Com a temática “Tradução e Imaginários”, a 20ª edição do Fórum das Letras refletiu a multiplicidade de novos mundos e encontros invocados por meio da relação entre os dois termos. Baseando-se no conceito de tradução de Haroldo de Campos, o evento buscou recriar imaginários, trazendo uma programação com distintas manifestações, da oralidade aos quadrinhos, da ficção à poesias, e entre o corpo e o espírito.
A coordenadora do evento e professora do Departamento de Filosofia da UFOP, Guiomar de Grammont, definiu essa edição como uma das mais especiais em razão da diversidade de convidados e formas de existências. "Foi uma edição maravilhosa, justamente por causa da presença indígena e negra no evento e a presença também de tantos elementos e tantas culturas traduzidas em forma de gestos, elementos textuais, tapeçarias, música e sons", explica. Guiomar completou que a tradução foi apresentada de uma maneira muito ampla e como forma de expressão de uma cultura transposta para outra.
LITERATURA INFANTOJUVENIL - Como parte da programação do Fórum das Letras, a Biblioteca Municipal de Ouro Preto recebeu atividades direcionadas ao debate sobre leituras para o público infantojuvenil. A ação foi coordenada pela professora do Departamento de Letras (Delet) da UFOP, Rita Lages, e reuniu autores, estudantes e a comunidade em geral. O evento contou com a participação de Paulo Lins, poeta, romancista, roteirista de cinema e televisão e licenciado em Língua Portuguesa e Brasileira pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Flávia Helena, mestre em Teoria Literária pela Universidade de São Paulo (USP), autora de obras como "Um novo sol" e "A criação do novo mundo", escrita em parceria com Paulo Lins. A mesa-redonda foi mediada pela professora do Delet, Iva Bernardino Soares.
Durante o encontro, Rita Lages destacou a importância de refletir sobre a adaptação literária para o público infantojuvenil, de pensar sobre a leitura, a linguagem, o papel do autor e o processo de mediação entre livro, professor e aluno. A professora ressaltou que essas camadas são fundamentais para a construção de um diálogo entre a literatura e a formação do leitor.
Paulo Lins compartilhou sua trajetória como escritor, lembrando obras de grande impacto, como o romance Cidade de Deus (adaptado para o cinema e indicado a quatro categorias do Oscar), os roteiros dos filmes Faroeste Caboclo (2013) e Simonal (2018), além das séries Cidade dos Homens, Subúrbia e Carcereiros, da Rede Globo. Atualmente, o autor se dedica à literatura infantil, em parceria com a esposa Flávia Helena, com quem escreveu "A criação do novo mundo". O livro conta a história de Miguel e Luísa, dois amigos que ganham a oportunidade de criar um mundo próprio, enfrentando os desafios de lidar com as regras dessa nova realidade.
Segundo Lins, a inspiração para o projeto surgiu há dez anos. "No Parque Lage, no Rio de Janeiro, observando crianças brincarem, pensei em fazer um filme infantil leve, já que minhas criações eram sempre mais pesadas e violentas. Contei essa ideia à Flávia, que decidiu escrever o livro com sua perspectiva e o resultado foi essa nova história”, relatou.
INFÂNCIA E LEITURA - Flávia Helena destacou que ter sido leitora na infância influenciou sua produção literária. Admiradora das histórias de Monteiro Lobato, ela contou que sempre se imaginava dentro das aventuras de seus personagens. “A ideia de ´A criação do novo mundo´ vem de como as crianças podem conviver com seres da mitologia, como os livros podem nos transportar para outros universos. Essa publicação é a realização de um sonho de infância”, afirmou.
Entre o público presente estava a escritora Marcelle Machado, que recentemente lançou a coletânea de poesias "Silêncio", reunindo textos escritos desde 1996. Ela destacou a relevância do Fórum das Letras. “Ouvir sobre a importância da leitura desde a infância é essencial. O Brasil precisa de mais leitores e, consequentemente, de mais escritores. O Fórum proporciona esse contato, esse encontro de ideias e de pessoas que acreditam no poder transformador da literatura”, ressaltou.
Em uma das atividades do último dia da programação, os participantes seguiram para a Casa da Ópera, onde Paulo Lins se reuniu com o autor e romancista haitiano, Jean d'Amériques. Ambos declamaram poesias e Jean, que também é rapper, cantou para os participantes. A noite foi finalizada com a autora indígena macuxi, Sony Ferseck, que convidou os presentes para uma dança. Guiomar destacou que essa foi uma grande forma de celebração da mestiçagem entre culturas.
ENCERRAMENTO DA 20ª EDIÇÃO - O Fórum das Letras encerrou sua programação com uma visita guiada à Igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto. Guiomar conduziu os participantes na igreja apresentando os detalhes arquitetônicos e históricos.
Datada de meados de 1750, a estrutura da igreja é demarcada pela estética barroca, tendo como principais artistas Aleijadinho e Mestre Ataíde. Durante a visita, Guiomar destacou a importância dos dois artistas e as técnicas usadas para traduzir as crenças do catolicismo por meio da arte.
“Nós fizemos essa visita para rememorar Aleijadinho e Mestre Ataíde que eram artífices pardos e trabalharam no século XVIII. Foi uma homenagem a esses artistas que compuseram uma das obras-primas do barroco mineiro que é a Igreja São Francisco de Assis”, frisou.
Para além de oferecer um olhar sobre nomes de tamanha importância, o propósito da visita também era fazer os participantes vivenciarem a atmosfera da arte de Ouro Preto, mas pela perspectiva de uma cidadã ouro-pretana. Por isso, Guiomar foi escolhida.
FÓRUM DAS LETRAS - O tradicional evento é promovido pela UFOP desde 2005 como uma ação de integração cultural entre os artistas convidados e o público participante. Esta edição teve coordenação da professora Guiomar de Grammont, idealizadora e curadora do evento, coordenação executiva de Mônica Gama e Rita Lages, e equipe científica de Maria Rita Drumond Viana e Larissa Ceres Lagos. Participam ainda da organização Claudineia Guimarães, secretária do Programa de Pós-graduação da UFOP, e a estudante Laiza Cristina Gomes.