpo da exposição. Eduardo Evangelista Ferreira (Du da Mina do Veloso), Luiz Antônio Rodrigues (Chiquitão) e Ane Souz foram os nomes que emprestaram a maioria dos objetos e fotografias expostas.
Para Dayane Paes, também estudante do sétimo período do curso de Museologia e integrante da equipe que reuniu o acervo, "existe essa deficiência de objetos e aspectos culturais afro-brasileiros nos museus pela falta de cuidado e de estratégias de conservação, devido à cultura de não valorização desses bens ou, até mesmo, pela destruição proposital como forma de apagar do mapa esse histórico brasileiro, o que explica termos de preferir meios alternativos de captação desse material".
A denominação é justificada pela própria constituição de Mina Jeje. A região foi estabelecida pela reunião de uma miríade de povos, vindos de variadas aldeias, províncias e reinos. Dessa forma, criou-se uma suposta etnia Jeje, assim como uma suposta língua Jeje. Porém, não há como afirmar com precisão quais povos ou quais variações linguísticas prevaleciam na região. O que se sabe é que existem na África quatro troncos linguísticos e que os dialetos falados na região da Costa da Mina compartilhavam o mesmo tronco, conhecido como Congo-Cordofiano.