Quando abordamos o tema das diversidades que compõem a população brasileira, precisamos nos atentar para a proximidade e diferença da atitude que nos é demandada para o acolhimento e a busca por justiça. A universidade pública brasileira é uma instituição diversa, da mesma forma que toda a sociedade. No entanto, dentro das instituições, essa multiplicidade de perfis não segue necessariamente os mesmos padrões observados na população do país. Mesmo que tenhamos uma multiplicidade de configurações nas combinações entre gênero, identidade de gênero, sexualidade, afetividade, performance pública e etnia, as posições ocupadas no ensino superior ainda não expressam a inclusão de toda essa diversidade e multiplicidade existente na sociedade, principalmente nas funções de gestão, o que nos alerta para a busca permanente de valorização, com a inclusão da diversidade em todas as instâncias organizacionais das Instituições Federais de Ensino Superior.
As posições sociais são resultado de um processo histórico que condicionou os segmentos sociais, com o uso de privilégios ou a negação deles, com a criação de estereótipos e o cerceamento do acesso às condições de ascensão social. Uma das possibilidades mais potentes de movimentação nessa estrutura é o acesso à educação em todos os níveis. No que tange ao ensino superior, por muitos anos as universidades públicas foram reconhecidas como ambiente elitizado e com pouco acesso para as camadas mais baixas da população.
Trata-se de um desafio que precisa ser encarado e vencido por todos nós. A condição primeira para isso é a vontade de conhecer a complexidade desse universo, por meio, principalmente, do reconhecimento e superação dos preconceitos que acumulamos ao longo de nossas existências. Vencida essa fase, teremos mais condições de promover reformas profundas nas políticas públicas, de forma que as comunidades invisíveis emerjam protagonistas e que, quem sabe, possamos superar as barreiras que tanto travam nossos inconscientes.
Do ponto de vista pragmático, tal situação começou a se alterar, entre outros fatores, com a
Lei de Cotas (nº 12.711/2012). A partir de então, as instituições de ensino superior passaram a reservar metade de suas vagas para estudantes egressos de instituições públicas, além de manter incentivos para pessoas com deficiência (PCDs), pretos, pardos e indígenas.
Seja pelas políticas de ações afirmativas, pela ampliação das discussões na sociedade ou por outros fatores externos, a Universidade tem recebido em seu ambiente um número maior de pessoas que se identificam dentro do espectro da comunidade LGBTQIAPN+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis, queer/questionando, intersexo, assexuais/arromânticas/agênero, pansexuais/polissexuais, não-binárias e mais). A não aceitação dessas pessoas faz com que os próprios oprimidos tenham dificuldade de autoaceitação e, em outro viés, causa violências simbólicas e físicas — opressões combatidas com a celebração, neste 28 de junho, do Dia do Orgulho LGBTQIAPN+.
É nesse cenário que necessitamos nos movimentar no sentido do acolhimento das diferenças e de termos uma atitude de promoção da justiça social. A oportunidade de formação em uma instituição pública, como a UFOP, não pode estar condicionada aos padrões morais, ditados por outros segmentos da sociedade, mas, sim, deve ser norteada pela empatia e pelos parâmetros legais. Por esses e outros fatores, reconhecemos que a DIVERSIDADE em nossa Universidade é uma REALIDADE!
Acolher essas diferenças não é uma espécie de tolerância. Trata-se, na verdade, de compreendermos que todos temos características, posicionamentos e condições que nos diferenciam e que, ainda assim, podemos nos aproximar. Sendo empáticos, reconheceremos a capacidade e contribuição de cada perspectiva e avançaremos mais na busca de soluções para uma sociedade mais justa e igualitária. Portanto, seja pelo afeto empático ou pelo respeito às normativas, devemos nos nortear pelo RESPEITO!
Hermínio Nalini Junior - Vice-reitor no exercício da Reitoria