O trabalho "Exilados na Pátria: o tratamento de alienados no Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, 1903-1979" analisa o discurso denunciativo sobre o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena (CHPB) por meio da análise dos procedimentos do hospital, como a atuação dos trabalhadores do local e o percurso dos enfermos para Barbacena, no período de 1903 a 1979. A pesquisa foi realizada pelo estudante do Programa de Pós-Graduação em História (PPGHIS) da UFOP, Elizeu Assis.
A data escolhida para início da análise marca a instalação da Assistência a Alienados do Estado de Minas Gerais, que vai até 1979, quando aconteceu o III Congresso Mineiro de Psiquiatria. O trabalho se baseia na análise de 108 livros de matrícula dos doentes e parte das narrativas que nomearam o CHPB de "Sucursal do Inferno", "Campo de Concentração Nazista", "Porões da Loucura" e "Holocausto Brasileiro". A tese investiga quem eram os internados no hospital, como a sociedade brasileira lidou com as pessoas consideradas loucas, e como o local se relacionava com outros estabelecimentos de tratamento da loucura do Estado e com a Assistência a Alienados do Estado de Minas Gerais.
A pesquisa apresenta dados que mostram que, de 1903 até 1979, o CHPB recebeu um total de 91.905 pacientes e, desses internos, foram registradas 117.061 movimentações, com uma média de seis internações ou reinternações psiquiátricas por dia. Os dados foram analisados de acordo com a Classificação Brasileira das Doenças Mentais de 1948, conjugada com a Classificação Diagnóstica de Emil Kraepelin, que dividia os pacientes em: Psicoses por Infecções e por Infestações; Psicoses Devidas à Sífilis; Psicoses Exotóxicas; Psicoses Endotóxicas; Psicoses por Lesões Cerebrais; Oligofrenias; Epilepsia; Esquizofrenia; Psicoses Maníaco-Depressivas; Psicoses Mistas e Associadas; Psicoses Psicogênicas; Neuroses; Personalidades Psicopáticas e 0SR - Sem Registro.
Elizeu explica que "tendo como referência o número de registro dos pacientes, os dados foram sistematizados e processados por meio da ferramenta de equacionamentos matriciais do programa MatLab, analisando-se as categorias: ano de entrada do paciente; gênero; cor; diagnóstico, estado civil; idade; ano de saída; tempo de internação e mortes. No caso dos livros de matrícula de mulheres indigentes, levaram-se também em conta as anotações sobre os nascimentos e óbitos de crianças ocorridos durante as internações".
Um dado ainda não revelado em nenhum outro estudo, segundo o pesquisador, foi o nascimento de crianças no CHPB, no total de 465 (0,35%). Destas, 230 (49%) vieram a óbito e 235 (51%) foram retiradas do CHPB por familiares, levadas para instituições ou adotadas, conforme prescrevia o art. 114 do Decreto nº 6169, de 31 de agosto de 1922, que estabelecia a entrega das crianças nascidas nos estabelecimentos da assistência às respectivas famílias.
Elizeu destaca que a importância da Universidade no desenvolvimento da tese. "O objeto estudado foi abordado por diversos áreas do conhecimento: jornalismo, psicologia, filosofia, etc., contudo, as respostas às questões dessa pesquisa não podiam ser formuladas a partir de doutrinas em que a interpretação subjetiva e o anacronismo pudessem contaminar as informações advindas do campo, como evidências que se constroem a partir de esforços comuns. Nisso está a generosidade do historiador e da história, em abrir mão de suas posições e convicções pessoais, crenças e formações ideológicas, para ater-se às fontes resgatadas ao longo de seu trabalho e delas extrair material para sua obra. Foi esse o esforço empenhado e foi essa a contribuição do curso de História da UFOP", ressalta.
A pesquisa teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UFOP e do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), além de apoio do Núcleo de Ensino e Pesquisa (NEP) do CHPB da Rede Fhemig.