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Estudo compara atuação de Manaus no enfrentamento da Gripe Espanhola e da Covid-19

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NPG
Com: 
Rondon Marques
Pesquisadores realizaram estudo comparativo da suscetibilidade da cidade de Manaus (AM) em dois momentos pandêmicos distintos, no intervalo de um século: o primeiro, durante a Gripe Espanhola, e o segundo, durante a pandemia de SARS-CoV-2. O artigo traz à tona políticas públicas adotadas no enfrentamento às epidemias.
 
A vulnerabilidade sanitária e os problemas políticos de 1918 se repetem na atualidade. No século passado, Manaus encontrava-se extremamente vulnerável do ponto de vista sanitário, o que ocasionou um colapso do sistema de saúde, levando 10% da população a óbito em quatro meses. Naquele período, a falta de informação (ocultada pela propaganda de guerra) e o negacionismo político teriam ocasionado uma segunda onda da doença ainda mais letal. Atualmente, a história se repete e a Covid-19 leva a óbito mais de meio milhão de brasileiros, que correspondem a mais de 0,25% da sua população, de cerca de 210 milhões.
 
O estudo aponta inúmeras irregularidades cometidas e adversidades enfrentadas pelo poder político em relação às medidas sanitárias. Além disso, revela dados que indicam o impacto da adesão ou não às medidas de distanciamento social, evidenciando que, em casos como o de Manaus, mais recentemente, quando há pouca ou nenhuma restrição à circulação de pessoas, a propagação da doença tende a ser mais longa do que a estimada, podendo alcançar 700 dias.
 
O padrão negacionista atual, semelhante ao anterior, teria feito com que famílias e jovens não estivessem dispostos a se isolar durante as comemorações do Natal e do ano Ano Novo em 2020. Em Manaus, o pior colapso da saúde pública aconteceu exatamente duas semanas após as comemorações do Réveillon. Isso também coincidiu com o surgimento de uma nova cepa mais virulenta do SARS-CoV-2 de forma isolada no estado do Amazonas, a Gama. Desde então, o número diário de casos encontra-se acima da média, quando comparado a todo o período pandêmico anterior, e tem sido relatado um crescente número de hospitalizações de pacientes menores de 60 anos.
 
As mutações nas cepas podem surgir se um grande número de hospedeiros suscetíveis for constantemente disponibilizado durante o surgimento de uma doença, conforme previsto cientificamente. Negligenciar o distanciamento social, em meio a uma pandemia, pode ser a força motriz para o aumento das taxas de mortalidade, favorecendo cepas mais letais ou mais transmissíveis, antes mesmo do surgimento de cepas que tenham alta transmissibilidade com baixa letalidade.
 
EVOLUÇÃO NATURAL DO VÍRUS - O grupo de pesquisa investigou essa situação simulando a evolução natural da Covid-19 em uma cidade que não adota precauções, mas na qual parte dos indivíduos mantêm o isolamento. Foi proposto um modelo matemático que explica as condições necessárias para o surgimento de uma segunda onda mais letal. Além disso, o modelo foi capaz de prever o tempo necessário para o fim da epidemia local. O modelo descreveu que a pandemia de Covid-19 teria uma longa duração, com uma segunda onda inevitável e pelo menos tão forte quanto a primeira. Além disso, novas ondas contínuas, embora gradualmente mais fracas, ocorreriam ao longo do tempo.
 
Assim, a adoção de pouco isolamento e a ausência de restrições de viagem e de uma vacinação rápida levariam a doença a prevalecer por até 700 dias antes de se tornar incapaz de produzir novas ondas de surto relevantes. Além disso, de acordo com o estudo, até que a doença desaparecesse espontaneamente, com baixas taxas de mortalidade, a cidade acumularia um número de óbitos próximo a 20% de sua população.
 
MEDIDAS NECESSÁRIAS - A catástrofe humanitária de Manaus e sua interconexão com as comunidades indígenas continua sendo a principal preocupação. A restrição severa de voos e barcos fluviais, especialmente de Manaus para o interior dos estados do Amazonas e do Pará, é essencial para impedir a disseminação das novas variantes.
 
Meses após o primeiro colapso de 2020, sugeriu-se que a população de Manaus pudesse ter atingido a imunidade de rebanho, mas isso não impediu uma segunda onda ainda mais forte. Os autores do estudo argumentam que é impossível determinar, em processos de infecção natural, quantas pessoas, dentre aquelas com doença moderada ou assintomática, estavam protegidas por terem produzido memória imunológica ou por serem simplesmente resistentes.
 
Enquanto isso, a vacinação no Brasil segue um caminho incerto, e os cientistas brasileiros continuam alertando a sociedade e os governos para que promovam um sério distanciamento social.
 
A pesquisa foi desenvolvida pelos professores Sérvio Pontes Ribeiro, Alexandre Barbosa Reis, Alcides Volpato Carneiro de Castro e Silva, e Wendel Coura-Vital, todos da UFOP; pelo doutorando Eduardo Augusto Gonçalves Barbosa, do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG), pelo professor Wesley Dáttilo, do Instituto de Ecología A. C. (México), e pelos professores Aristóteles Góes-Neto, Vasco Ariston de Carvalho Azevedo e Geraldo Wilson Fernandes, todos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
 

 

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