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Estudo na UFOP avalia composição e qualidade nutricional do grilo preto

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Lívia Ferreira
Com: 
Elis Cristina - Estagiária

Considerado nutritivo e sustentável por pesquisadores e empreendedores, o grilo preto (Gryllus assimilis) foi objeto de uma pesquisa na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). A dissertação do estudante Rafael Ribeiro Soares Araújo, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas (CBIOL/Nupeb), sob orientação do professor Marcelo Eustáquio Silva, avaliou a qualidade química e biológica da farinha do grilo suplementada com farelo de trigo e metionina (aminoácido), por meio da análise de parâmetros nutricionais e bioquímicos em ensaios com animais jovens. 

De acordo com o estudante, estimativas para as próximas décadas indicam que a indústria de alimentos precisará aumentar a produção de proteína animal para suprir a demanda por fontes proteicas. Os custos decorrentes desse aumento, conforme Rafael podem gerar impactos ambientais significativos. 

Nesse sentido, para alguns pesquisadores, tornou-se fundamental a identificação de fontes alimentares proteicas com baixo custo de produção e métodos alternativos, como o uso de insetos na alimentação de humanos e animais, a fim de suprir a crescente demanda por alimentos com alto conteúdo proteico e de produção sustentável. Essa alternativa sustentável é mencionada em um documento lançado em 2013 pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

Segundo dados da FAO, cerca de dois bilhões de pessoas em todo o mundo já suplementam suas dietas com insetos, que apresentam um elevado conteúdo de macro e micronutrientes. A prática é denominada entomofagia. 

A PESQUISA - Com o intuito de contribuir para esse novo cenário, o mestrando realizou ensaios biológicos para analisar a qualidade das fontes proteicas e a composição química do farelo do grilo preto criado no Brasil, bem como o efeito de sua suplementação com metionina e farelo de trigo (rico em metionina e baixo custo). Foram utilizados 72 ratos machos, da linhagem Fischer, recém-desmamados, com 21 a 23 dias de idade, provenientes do laboratório de Nutrição Experimental da Escola de Nutrição (Enut) da UFOP. Já os grilos, segundo Rafael, foram adquiridos da empresa Insetos Brasil – Alimentos Proteicos, localizada em Recife (PE), que comercializa os insetos para alimentação de pássaros e animais exóticos. 

Nos ensaios, os roedores foram alimentados com dietas isoproteicas e isocalóricas, contendo o farelo de grilo preto como única fonte de proteína. Além disso, uma dieta aproteica (livre de nitrogênio e isenta de proteínas) foi utilizada. Pela metodologia aplicada, os animais foram divididos em grupos. Cada grupo recebeu um tipo de alimentação: à base de caseína, isenta de proteínas, com farinha do grilo preto, com farinha do grilo preto e metionina, e com farinha do grilo preto adicionada ao farelo de trigo. Os animais foram acompanhados durante 14 dias. 

Em outro experimento, foram utilizados 32 animais e mantidas as divisões dos grupos experimentais, exceto o grupo da dieta aproteica, que foi excluído. Esses animais foram acompanhados por 28 dias. 
Foram observados o crescimento dos animais, o aproveitamento e o percentual de proteínas absorvidas pelo organismo, entre outros aspectos. 

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Lívia Ferreira
PROTEÍNAS - Os resultados obtidos na pesquisa mostram que a farinha do grilo é composta de 63,1% de proteínas, sendo considerada uma boa fonte proteica, e de 26,51% de lipídeos. O valor médio de minerais presentes na farinha de grilo constatado foi de 4,36%, e o de quitina e carboidratos foi de 6,01%. Segundo o pesquisador, é importante destacar que o grupo que utilizou a farinha do grilo suplementada com metionina teve um aumento de proteína de aproximadamente 207,69%. Já a farinha do grilo suplementada com farelo de trigo obteve a melhora de 86,54% em relação à dieta só com a farinha do grilo.

Segundo o pesquisador, esses resultados são mais expressivos ainda quando comparamos os grilos a alimentos básicos na alimentação brasileira como, por exemplo, o arroz (6,29%) e feijão (19,37%), respectivamente. 

Observou-se, portanto, que a farinha do grilo preto é um alimento com bom valor nutricional e com (elevado) valor proteico, embora de baixo valor bilogico, podendo ser incorporada à alimentação humana e animal. Um dos maiores entraves para que ocorra a expansão da utilização de insetos na alimentação é o fato de que esses animais ainda não foram incluídos na legislação alimentícia de alguns países, como o Brasil. 

Entretanto, no país, além das tradições de alguns grupos sociais que se alimentam de outros insetos, existem também startups que diversificam o mercado de alimentação por meio do uso da proteína de insetos na alimentação humana, utilizando farinhas proteicas, barrinhas de cereais e snacks a base da proteína de grilo. 

O estudo foi realizado nos laboratórios Multiusuário, Bromatologia e Nutrição Experimental, todos da Enut. Ao final dos experimentos, os animais foram anestesiados e eutanasiados. 

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