"A sociabilidade do Jardim de Mariana-MG: distintas formas de experiência da Praça Gomes Freire" é o título da dissertação defendida por Filipe Barboza, agora mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) da UFOP. O trabalho, defendido no dia 12 de abril, discorre sobre a compreensão de um espaço público conhecido e muito frequentado na cidade de Mariana. Além de ser um dos principais espaços da cidade, o Jardim recebe os diferentes grupos em vários tipos de eventos e é, para a maioria dos adolescentes marianenses, o principal local de sociabilidade.
O pesquisador conta que esses encontros acontecem desde sempre e que, no início dos anos 2000, "era neste local, mais recorrentemente nas noites de domingo, que muitos jovens da cidade — dos bairros centrais aos periféricos — conheciam as possibilidades de interação da vida fora de casa". O que chamou a atenção e motivou a pesquisa foi a percepção das diferentes apropriações e tensões encontradas ali: "por que certas pessoas caminhavam por um lado, enquanto outras por outro? Por que grupos se apropriavam de determinadas áreas e por ali ficavam na maior parte do tempo? Por que aquele meu colega não gostava de circular onde o meu outro amigo costumava ficar?"
A busca por essas respostas ganhou uma nova dimensão quando Filipe se atentou para as notícias sobre o Jardim através da imprensa atuante em Mariana, e seu trabalho buscou tratar a sociabilidade da praça pelo viés da comunicação. "Desse mundo das construções textuais, me chamaram a atenção algumas reportagens de teor policialesco, que enquadravam o Jardim de forma alarmante, quase como um espaço a ser evitado pela população", comenta.
Para o desenvolvimento do estudo, o pesquisador, que é marianense, contou com suas lembranças pessoais, relatos de terceiros, leituras midiáticas e inspirações acadêmicas. "Todo esse processo, que ocorreu de forma lenta e gradual dentro do mestrado, não foi dado mediante uma fórmula preconcebida, mas, sim, como um desafio ligado a novas possibilidades analíticas", explica Filipe.
Os resultados e discussões da pesquisa, que buscou responder a pergunta "Como distintas formas de experiência em torno da sociabilidade do Jardim, construídas historicamente, jornalisticamente e pelos próprios frequentadores da Praça, podem levar a uma compreensão desse espaço público e, em consequência, da cidade de Mariana?" apontam que, entre tantas outras coisas, há inúmeras representações negativas e tradicionais, mas fica claro que o Jardim é um local de resistência. As influências de instituições civis, culturais e religiosas, disputas políticas, sociais e espaciais denotam as evidências da relação entre o Jardim e o município de Mariana, e deixam claras "as diferenças de classe que, histórica, jornalística e cotidianamente marcam quem tem ou não autoridade para se apropriar de determinada área da Praça".
Orientador da dissertação e professor do PPGCOM, Frederico Tavares comenta que, para além das questões acadêmicas, o trabalho representa a importância da Universidade e, por ser um trabalho sobre Mariana, desenvolvido em Mariana, traz questões que nos ajudam a pensar o futuro da cidade e perceber as desigualdades e desafios. "Esse trabalho me ajudou a conhecer mais a cidade e perceber o quanto a Universidade tem a contribuir", concluiu.
Compuseram a banca, além do orientador, os professores Hila Rodrigues (UFOP) e Elton Antunes (UFMG).