Agricultura familiar dentro da Universidade e suas afetividades

Em um sítio localizado próximo ao distrito de Cachoeira do Brumado, em Mariana, Júlio César Fortes de Paula, 45 anos, junto da sua esposa Célia do Carmo Corsino, 35 anos, cultivam sua horta com todo carinho e dedicação, desde o plantio até a banca da feira. O amor e cuidado com os produtos e clientes transparece. Todos os alimentos são separados de forma organizada e limpa. Sua clientela é sempre recebida com um sorriso no rosto e muita simpatia.

 

"A rotina nossa é levantar cedo, bem cedinho, a gente já parte pra horta com os filhos e maneja os gados de leite pra fazer queijo. A parte da tarde, geralmente, é mais limpando a horta, praticamente quase todo dia ali. Terça-feira minha esposa fica preparando mais os bolos, os pães. Na quarta nós vamos para a feira." É o que conta Júlio sobre o dia a dia com sua família, que é uma das trabalham em conjunto com o projeto de extensão Agricultura Familiar, criado pela professora Maria Alice Singulano, em 2017. Júlio vende seus produtos no Centro de Convergência, no campus da UFOP no Morro do Cruzeiro, em Ouro Preto. 

 

A outra família que trabalha com o projeto, do José Eidi da Fonseca, atende no Icsa, em Mariana. Seu José, de 59 anos, demonstra orgulho de seu trabalho: "Minhas verduras são todas orgânicas. Quem planta sou eu, minha esposa, mais três filhas e uma nora." 

 

 

A iniciativa faz parte de um movimento nacional pela Agricultura Familiar, um modo de produção agrícola fundamentado em pequenas propriedades rurais e trabalhado pelos núcleos familiares dos produtores. Os principais objetivos do projeto são gerar renda e trabalho para as famílias de Ouro Preto e Mariana e estimular a produção e o consumo de produtos livres de agrotóxicos com preços justos.

 

O projeto agrega não apenas valor socioeconômico propriamente dito, mas também aspectos de um local, um espaço e uma região. Dessa forma, é possível ligar o social, o cultural, o ambiental e o institucional juntando-os à economia, formando assim a estrutura básica do desenvolvimento. Essa troca entre o público acadêmico e os agricultores se dá de forma direta e informal, propiciando a partilha de experiências e saberes através do diálogo.

 

PLANTIO ORGÂNICO - Considerando que de acordo com a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) o brasileiro consome sete litros per capita de veneno a cada ano, o investimento na produção familiar é uma alternativa para um consumo saudável e sustentável do ponto de vista social. As famílias usam o método de plantio orgânico. "A gente faz o plantio direto, tudo orgânico. Combatemos as pragas com homeopatia, óleo de nim, e outras coisas, por exemplo, como urina de vaca. Homeopatias naturais de ervas e homeopatias de insetos também", explica Júlio. 

 

FUNCIONAMENTO DA FEIRA - As feiras funcionam semanalmente toda quarta-feira, de 9h às 13h, com uma vasta opção de produtos, tais como quitandas, derivados de leite, hortifrútis, entre outros. Além da variedade, a agricultura familiar tem como carro-chefe a preocupação com a qualidade dos produtos. Júlio conta como faz para sempre trazer tudo o mais fresco: "O desafio maior hoje que a gente tem é conseguir trazer tudo o mais fresquinho possível. É o que dá mais trabalho, e é o que a gente tenta melhorar cada dia mais."