Ir para o conteúdo

UFOP rejeita adesão ao Future-se

Twitter icon
Facebook icon
Google icon
Mylena Gonçalves
Com: 
Chico Daher
O Conselho Universitário (Cuni), em assembleia extraordinária realizada nesta terça (20), aprovou o parecer redigido pela comissão especial formada por integrantes da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Ouro Preto (Adufop), do Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos da Universidade (Assufop) e do Diretório Central dos Estudantes (DCE) sobre a proposta do Ministério da Educação (MEC) intitulada "Programa Institutos e Universidades Empreendedoras e Inovadoras – Future-se".  

Na abertura dos trabalhos, a presidente do Conselho Universitário e reitora da UFOP, Cláudia Marliére, ponderou sobre o posicionamento de outras instituições federais (Ifes) acerca da proposta. De maneira geral, segundo ela, o quadro se mostra, até o momento, contrário à resolução, pois a maioria das declarações públicas feitas por reitores e conselhos universitários é contrária à proposta. Para Cláudia, o resultado e as possíveis consequências de uma não adesão ao programa reforçam a necessidade de se ampliar a discussão entre os campi da Universidade e em conjunto com a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior no Brasil (Andifes) e com a frente parlamentar da educação em defesa das universidades: "Precisamos pensar, juntos, como a Universidade deve ser gerida". Nesse sentido, ela ressalta que "nós é que devemos pautar o governo, e não o contrário".  

EIXOS – Indicando a insuficiência das propostas de regulamentação apresentadas às universidades, os integrantes da Comissão Especial analisaram seus impactos legais e políticos, enfatizando a garantia da autonomia das Ifes, bem como seu caráter público e gratuito. Representante da comissão, o professor, diretor do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (Icsa) e membro decano do Cuni, José Benedito Donadon Leal, historiou as atividades da comissão, que se reuniu nos dias 1º, 8 e 15 de agosto para analisar, em tempo exíguo, o que fora proposto pelo governo. Entretanto, em consonância com os posicionamentos de instituições como a Universidade de Brasília (UnB), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a comissão considerou inviável produzir um documento que ainda levasse em consideração as inconsistências jurídicas e inconstitucionais da proposta governamental.  

Assim, foi criada uma súmula simplificada em resposta aos três principais eixos apresentados pela proposta. No primeiro, "Gestão, Governança e Empreendedorismo", é proposto que, para empreender, a Universidade transfira sua gestão patrimonial e crie um fundo para financiamento, gerido pelo governo, o que fere a Constituição Federal de 1988, em seu art. 213, que veda a transferência do patrimônio público para instituições com fins lucrativos. Ainda neste sentido, a proposta fere também o art. 207, sobre gestão financeira, que veda às instituições a transferência de sua autonomia. Além disso, a gestão de recursos próprios é bem realizada em parcerias com fundações de apoio. Assim, a troca dessa gestão caracterizaria flagrante vício legal de quebra de princípios constitucionais.  

No eixo sobre "Pesquisa e Inovação", o governo não leva em consideração o fato de que a produção de ciência e tecnologia é um bem social, que impacta diretamente em melhorias da condição de vida em sociedade, e que esse conhecimento é utilizado pela indústria e outros setores sociais, não obrigatoriamente dando origem a produtos do mercado. 

Quanto ao terceiro e último eixo, "Internacionalização", a comissão considerou que as universidades já cumprem as alegadas novas propostas, e lembrou a implantação de programas de internacionalização feitos em anos anteriores pelo próprio Ministério da Educação: há a promoção de intercâmbio estudantil e docente, regulamentado e supervisionado por departamentos competentes.  

O professor Donadon defendeu que, "em um contexto onde as Ifes brasileiras conseguiram expandir suas vagas para os cursos de graduação e pós-graduação, impactando diretamente em ensino, pesquisa e extensão, conseguimos devolver, cada vez mais, resultados à sociedade. Esta é a função das universidades no mundo: criar condições para que a humanidade possa gerar riqueza". Ao defender a rejeição integral ao programa, ele reiterou que "não queremos apontar eixos de fragilidade, além das cláusulas inconstitucionais que entregam as Ifes à iniciativa privada, pois não queremos dar a entender que, alterando tais pontos, a UFOP atenderia à proposta, decretando o fim da autonomia das universidades”.  

ORÇAMENTO – Finalmente, antes de abrir as inscrições para que os conselheiros pudessem se manifestar perante à comissão, a presidente do Cuni e reitora, Cláudia Marliére, lembrou os presentes do bloqueio de 30% do orçamento das universidades. Segundo ela, "reitores de outras Ifes têm assumido problemas no segundo semestre de 2019. Estamos vendo, por enquanto, até onde conseguiremos seguir, mas não podemos aceitar que o governo diga que temos verba para outros bloqueios. Para nós, 30% significa menos 20 milhões no orçamento anual. Como professora e ex-aluna desta Universidade, ainda acredito que exista a possibilidade de retorno desse recurso, pois as ações junto ao governo têm sido pontuais. Podemos esperar até setembro, data-limite estabelecida pelo Ministério da Educação para que as universidades possam dar o retorno sobre a composição desse recurso. Gostaria de ressaltar a importância de uma nova reunião após essa data".  

PRÓXIMOS PASSOS – Cláudia Marliére ressaltou o trabalho consistente dos integrantes da Comissão, considerando o curto prazo de retorno estipulado pelo Ministério da Educação — ainda mais reduzido, levando-se em conta que a UFOP analisou a proposta em período de férias —, e falou sobre os desdobramentos do processo: "temos, por ora, alguns encaminhamentos. Vamos a Brasília nesta quinta-feira (22), para saber o que está sendo discutido em virtude das declarações manifestadas a partir das comissões instauradas e, também, a partir de contatos com a deputada federal Margarida Salomão, integrante da frente parlamentar em favor da educação e contra os cortes sofridos pelas universidades. [...] É preciso saber, também, o posicionamento do Ministério da Educação sobre a possibilidade de retorno dos recursos bloqueados a partir de setembro. Em Brasília, teremos as notícias dessa negociação, em curso com a Andifes e a frente parlamentar. [...] Contudo, se a resposta for negativa, precisaremos avaliar se teremos condições para seguir, normalmente, as atividades da Universidade. Quero acreditar que o governo vai repensar essa questão. São posicionamentos que precisamos acompanhar, discutir internamente e, se preciso for, produzir contrapropostas. Afinal, como estamos pensando a Universidade Pública? Qual a nossa contribuição para que esse patrimônio público permaneça existindo da forma que acreditamos que deva permanecer? Questionamentos assim podem direcionar uma autoavaliação, importante para a Universidade, e ainda mais para a sociedade brasileira". 
 

Veja também

30 Agosto 2024

Por meio da portaria Prace nº 211, de 30 de agosto de 2024, a UFOP estabelece a Comissão de Política...

Leia mais

30 Agosto 2024

As chapas dos candidatos que concorrem aos cargos de reitor(a) e vice-reitor(a) da UFOP divulgaram suas cartas-programa. Os documentos trazem...

Leia mais

30 Agosto 2024

Pode se inscrever qualquer pessoa jurídica, como empresa, associação ou outro setor cujo ramo de atividades seja compatível com a...

Leia mais

30 Agosto 2024

Em setembro, o Centro de Artes e Convenções da UFOP será palco de diversos eventos institucionais. A programação inclui, entre...

Leia mais