Criado por Patrícia Pereira em sab, 22/09/2018 - 15:58 | Editado por Patrícia Pereira há 6 anos.
O projeto sobre "a deposição e caracterização de revestimentos de hidroxiapatita com incorporação de nanoestruturas" liderado pelas professoras do Departamento de Física da Universidade Federal de Ouro Preto, Jaqueline dos Santos Soares e Taise Manhabosco, desenvolve uma pesquisa cujo resultado final pode melhorar a vida de pessoas que necessitam de próteses ortopédica e dentária, tornando-as mais baratas, duráveis e resistentes. Isso porque a matéria-prima utilizada pelas pesquisadoras é um material barato, abundante e bem conhecido na Região dos Inconfidentes pelo artesanato que produz: a pedra-sabão.
A pesquisa utiliza o talco (pó) produzido pela pedra-sabão incorporado à hidroxiapatita — material semelhante ao osso e utilizado para revestir implantes —, a fim de tornar as próteses ortopédicas e dentárias mais resistentes, aumentando a sua durabilidade sem causar danos ao organismo.
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Mais barato e resistente - De acordo com Taise, a escolha do talco da pedra-sabão surgiu quando um grupo da UFMG, coordenado pelo Professor Bernardo Ruegger Almeida Neves, começou a trabalhar com esse material em 2015. Segundo ela, a hidroxiapatita continua sendo utilizada, mas apresenta um problema, sua fragilidade. "Fragilidade não é baixa resistência mecânica, significa a peça poder quebrar sem ter deformação plástica. Então, a gente procura melhorá-la, incorporando outros nanomateriais", explica a pesquisadora, completando que, com o aumento da expectativa de vida da população, há necessidade de melhorias que atendam a população idosa e mais necessitada. "A gente procura melhorar a qualidade desse biomaterial, tendo um material mais barato, para garantir assim o acesso mais fácil da população", explica.
A estudante de mestrado em Física de Materiais, Ana Bárbara Batista, é responsável pela incorporação do talco da pedra-sabão à hidroxiapatita, depositado em discos de titânio. O objetivo é testar a biocompatibilidade do material no corpo humano a fim de concluir se é compatível ao organismo ou provoca reações adversas, para assim promover melhorias.
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Ana Bárbara considera a pesquisa de grande relevância social, visto que o estudo pode contribuir para uma melhoria na rotina de quem precisa de uma prótese. "Eu mesma tenho pessoas na família que precisam de próteses, e essa prótese melhoraria as propriedades mecânicas para uma vida mais saudável, para fazer as atividades rotineiras sem dor e sem que a prótese precise ser trocada pelo desgaste".
As primeiras etapas da pesquisa já foram concluídas. De acordo com Jaqueline, especialista em nanotecnologia e doutora em Física pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), "a parte da raspagem da pedra já foi testada. A gente precisa raspar a pedra-sabão e passar por uma peneira, porque precisamos de grãos bem pequenos. Então, a parte de produzir o pó da pedra-sabão já foi concluída. Agora vamos esfoliar, ou seja, separar as monocamadas da pedra, igual fazemos com o grafeno (material que também foi utilizado na pesquisa para ser incorporado à hidroxiapatita)".
Nos três anos de pesquisa, os trabalhos caminharam a passos lentos. Um dos motivos é o fato de o grupo de pesquisadores precisar se deslocar até a UFMG, onde estão os laboratórios específicos, para o avanço dos testes com o pó e a hidroxiapatita.
Prêmio "Mulheres na Ciência" - No mês passado, por causa dessa pesquisa, Jaqueline recebeu o Prêmio L’Oréal-Unesco-ABC Para Mulheres na Ciência 2018, na categoria Física. A premiação é uma parceria da L’Oréal Brasil com a UNESCO no Brasil e a Academia Brasileira de Ciências (ABC).
A pesquisadora considera o prêmio de suma importância para o projeto de pesquisa liderado principalmente por mulheres da área de exatas e ressalta a necessidade de incentivar mais mulheres a se tornarem pesquisadoras. Além disso, ela destaca a importância da física aplicada para a sociedade e a conquista do prêmio como fatores fundamentais para gerar maior visibilidade e investimentos na pesquisa e nos programas de pós-graduação da área.
Docentes que também compõem a equipe da pesquisa: Alan Barros Oliveira, Ana Paula Moreira Barboza, Marco Cariglia, Matheus J. S. Matos, Ronaldo. J. C. Batista; e ainda os estudantes Ana Bárbara Batista, Ana Carolina Ferreira de Brito, José Agenor Carvalho Júnior e Thiago Rodrigo Gomes da Silva, e ex-alunos (primeiros alunos do projeto): Laureana Moreira Mota e Daniel Nilson Nunes Nicomedes.
Veja o vídeo do projeto.
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