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Mudanças climáticas e poucas áreas verdes favorecem expansão do mosquito Aedes em Ouro Preto e Mariana

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Thiago Barcelos
Um grupo de sete pesquisadores, dentre eles três da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) — Sérvio Pontes Ribeiro, Michelle Cristine Pedrosa e Maria Fernanda Almeida Brito —, e os outros da Universidade Estadual de Montes Claros, da Universidade Federal de Minas Gerais e da Fundação Ezequiel Dias, demonstrou que invernos mais quentes e poucas áreas verdes favorecem a expansão dos vetores de arboviroses, em destaque a dengue, nas regiões montanhosas de Minas Gerais. Esses aspectos resultaram no início e na expansão de casos de dengue em Ouro Preto e Mariana. 

Os pesquisadores avaliaram as temperaturas de inverno e verão em Minas Gerais ao longo de 53 anos, de 1961 até 2014, para entender o padrão de mudança de temperaturas médias na região. Isso porque a invasão das espécies de Aedes na década de 1980 e nos anos iniciais do século XXI ocorreu nos invernos mais quentes. A partir de 2007, também houve um período continuado de invernos quentes. De acordo com os dados das prefeituras, foi em 2007 o registro do primeiro caso de dengue em Ouro Preto. 

Os mosquitos do gênero Aedes ocorrem naturalmente nas florestas brasileiras, mas apenas duas espécies conseguiram se estabelecer nas cidades, Ae. aegypti e Ae. albopictus. Como as duas têm preferências distintas, entorno e dentro das residências e nas áreas arborizadas, respectivamente, as amostras para a pesquisa foram coletadas em locais que incluíram desde áreas totalmente arborizadas dentro das cidades até o centro densamente urbanizado. Foram organizadas coletas de ovos, larvas, pupas e mosquitos em Ouro Preto, cidade mais elevada, e em Mariana, cidade mais baixa e sem casos locais até aquele momento. 
 
AQUECIMENTO GLOBAL - Perceptível em Minas Gerais, o aumento nas temperaturas começou na década de 1980, chegando ao pico nos anos 1990 e 2000, com médias 1,3 graus centígrados mais quentes que nos anos 1960, segundo o estudo. As temperaturas médias de inverno subiram mais, diminuindo a amplitude térmica sazonal, com diferença menor que 10% a partir de 1990 para a maioria dos anos. 

Estudos dizem que a invasão do Aedes é possível quando ocorrem temperaturas acima de 21.3 graus centígrados por um certo número de dias consecutivos. Abaixo disso, ele não consegue estabelecer uma população viável. A partir de 2007, os invernos permaneceram constantemente mais quentes, estando acima desse valor por vários dias consecutivos, o que criou a condição ecológica favorável para que os mosquitos proliferassem. Entretanto, a dengue só se estabeleceu nos dois municípios cinco anos depois, detalhe importante para estudos sobre a dengue em outras regiões que tiveram aumento nas temperaturas anuais, em especial as de inverno. 
 

aedes_img.png

Guilherme Antunes de Souza 2020
Distribuição dos mosquitos mostra prevalência da dengue em área urbana
 

ÁREAS VERDES COMO PROTEÇÃO - Por muito tempo as áreas verdes próximas às cidades foram equivocadamente associadas à incidência de doenças tropicais. Atualmente, pesquisas apontam que as doenças tropicais, como a dengue, estão associadas ao descaso com terrenos baldios, à falta de saneamento básico e ao acúmulo de lixo. Já as áreas verdes, quando bem cuidadas e manejadas e limpas, são desfavoráveis às diversas doenças, pois favorecerem espécies competitivas benéficas e predadores dos vetores de doença. 

Com a dengue, segundo os pesquisadores, essa realidade é ainda mais evidente, pois o Ae. aegypti, mosquito que transmite a doença, tem pouca afinidade com áreas verdes mas é extremamente bem adaptado ao interior das residências. Já a outra espécie, o Ae. albopictus, mais bem adaptada para viver em áreas de florestas e parques urbanos, nunca foi registrado como vetor da dengue no Brasil. 

Os pesquisadores usaram as duas espécies para entender o papel das áreas verdes na invasão de Aedes em Mariana e Ouro Preto. Como esperado, o Ae. aegypti foi favorecido por áreas urbanas adensadas e com pouca cobertura vegetal, enquanto o Ae. albopictus, que não transmite a dengue, estava presente em áreas mais verdes e abertas. Ou seja, a distribuição bem definida das duas espécies pode exercer forte competição contra o Ae. aegypti em áreas verdes, o que pode contribuir para a diminuição dos casos de dengue em uma cidade com boa distribuição de parques, praças e jardins, desde que a limpeza urbana seja exemplar. 

Artigo referente à pesquisa foi publicado no Journal of Medical Entomology. Acesse pelo linkonde podem ser conferidos todos os autores da pesquisa. 

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