Após análises, testes e repetições de testes realizados em Carmópolis de Minas (MG), uma equipe da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) concluiu que cinco dos 83 casos notificados na cidade eram falso-positivos. O estudo foi realizado pelos professores da Escola de Farmácia Alexandre Reis e Wendel Coura Vital; pelos professores da Escola de Medicina Raimundo Marques e Carolina Ali; e pelo ex-aluno do curso e pesquisador-colaborador da Universidade Breno Bernardes.
A pesquisa, que nasceu após o estudo em Nepomuceno (MG), também tinha o objetivo de verificar a taxa de indivíduos com sorologia positiva para SARS-CoV-2. Entretanto, em Carmópolis, a pesquisa foi dividida em duas etapas.
ETAPAS - Na primeira etapa, foram visitados 400 domicílios na área urbana do município. Observou-se que 1,75% da população já foi exposta ao coronavírus, ou seja, já possui anticorpos, enquanto 98,25% ainda é vulnerável ao vírus. Segundo Breno, para cada caso notificado na cidade pode existir um caso não identificado, número bem diferente de Nepomuceno, onde os pesquisadores encontraram uma subnotificação mais alta, de um para 46. "O fato de Carmópolis ter investido na testagem em massa dos trabalhadores de logística explica a menor taxa de subnotificação, já que é este grupo que está interiorizando o vírus em Minas Gerais", explica Breno.
Já na segunda etapa, os pesquisadores realizaram a revisão dos 83 casos já notificados na área urbana do município, e concluíram que cinco casos eram falso-positivos. "Isto é extremamente perigoso, pois alguns destes pacientes enfraquecem as medidas de isolamento e diminuem o uso de máscara, acreditando que são imunes por já terem tido o novo coronavírus, enquanto, na verdade, nunca foram infectados".
FALSOS POSITIVOS - Segundo o professor da Escola de Farmácia da UFOP Alexandre Reis, os resultados falso-positivos ocorrem devido à rapidez com que os testes utilizados hoje tiveram que ser produzidos para atender a imediata demanda de diagnóstico.
O professor explica que diversos testes de diagnósticos trazem a proteína spike, presente em todos os vírus da família coronavírus — são oito no total, que já circulam há bastante tempo e causam pequenos resfriados. Uma parte das pessoas podem ter desenvolvido anticorpos, mas não é necessariamente para o SARS-CoV-2, vírus que causa a Covid-19.
A proteína spike faz ligações com os anticorpos IgM e IgG, presentes nas pessoas que já foram infectadas. "Muitos testes que estão sendo usados para detectar os dois anticorpos estão dando positivo para IgM, porém negativo para IgG. Quando isso ocorre é necessário repetirmos o teste, porque pode ser que esse IgM detectado não seja da Covid-19, mas de qualquer outro coronavírus que tem a mesma proteína que o SARS-CoV-2 possui", explica Alexandre.
Diversos estudos desenvolvidos durante a pandemia apontaram que outros peptídeos, que são pedaços de proteínas que fazem parte do vírus, só existem no Sars-CoV-2. Essas descobertas, segundo Alexandre, podem reduzir os falso-positivos, pois permitem a produção de testes que utilizam essas proteínas mais específicas, que só são encontradas no novo coronavírus.